sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Percurso de vida

Percurso de vida

Já lá vai distante o tempo
O tempo em que eu nasci
Numa família numerosa
Poucos olhavam por mim.
Fui crescendo
Andei descalço
Calcorreei montes e vales
Fui pastor, fui lavrador
Fui criada de servir
Fui criança sem o ser
Pois precisava trabalhar
Pra poder sobreviver
Mas sempre soube sorrir!
Nos invernos rigorosos
Calquei gelo, calquei neve
andei à chuva
Passei frio,
era fraco o agasalho!
Fui moço de fretes
Ou outras coisas que tais
Mas sempre me preocupei
com a vida dos meus pais.
Pela escola passei
Num passo acelerado
Pois na época era importante
Ser pastor, guardar o gado.
O gado de onde vinha
O sustento para a casa
E aprender a ler
Não era coisa estimada.
Se se era rapariga
Pior era a situação
Ser criada de servir
Era sempre uma solução.
Ir à escola para quê?
Mulher disso não precisava
Tinha de cuidar da casa
E na costura trabalhava.
Casar novo era então
Muitas vezes a solução
Construir família
E deixar a casa do patrão.
Tempos difíceis foram esses
E de muitas gerações
Que fizeram grandes homens
Que hoje, são para os mais novos lições!
Neste percurso de vida
cada um é uma lição
dum livro não completo
onde com imaginação
escrevemos um passado
que para muitos é recordação.
Felizes de vós
Que podeis recordar
Os tempos que já lá vão
 E tendes para vos cuidar
O Lar essa bela instituição!
Se de novo não partimos
E à velhice chegamos
Que sejamos bafejados
Pelo carinho dos que amamos!

Graça Moniz, 27 de Janeiro de 2016

Poema lido no Encontro Anual de Idosos que se realiza no âmbito do Projecto Leitura de Memórias e Bibliotecas com a Terceira Idade

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Centenário do nascimento de Vergílio Ferreira

Vergílio Ferreira por Dorindo Carvalho, 1993
Vergílio Ferreira é um dos mais importantes escritores portugueses revelados a partir da década de 40 do século XX, nasceu há cem anos, que se completam hoje, dia 28 de Janeiro.

Vergílio Ferreira nasceu a 28 de Janeiro de 1916, em Melo, uma pequena aldeia do Concelho de Gouveia. Os pais emigraram para os Estados Unidos e Vergílio passa a maior parte da sua infância com as tias maternas. 

Em 1926, com 10 anos, entra no Seminário do Fundão, onde esteve durante 6 anos. Experiência que lhe deixou marcas profundas e que ficcionou mais tarde em Manhã Submersa (1953).

Depois de deixar o Seminário, termina os estudos liceais na Guarda em 1935, e no ano seguinte ingressa na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, em Filologia Clássica, concluindo a sua licenciatura em 1940. Estagiou no Liceu D. João III, em Coimbra e leccionou em Faro, Bragança, no liceu de Évora e no Liceu Camões em Lisboa, onde ficou até à sua reforma.

A estreia literária de Vergílio Ferreira acontece em 1939 com a escrita da obra O caminho fica longe

Durante os anos que viveu e leccionou em Évora, Vergílio Ferreira publicou diversos livros: Vagão J. (1946); Mudança (1948); A face sangrenta (1953); Cântico Final (1956), entre outros.

Em 1959 publica Aparição, romance que lhe valeu no ano seguinte a atribuição do Prémio Camilo Castelo Branco da Sociedade Portuguesa de Escritores.

Alegria breve, publicado em 1965, valeu ao autor a atribuição do Prémio da Casa da Imprensa.

Em 1981 Vergílio Ferreira aposenta-se da função de professor de ensino secundário. Inicia-se nesse ano a publicação da série Conta-Corrente, que chegaria ao fim em 1994, com a publicação do nono volume. Conta-Corrente é um diário com textos do autor que abarcam o período de Fevereiro de 1969 a Dezembro de 1992. 

Em 1984 Vergílio Ferreira é eleito para a Academia Brasileira de Letras.

Em 1988 publica o ensaio Arte Tempo e é galardoado pela Associação Portuguesa de Escritores com o Grande Prémio de Romance e Novela pelo romance Até ao fim.

Em 1991 é lhe atribuído o Prémio Europália pelo conjunto da sua obra literária e em 1992 é eleito para a Academia das Ciências de Lisboa. Recebe também nesse ano o Prémio Camões.

Em 1993 para assinalar os 50 anos de actividade literária do escritor realiza-se na Faculdade de Letras do Porto um Colóquio sobre Vergílio Ferreira e é apresentada uma edição especial de Para Sempre, com ilustrações de Júlio Resende.

