quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

Novidade na Biblioteca: Mulheres da minha alma de Isabel Allende

Porto: Porto Editora, 2020
ISBN 978-972-0-03380-2

«Cada ano vivido e cada ruga contam a minha história.»

Isabel Allende percorre os labirintos da memória e oferece-nos um emocionante testemunho sobre a sua relação com o feminismo e a sua condição de mulher.

Em Mulheres da minha alma, a autora chilena convida-nos a acompanhá-la nesta emocionante viagem, em que revisita a sua ligação ao feminismo, desde a infância até aos dias de hoje. Recorda algumas mulheres incontornáveis na sua vida: Panchita, Paula e a agente Carmen Balcells, cuja ausência chora ainda hoje; escritoras de nomeada como Margaret Atwood; jovens artistas que trazem na pele a rebeldia das novas gerações; mulheres anónimas que sofreram na pele a violência de género e, com dignidade e coragem, se levantam e avançam. Todas elas a inspiram e a acompanham ao longo da vida: as mulheres da sua alma.

Reflete, ainda, sobre as mais recentes lutas sociais, nomeadamente as revoltas no seu país de origem e, claro, sobre este novo contexto que o mundo atravessa com a pandemia. Tudo isto sem deixar de manifestar a sua inconfundível paixão pela vida e a sua crença em que, independentemente da idade, há sempre tempo para o amor.

Fonte: contracapa do livro



Leia, porque ler é um prazer!

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021

A arte do silêncio

Pode parecer paradoxal analisar a literatura em termos de silêncio. A literatura faz-nos saber, ver, ouvir e sentir através das palavras, expressa e comunica ideias; contrariamente o silêncio é a ausência de fala, barulho ou ruído. O silêncio sugere mudez, quietude, obscuridade e sigilo. Não importa o quão anulante o termo e as suas conexões possam parecer, é importante lembrar que o silêncio é ouro. De facto o silêncio é uma comodidade na literatura, tem uma linguagem própria. Diz-nos o antropólogo James Hall que “a linguagem do silêncio é uma tradução de uma série de comunicações contextuais complexas e não-verbais em palavras”. Não significa apenas que as pessoas comunicam entre si de forma não-verbal, mas que existe um universo inteiro de comportamentos inexplorados, não examinados.

O silêncio funciona fora da perceção consciente e em justaposição às palavras.

Claro que em literatura a ausência de palavras não existe. No entanto a forma como se escreve ou descreve algo pode nos traduzir a noção de silêncio.

Para este serão a minha escolha de leitura recaiu sobre o livro “As pequenas memórias” de José Saramago.

Publicado em 2006 é, sem rigor cronológico, a autobiografia do escritor José Saramago e abrange o período entre os quatro e os quinze anos da sua vida.

Logo nas primeiras páginas Saramago partilha um poema por ele escrito enquanto adolescente. Protopoema, onde é clara a forma como a palavra pode dar a ideia de som ou a ideia de silêncio:

“Do novelo emaranhado da memória, da escuridão dos nós cegos, puxo um fio que me parece solto.
Devagar o liberto, de medo que se desfaça entre os dedos.
É um fio longo, verde e azul, com cheiro de limos, e tem a macieza quente do lodo vivo.
É um rio.
Corre-me nas mãos, agora molhadas.
Toda a água me passa entre as palmas abertas, e de repente não sei se as águas nascem de mim ou para mim fluem.
Continuo a puxar, não já memória, apenas, mas o próprio corpo do rio.
Sobre a minha pele navegam barcos, e sou também os barcos e o céu que os cobre, e os altos choupos que vagarosamente deslizam sobre a película luminosa dos olhos.
Nadam-me peixes no sangue e oscilam entre duas águas como os apelos imprecisos da memória.
Sinto a força dos braços e a vara que os prolonga.
Ao fundo do rio e de mim, desce como um lento e firme pulsar de coração.
Agora o céu está mais perto e mudou de cor.
É todo ele verde e sonoro porque de ramo em ramo acorda o canto das aves.
E quando num largo espaço o barco se detém, o meu corpo despido brilha debaixo do sol, entre o esplendor maior que acende a superfície das águas.
Aí se fundem numa só verdade as lembranças confusas da memória e o vulto subitamente anunciado do futuro.
Uma ave sem nome desce donde não sei e vai pousar calada sobre a proa rigorosa do barco.
Imóvel, espero que toda a água se banhe de azul e que as aves digam nos ramos por que são altos os choupos e rumorosas as suas folhas.
Então, corpo de barco e de rio na dimensão do homem, sigo adiante para o fulvo remanso que as espadas verticais circundam.
Aí, três palmos enterrarei a minha vara até à pedra viva.
Haverá o grande silêncio primordial quando as mãos se juntarem às mãos.
Depois saberei tudo.”
O poema dá-nos uma ideia de silêncio pacífico e tranquilo. No entanto nem sempre o silêncio transparece esses sentimentos. Mais a frente quando Saramago recorda um pesadelo recorrente escreve assim: “aquele pesadelo recorrente em que me via encerrado num quarto de forma triangular onde não havia móveis, nem portas, nem janelas, e a um canto dele «qualquer coisa» (…) que pouco a pouco ia aumentando de tamanho enquanto uma música soava, sempre a mesma, e tudo aquilo crescia e crescia até me fazer recuar para o último recanto onde finalmente despertava, aflito, sufocado, coberto de suor, no tenebroso silêncio da noite.”

