quinta-feira, 31 de outubro de 2024

Tempo para a poesia: Dia de Todos os Santos

 

The Forerunners of Christ with Saints and Martyrs de Fra Angelico

Dia de Todos-os-Santos

Supõe que morri
(Aos mortos se escreve também algumas vezes).
Não sou de cá.
O que me dizem estranho
E ouço o que não há.
Assim, talvez, como estrangeiro,
Encontres palavras que me interessem,
Saibas dar-me o que me tarda...
coisas perdidas que procuro
e talvez se possam dar
aos que partiram e esqueceram
e, por isso,
se lhes oferece o resto de tudo
sem mesmo se saber
que alguma coisa é dada.

Supõe que morri e diz
todas as verdades que se dão aos mortos
o que se confessa a quem não ouve
e espera resposta de ninguém ...

Dizem que os deuses morreram:
Sou da raça deles
à espera de Deus.

                                José Blanc de Portugal

Amor constante para além da morte

Pode fechar-me os olhos a derradeira
sombra que de mim leva o branco dia,
e livrar de tudo o que prendia
a alma ansiosa, a hora que se abeira;

mas não deixará na margem da ribeira
a memória dos sítios onde ardia:
minha chama nada na água fria
e a dura lei enfrenta altaneira.

Alma de que todo um deus foi prisão,
veias onde tanto fogo foi gerado,
medulas em gloriosa combustão:

o corpo deixará, não seu cuidado;
cinzas hão-de ser, mas com coração;
serão pó, sim, mas pó apaixonado.

                        Francisco de Quevedo (1580-1645)
                        Tradução: António Simões

segunda-feira, 28 de outubro de 2024

Sugestão de leitura: "O assalto" de Daniel Silva

 

Lisboa: Bertrand, 2014
ISBN 978-972-25-2916-7

O lendário restaurador de arte e espião ocasional Gabriel Allon está em Veneza a restaurar um retábulo de Veronese quando recebe uma chamada urgente da polícia italiana. Julian Isherwood, o excêntrico negociante de arte londrino, deparou com o cenário de um homicídio brutal e agora é suspeito do crime. Para salvar o amigo, Gabriel tem não só de descobrir os verdadeiros assassinos, como também encontrar a mais famosa das obras de arte desaparecidas: a Natividade com São Francisco e São Lourenço, de Caravaggio.

A sua missão levará Allon de Paris e Londres aos submundos do crime em Marselha e na Córsega e, finalmente, a um pequeno banco privado na Áustria, onde um homem perigoso guarda a fortuna suja de um cruel ditador. Ao seu lado, o espião tem uma jovem corajosa que sobreviveu a um dos piores massacres do século XX e que tem agora a possibilidade de se vingar da dinastia que lhe destruiu a família.

Um livro elegante, sofisticado e de leitura compulsiva que deixará os fãs de Gabriel Allon cativados desde as primeiras páginas.

Fonte: contracapa do livro

Livro disponível para empréstimo na Rede de Bibliotecas do Concelho de Arganil.

Leia, porque ler é um prazer!

segunda-feira, 14 de outubro de 2024

"A misteriosa chama da Rainha Loana" de Umberto Eco




Algés: Difel, 2005
ISBN 972-29-0732-8

"«E o senhor, como se chama?
Espere, tenho-o debaixo da língua.»

Tudo começou assim.
Tinha como que acordado de um longo sono; contudo, estava ainda suspenso num cinzento leitoso. Ou, então, não estava acordado mas a sonhar. Era um sonho estranho, sem imagens, povoado de sons. Como se não visse, mas ouvisse vozes que me relatavam o que devia estar a ver."
Yambo, um abastado alfarrabista de Milão na casa dos sessenta, perdeu parte da memória após um acidente vascular cerebral – lembra-se do enredo de cada livro que leu, de cada verso, mas não se lembra do próprio nome, não reconhece as filhas nem a mulher e a infância e a família estão envoltas em névoa.

Numa tentativa de recuperação de si próprio, Yambo decide voltar à casa de campo da sua infância, onde descobre livros, álbuns de banda desenhada, revistas e discos de uma época distante. Começa aí uma viagem em busca do tempo perdido, povoada de imagens e personagens ora fictícias, ora reais, mas todas importantes para a redescoberta de si.

É assim que as suas memórias vão sendo recuperadas, e o passado vai surgindo diante dos seus olhos como uma banda desenhada.

A Misteriosa Chama da Rainha Loana é um romance profusamente ilustrado, fascinante, nostálgico, divertido e emocionante, do incomparável Umberto Eco.