Vergílio Ferreira morreu em Lisboa no dia 2 de Março de 1996, aos 80 anos e em plena actividade criadora.

Autor de uma vasta obra no campo da ficção e ensaios, Vergílio Ferreira foi um autodidacta na escrita. Inicialmente ligado ao Neo-realismo, acabou por se desligar desse movimento literário, evoluindo a sua obra ficcional no sentido de uma temática existencialista e de um humanismo trágico. No campo do ensaio os textos de Vergílio Ferreira traduzem para além da interrogação filosófica sobre o destino do homem, uma reflexão sobre os problemas da arte e da civilização europeias.


Aceda ao catálogo concelhio para saber quais os livros do autor disponíveis na rede de Bibliotecas de Arganil.

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terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Novidade na Biblioteca: O amante japonês de Isabel Allende


Em 1939, quando a Polónia capitula sob o jugo dos nazis, os pais da jovem Alma Belasco enviam-na para casa dos tios, uma opulenta mansão em São Francisco. Aí, Alma conhece Ichimei Fukuda, o filho do jardineiro japonês da casa. Entre os dois brota um romance ingénuo, mas os jovens amantes são forçados a separar-se quando, na sequência do ataque a Pearl Harbor, Ichimei e a família – como milhares de outros nipo-americanos – são declarados inimigos e enviados para campos de internamento. Alma e Ichimei voltarão a encontrar-se ao longo dos anos, mas o seu amor permanece condenado aos olhos do mundo.

Décadas mais tarde, Alma prepara-se para se despedir de uma vida emocionante. Instala-se na Lark House, um excêntrico lar de idosos, onde conhece Irina Bazili, uma jovem funcionária com um passado igualmente turbulento. Irina torna-se amiga do neto de Alma, Seth, e juntos irão descobrir a verdade sobre uma paixão extraordinária que perdurou por quase setenta anos.

Em O amante japonês, Isabel Allende regressa ao estilo que tanto entusiasma o seu público, relatando de forma soberba uma história de amor que sobrevive às rugas do tempo e atravessa gerações e continentes.

Fonte: contracapa do livro
Excerto:

“Alma Belasco despertou-lhe a atenção desde o primeiro instante. Destacava-se das outras mulheres por causa do seu porte aristocrático e do campo magnético que a isolava do resto dos mortais. Lupita Farías garantia que Belasco não encaixava na Lark House, que ia ficar por muito pouco tempo e que a qualquer momento a viria buscar o mesmo motorista que a trouxera ali num Mercedes Benz. Mas os meses foram passando sem que tal acontecesse. Irina limitava-se a observar Alma Belasco de longe, porque Hans Voigt lhe ordenara que se concentrasse nas suas obrigações para com as pessoas dos segundo e terceiro níveis, sem se distrair com os independentes. Ela já estava bastante ocupada a atender os seus clientes – não se chamavam pacientes – e a aprender os pormenores do seu novo emprego. Parte da sua formação consistia em estudar os vídeos dos funerais recentes: uma judia budista e um agnóstico arrependido. Por seu lado, Alma Belasco não teria prestado atenção a Irina, se as circunstâncias não a tivessem convertido em pouco tempo na pessoa mais polémica da comunidade."

Livro disponível para empréstimo na Biblioteca Municipal de Arganil.

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quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Prémio Vergílio Ferreira atribuído a João de Melo

O Prémio Vergílio Ferreira, instituído pela Universidade de Évora em 1997, destina-se a galardoar anualmente o conjunto da obra literária de um autor de língua portuguesa, relevante no âmbito da narrativa e/ou ensaio. Este prémio é entregue a 1 de Março, no mesmo dia em que se assinala o aniversário da morte do seu patrono e autor de 'Aparição'.


O escolhido para a atribuição do 20º galardão do Prémio Vergílio Ferreira é o escritor açoriano João de Melo. O júri deliberou atribuir-lhe o prémio por considerar que a sua obra ficcional é "reveladora de um imaginário transfigurador poderoso", o que faz da sua obra "uma das mais relevantes da sua geração".


Nota biográfica:


João de Melo nasceu nos Açores, em 1949. Aos 11 anos, deixa a sua ilha natal para prosseguir os estudos no continente, como aluno interno do Seminário dos Dominicanos, onde permanece entre 1960 e 1967. Abandonado o seminário, passa a viver em Lisboa, prosseguindo os estudos enquanto trabalha e iniciando colaborações na imprensa escrita. É, aliás, num jornal, o Diário Popular, que publica o seu primeiro conto, aos 18 anos. A partir de então publicará contos, crítica literária e poemas em diversos periódicos de Lisboa e dos Açores, integrando-se na geração literária que, sediada em Angra do Heroísmo - e ligada ao suplemento literário do jornal A União - renovou a literatura açoriana contemporânea. 