Noutro episódio Saramago recorda alguns episódios de pesca. No rio perto da casa dos avós ou um pouco mais longe, no Tejo. Descreve o que para si é o silêncio mais profundo:

“Voltei ao sítio, já o Sol se pusera, lancei o anzol e esperei. Não creio que exista no mundo um silêncio mais profundo que o silêncio da água. Senti-o naquela hora e nunca mais o esqueci.”

Este episódio relatado em “As pequenas memórias” foi transformado num livro infanto-juvenil com o nome “O silêncio da água”, ilustrado por Manuel Estrada e publicado pela Editorial Caminho em 2011.

 Miriella de Vocht

O texto acima publicado foi o meu contributo para o serão dos Amigos de Ler de fevereiro, que teve como tema a palavra SILÊNCIO.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

Sugestões de leitura da Sala Jovem

1ª ed. Amadora : Topseller, 2017

Um livro simplesmente inesquecível,
Que nos fica gravado na pele e na alma.

O meu nome é Flora Banks, tenho 17 anos e tenho amnésia.

Quando tinha dez anos, removeram-me um tumor do cérebro. Desde então, sou incapaz de me lembrar do que acontece no dia a dia. Não consigo criar novas recordações.

O meu nome é Flora Banks, tenho 17 anos e tenho amnésia.
A minha memória reinicia inúmeras vezes. Suspende-se e recomeça como se a desligassem da corrente sem aviso. Para me lembrar de quem sou e do que gosto, escrevo-o em papéis. Gravo-o até na minha própria pele.

O meu nome é Flora Banks, tenho 17 anos e tenho amnésia.
Esqueço tudo o que me acontece, exceto o momento em que beijei o Drake. Um beijo que pode ser a minha cura. Um beijo que está prestes a levar-me numa viagem arriscada e que mudará a minha vida para sempre. Será que estou preparada para tudo o que vou encontrar?

O meu nome é Flora Banks, tenho 17 anos e tenho amnésia, mas sou muito corajosa!

Lê aqui as primeiras páginas!

1ª ed. Lisboa : Planeta Manuscrito, 2019

As reuniões de cleptómanos anónimos a que a adolescente Moe é obrigada a assistir são por norma uma grande seca. Até ao dia em que Tabitha e a Elodie lá chegam. A tabitha tem tudo o que se pode desejar: dinheiro, amigos, popularidade e um namorado giro que a venera e ao que parece... uma apetência pelou roubo. Tal como Elodie que, apesar do seu ar de menina bem-comportada, tem praticamente escrito «cleptómana» na testa a tinta permanente. Mas nem uma nem outra são nada, comparadas à Moe, uma menina com ar de malcomportada e reputação ainda pior.

Com humor e sagacidade, a partir de múltiplas perspectivas, esta história conta como três raparigas muito diferentes, que deveriam estar a aprender os passos para a reabilitação, acabam por aprender as regras da amizade.


Gostaste destas sugestões? Queres ler os livros? Requisita na Rede de Bibliotecas do Concelho de Arganil!