A incorporação no exército, com o posto de furriel e a especialidade de enfermeiro, em 1970, e a posterior ida para Angola, onde permaneceu 27 meses numa zona de guerra, marcá-lo-ão em termos pessoais e literários, sendo tema de vários livros seus, de que se destaca, na ficção, Autópsia de Um Mar de Ruínas, romance que é uma referência na literatura portuguesa sobre a guerra colonial. 

Já após a revolução de Abril de 1974, João de Melo licencia-se em Filologia Românica pela Faculdade de Letras de Lisboa, mantendo sempre colaboração em diversas revistas literárias (Colóquio-Letras, Vértice e, mais tarde, Sílex, Ler, etc.). No início da década de 80, torna-se professor do ensino secundário, actividade em que reparte até hoje o seu tempo com a escrita literária.

Fonte: www.wook.pt

Livros do autor disponíveis na Rede de Bibliotecas do Concelho de Arganil:
  • Entre pássaro e anjo. 3ª ed. Lisboa : Dom Quixote, 1993. 200, [3] p. ISBN 972-20-0774-2
  • Gente feliz com lágrimas. 9ª ed. Lisboa : Dom Quixote, 1992. 486 p. ISBN 972-20-0033-0
  • O meu mundo não é deste reino. 1ª ed. Lisboa : Dom Quixote, 1987. 244 p.
  • Autópsia de um Mar de Ruínas. Lisboa : Assírio & Alvim, 1984. 264, [4] p.
  • Toda e Qualquer Escrita. Lisboa : Vega, 1982. 224, [4] p.
  • Antologia Panorâmica do Conto Açoriano. Lisboa : Vega, 1978. 271, [4] p.
  • O Homem Suspenso. [Lisboa] : Círculo de Leitores, 1996. 217 p. ISBN 972-42-1448-6
Para saber mais consulte:



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quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Biblioteca Digital Mundial


A World Digital Library (WDL) (Biblioteca Digital Mundial em português) é uma biblioteca digital projetada pela Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos da América e pela UNESCO em parceria com mais 31 outras instituições de vários países.

A Biblioteca Digital Mundial disponibiliza na Internet, gratuitamente e em formato multilingue, importantes fontes provenientes de países e culturas de todo o mundo.

Os principais objetivos da Biblioteca Digital Mundial são:
  • Promover a compreensão internacional e intercultural;

  • Expandir o volume e a variedade de conteúdo cultural na Internet;

  • Fornecer recursos para educadores, académicos e o público em geral;

  • Desenvolver capacidades em instituições parceiras, a fim de reduzir a lacuna digital dentro dos e entre os países.

Visite a Biblioteca Digital Mundial e explore este valioso recurso.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Novidade na Biblioteca: Os caçadores de livros de Raphael Jerusalmy


No final da Idade Média, pouco depois da invenção da prensa de Gutenberg, uma misteriosa conspiração tenta vencer o obscurantismo da Igreja Católica, difundir a liberdde de pensamento e contrariar os limites da Inquisição.

Bandido, poeta e espírito livre, François Villon apodrece nos cárceres à espera da execução. Quando recebe a visita de um emissário do rei francês, está longe de esperar mais do que uma última refeição. No entanto, aceita uma missão secreta para recuperar uns manuscritos escondidos em Jerusalém, incluindo o alegado testamento de Jesus.

Antes, porém, tem de convencer um destacado impressor a instalar-se em Paris para facilitar a circulação das ideias progressistas reprovadas por Roma. Trata-se de um primeiro passo num caminho difícil que o levará, juntamente com Mestre Colin, o fiel acólito e salteador, ao submundo da Terra Santa, onde impera um complicado jogo de alianças, conspirações e contra conspirações.

Intenso como um romance de aventuras, vivo e astucioso como uma farsa que brinca com a história das ideias, repleto de mistérios e peripécias, Os caçadores de livros combina a narrativa e a sátira de Cervantes e o suspense de Umberto Eco.

Fonte: badana do livro

Excerto

“(…) Chartier pois de novo o copo e despede-se bruscamente. A sua túnica flutua por um momento na moldura da porta antes de ser aspirada pela penumbra. Villon julga ter sonhado. Com que então, irá escapar à força? Poderá fiar-se na palavra de um intriguista de sacristia? Tem de se manter em guarda. Mas, por um repasto tão copioso, vale bem a pena pactuar com o diabo em pessoa.
Um resto de guisado de carne nada no fundo da terrina. Já morno. As velas apagam-se de manso. François aproveita para surripiar a faca do pão e duas colheres de prata, que esconde nos seus andrajos.
Continuando especado no limiar, o carcereiro boceja de fadiga. Lá fora, uma névoa preguiçosa alça-se acima das muralhas. O friso das ameias desenha-se com nitidez, livre do seu véu de geada. Os primeiros pios das corujas fazem-se ouvir sobre o telhado da torre de menagem. Ao longe, um campanário toca as matinas.
François Villon não escreveu ainda a sua última balada.”

Livro disponível para empréstimo na Biblioteca Municipal de Arganil

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terça-feira, 12 de janeiro de 2016

No dia do obrigado

No dia do Obrigado

Obrigado aos meus pais que me fizeram nascer!
Obrigado, a ti mãe que tanto sofreste para eu ver a luz do mundo!
Tu, que não ouves já o " meu obrigado "...
mas onde estiveres sabes que te estou eternamente agradecida
pela mulher que me fizeste para a vida!
Obrigado ao médico que me tirou do seio materno
e não deixou ali morrer...
Obrigado a todos os que têm feito parte do meu viver!
Obrigado ao meu marido,
meu porto de abrigo
meu amigo e companheiro
de mais de 3 décadas de uma cumplicidade por inteiro!
Obrigado à minha família
aos meus amigos
e obrigado aos menos amigos
pois, todos fazem o equilíbrio da nossa vida!
Obrigado aos meus filhos
obrigado, obrigado, mil vezes obrigado
pois, sem vocês eu não era Mãe!

Graça Moniz
Arganil, 11 de janeiro 2016

terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Livro do mês: O sol dos Scorta de Laurent Gaudé

Depois de ter passado quinze anos na prisão, Luciano Mascalzone regressa a Montepuccio, uma pequena aldeia do sul de Itália onde as horas passam debaixo de um calor inclemente. Luciano vem à procura de Filomena Biscotti, uma mulher que desde a juventude deseja profundamente, mas ignora ainda que quem lhe abrirá a porta de casa e se deixará violar será Immacolata, a irmã mais nova de Filomena. Espancado pelos habitantes da aldeia, Luciano morre sem saber que Immacolata dará à luz um filho, o primeiro elo da linhagem dos Scorta…

Com uma imaginação que atingiu o seu esplendor e com a musicalidade de um estilo único, Laurent Gaudé conta-nos a existência dos Scorta de 1870 aos nossos dias, num fresco fabuloso que obteve em 2004 o mais importante prémio literário francês, o Goncourt.

"O amor, a morte, o exílio, o orgulho, toda a força de carácter das personagens fazem desta crónica uma obra-prima. Laurent Gaudé alcançou aqui o seu maior romance. A sua força de evocação é extraordinária. Inesquecível!" 

Lire
Excerto:

"Luciano penetrou em casa dos Biscotti. E isto ia custar-lhe a vida. Ele sabia-o. Sabia que, quando saísse daquela casa, as pessoas estariam de novo nas ruas, teria recomeçado a vida, com as suas leis e as suas lutas, e ele teria de pagar. Sabia que não o reconheceriam. E que o matariam. Voltar aqui, a esta aldeia, e entrar nesta casa, valia-lhe a morte. Pensara em tudo isto. Decidira chegar a esta hora esmagadora em que o sol até os gatos cega, porque sabia que, se as ruas não estivessem desertas, nem sequer teria podido alcançar a praça principal. Sabia tudo isso e a certeza da desgraça não lhe provocou nenhum estremecimento. Penetrou na casa.

Os seus olhos levaram tempo a habituar-se à penumbra. Ela voltara-lhe as costas. Ele seguiu-a por um corredor que lhe pareceu interminável. Depois, entraram num pequeno quarto. Não se ouvia nenhum barulho. A frescura das paredes pareceu-lhe uma carícia. Tomou-a nos braços. Ela nada disse. Despiu-a. Quando a viu nua, assim, à sua frente, não conseguiu reprimir um murmúrio: «Filomena…» Todo o corpo dela estremeceu. Ele nem prestou atenção. Sentia-se cumulado. Fazia o que jurara fazer. Vivia a cena mil vezes imaginada. Quinze anos de prisão a pensar unicamente naquilo. (…)"

Laurent Gaudé nasceu em Paris em 1972. Dramaturgo e romancista, obteve em 2004 o Prémio Goncourt com o romance O Sol dos Scorta. Publicado em 34 países, tem também traduzidos em Portugal os seus livros A Morte do Rei Tsongor (2002), Eldorado (2006) e Noite Dentro, Moçambique (2007), além de A Porta dos Infernos (2008), já publicado pela Porto Editora.

Leia, porque ler é um prazer!