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domingo, 14 de fevereiro de 2021

Poesia de Casimiro de Brito

Casimiro de Brito, poeta, ensaísta e ficcionista português, nasceu a 14 de fevereiro de 1938.

Foi distinguido com o Prémio da Imprensa Cultural Portuguesa, com Jardins de Guerra; com o Prémio Internacional de Poesia Versilia-Viareggio, com Ode & Ceia (Poesia 1955-1984), e Labyrinthus cumulou o Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores e da Secretaria de Estado da Cultura.


Para assinalar a data de aniversário do escritor propomos a leitura dos seguintes poemas:


Jardins de guerra. 2ª ed. rev.. Lisboa : Assírio & Alvim, 1974.
Ode & Ceia. 1ª ed. Lisboa : Dom Quixote, 1985

Requisite estas ou outras obra de Casimiro de Brito, na Rede de Bibliotecas do Concelho de Arganil.

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terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

Sugestão de leitura: A cor púrpura de Alice Walker

Uma exuberante celebração do que significa ser mulher
(Chimamanda Ngozi Adichie)

"A cor púrpura" da autoria de Alice Walker é um romance epistolar, publicado pela primeira vez em 1982. Vencedor do prémio Pulitzer e do National Book Award, "A cor púrpura" foi adaptado ao cinema em 1985 por Steven Spielberg e nomeado para 11 óscares.

A obra retrata a trajetória da personagem Celie, uma mulher negra, oprimida e silenciada por uma sociedade racista e sexista, mas que encontra na amizade e solidariedade de outras mulheres a força para superar e tornar-se agente do seu próprio destino.

Celie, de 14 anos, escreve cartas que endereça a Deus para tentar compreender o que lhe está a acontecer. Órfã de mãe, abusada pelo homem a quem chama “pai”, separada da irmã, privada dos dois filhos e oferecida em casamento a um homem que a maltrata, Celie considera-se “pobre, negra e feia”. Até que conhece Shug Avery, a amante do seu marido. Com a ajuda de Sugar, Celie descobre não só o paradeiro da sua irmã desaparecida, mas também o próprio corpo, o prazer, o amor e, acima de tudo, a sua voz.


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segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

Júlio Verne: da ciência ao imaginário

Júlio Verne (08.02.1828-24.03.1905)

Na data de aniversário de Júlio Verne aproveitamos para destacar a obra Júlio Verne – Da Ciência ao Imaginário, com prefácio de Michel Serres, publicada por ocasião do centenário da sua morte.

Esta obra é por si só uma proposta de viagem. Através de uma incursão pela vida e obra de Júlio Verne vivemos uma magnífica aventura através das contradições de uma época de descobertas e dúvidas, ao mesmo tempo que descobrimos a personalidade e turbulenta vida de um dos grandes vultos da literatura mundial.

“Hoje em dia, para animar a interface entre ciência e sociedade, falta-nos um Júlio Verne. As angústias contemporâneas sobre o racional e as técnicas associadas devem-se, em parte a esta falta. Quem nos conta, nos dias que correm, como funciona esta ou aquela inovação? Par ocupar o espaço das mensagens, encontram-se apenas juízes, muitas vezes incompetentes, acusadores… Uma espécie de inquisição obscura multiplica as condenações. Ora, o filósofo ou o historiador das ciências ocupam mal esta interface, só a literatura, o romance, a narrativa, histórias, aventuras… podem fazê-lo.
A ciência torna-se rapidamente um facto social total. Começa a acontecer no século XIX. Satura a sociedade. Técnicas sofisticadas produzem uma percentagem elevada dos objectos que manipulamos: óculos, fogões, automóveis, computadores, telefones… cresce o fosso que nos separa da ciência, ao mesmo tempo que é ela que estrutura o nosso quotidiano e as nossas comunicações. Carecemos de romancistas que descrevam em tempo real esta remodelação das nossas sociedades. Para várias gerações, entre as quais a minha, Júlio Verne criou esta interface e tornou culturais tanto o quotidiano da ciência como a reestruturação das relações.
Senhor de um grande talento, Júlio Verne tentou um golpe admirável, uma viagem extraordinária: tornar a ciência cultural. (…) 
Excerto do prefácio de Michel Serres

“Quando evocamos Júlio Verne e a ciência, a primeira coisa que nos ocorre são as máquinas, as ciências físicas, as ciências da natureza. Pensamos menos vezes nas ciências humanas, que nasceram no seu tempo, e na ciência da história moderna, iniciada por Michelet e revolucionada pela filosofia alemã. No século XIX, o homem na sociedade e no trabalho torna-se pela primeira vez herói do seu destino. A mudança é profunda, Júlio Verne instaura um diálogo entre as ciências conhecidas e as recém-nascidas. Foi provavelmente o que o levou a desenvolver a tal ponto a ciência e a consciência como os dois pilares de um futuro próximo.

Júlio Verne parece sentir desde a primeira infância o apelo dos horizontes longínquos. Mais tarde, a formação de jurista, as relações que travará em Paris, a euforia perante as ciências, a indústria e as explorações que caracterizam a sua época constituirão a base das suas viagens extraordinárias."

Excerto do primeiro capítulo “Uma vida, uma obra” de Jean-Paul Dekiss




Aceda ao catálogo concelhio para saber quais as obras de Júlio Verne que temos disponíveis para si!

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sexta-feira, 5 de fevereiro de 2021

Amigos de ler - Fevereiro


“E de súbito desaba o silêncio
É um silêncio sem ti.
Sem álamos sem luas
Só nas minhas mãos
Ouço a música das tuas
“É o silêncio é por fim o silêncio
vai desabar” (Eugénio de Andrade)

O próximo serão dos AMIGOS DE LER realiza-se no dia 8 de fevereiro, pelas 21h00, e vai ter como tema a palavra “SILÊNCIO”.

Quem quiser participar pode fazer a sua inscrição até 8 de Fevereiro às 16.00 horas para bib-arganil@cm-arganil.pt

Boas leituras!

terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

"Se numa noite de inverno um viajante" de Italo Calvino



CALVINO, Italo - Se numa noite de inverno um viajante.
Porto : Publico, 2002.
ISBN 84-8130-508-1

"Se numa noite de inverno um viajante" de Italo Calvino foi uma das obras apresentadas na sessão dos amigos de ler em Janeiro, que teve como tema "labirinto". Fica o convite à sua leitura!

Este livro é na verdade um verdadeiro labirinto, embora a palavra não esteja explicita em nenhuma das suas página, onde se fala de livros, de leitores, de escritores, de bibliotecas e livrarias.

A busca das palavras adequadas para exprimir o que o escritor pretende dizer é um verdadeiro quebra cabeças, muitas vezes inglório pois terá de se submeter à interpretação que o leitor faz das palavras escolhidas pelo escritor.

A luta do escritor para separar o que é imaginado do que é a realidade funde-se nas palavras que escolhe para construir o texto, que depois, quando é lido, transmite esse labirinto de palavras conduzindo o leitor à mesma luta existencial de misturar a realidade que vive, com a sua capacidade imaginativa, juntando ainda os conhecimentos que a sua biblioteca interior lhe transmite através dos livros que já leu.

Nos corredores labirínticos das bibliotecas, os livros aguardam a escolha do leitor. Contudo o leitor tem dentro de si o seu próprio labirinto que o leva a percorrer esses corredores de estantes onde os livros esperam a sua decisão, como tão bem o autor nos dá a conhecer nas páginas deste livro.

Gostaria de deixar aqui um pequeno excerto do livro, devo no entanto confessar que não foi fácil fazer a escolha. Depois de muito ponderar escolhi esta passagem que me parece bastante significativa.

«Eu também sinto a necessidade de reler os livros que já li, diz um terceiro leitor, mas em cada releitura parece-me ler pela primeira vez um livro novo. Serei eu que continuo a mudar e vejo coisas novas que antes não tinha notado? Ou a leitura é uma construção que ganha forma juntando um grande número de variáveis e não se pode repetir duas vezes de acordo com o mesmo desenho? Sempre que tento reviver a emoção de uma leitura anterior, obtenho impressões diferentes e inesperadas, e não reencontro as anteriores»

Na verdade, o livro “Se Numa Noite de Inverno Um Viajante” de Italo Calvino é um labirinto de ideias à volta do que é o Livro, a Leitura e o Leitor e como estas três palavras e os seus significados influenciam o Escritor, que é também Leitor.

Margarida Fróis

Livro disponível para empréstimo na Rede de Bibliotecas do Concelho de Arganil.

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