Disponível para empréstimo na Rede de Bibliotecas do Concelho de Arganil

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quinta-feira, 10 de outubro de 2024

O caminho do sal de Raynor Winn

"Começamos a nossa caminhada naquele dia, debaixo das escadas, ou no dia em saímos da carrinha de um amigo em Taunton, deixados à chuva, à beira da estrada com as mochilas no asfalto? Ou será que a caminhada já estava para acontecer havia anos, à espera, no nosso horizonte, pronta para ser lançada sobre nós apenas quando não houvesse mais nada a perder?" (excerto do capítulo 2)
Poucos dias depois de Raynor Winn descobrir que Moth, o marido de 32 anos, tem uma doença terminal, a sua casa e quinta são-lhes retiradas, juntamente com o seu sustento. Sem nada, e com pouco tempo, tomam a decisão impulsiva e arrojada de caminhar os 1013 quilómetros do Caminho da Costa Sudoeste.

Levando às costas apenas o essencial para sobreviver, vivem uma vida selvagem no deserto, entre penhascos desgastados pelo tempo, o mar e o céu. No entanto, em cada passo, em cada encontro e em cada provação ao longo do percurso, a sua caminhada transforma-se numa viagem marcante e libertadora.

Poderosamente escrito e inabalavelmente honesto, O Caminho do Sal é uma história verdadeira, sincera e otimista sobre como lidar com a dor e os poderes curativos da natureza. É um retrato do lar — de como pode ser perdido, reconstruído e redescoberto das formas mais inesperadas.

Livro disponível para empréstimo na Biblioteca Municipal de Arganil

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terça-feira, 8 de outubro de 2024

Duna, obra-prima de Frank Herbert

Frank Patrick Herbert Jr. é um dos autores de ficção científica mais conceituados da modernidade. Nasceu no dia 8 de outubro de 1920 na cidade de Tacoma, no estado norte-americano de Washington e estudou na Universidade de Washington, Seattle. Teve uma grande variedade de empregos — incluindo operador de câmara de TV, comentador de rádio, apanhador de ostras, instrutor de sobrevivência na selva, psicanalista, professor de escrita criativa, repórter e editor de vários jornais… antes de se tornar escritor a tempo inteiro.

Começa a dedicar-se à escrita a tempo interior a partir de 1959, e seis anos depois publica aquela que viria a ser conhecida como a sua obra-prima, Duna.

Duna decorre no planeta deserto de Arrakis. Narra a história de Paul Atreides, herdeiro de uma família nobre encarregada de governar um mundo inóspito, onde a única coisa de valor é uma especiaria, melange, que é na verdade uma droga capaz de prolongar a vida e expandir a consciência. Cobiçada em todo o universo conhecido, a melange revela-se um tesouro pelo qual as pessoas estão dispostas a matar.

Pela sua temática variada e complexa, abordando filosofia, religião, política e ecologia, Duna foi distinguida com os mais importantes prémios de ficção científica: o Prémio Nebula, em 1965, e o Prémio Hugo, em 1966.

Para saber mais sobre o autor e a sua obra consulte:

https://revistagalileu.globo.com/Cultura/noticia/2020/10/conheca-trajetoria-do-escritor-frank-herbert-autor-de-duna.html

Livro disponível para empréstimo na Biblioteca Municipal de Arganil.

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sexta-feira, 4 de outubro de 2024

Opinião de leitor: "Os primos" de Karen M.McManus

 

Alfragide: Gailivo, 2022
ISBN 978-989-235-314-2

Três primos, que desde a primeira infância não se veem ou falam, são convidados pela avó, que não conhecem e que deserdou os próprios filhos, para ir passar o verão a trabalhar em Gull Cove Resort, do qual é proprietária.

Embora apreensivos acabam por aceitar o convite e pensam aproveitar a oportunidade para estreitar os laços de família. No entanto os planos não correm como esperado e os 3 jovens acabam por unir-se para tentar desvendar os segredos de família Story.

O que descobrirão sobre o passado? E que revelações os esperam em relação ao presente?

Requisite o livro e descubra!

MV

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terça-feira, 1 de outubro de 2024

Um poema para assinalar o Dia do Idoso

autor: Narinbg

O Dia Internacional do Idoso comemora-se anualmente a 1 de outubro. Este dia foi instituído em 1991, pela Organização das Nações Unidas (ONU), com o objetivo de sensibilizar a sociedade para as questões do envelhecimento e a necessidade de proteger e cuidar da população mais idosa.

Singelamente e como forma de assinalar esta data partilhamos um poema de Fernanda de Castro, conhecida poetisa portuguesa, que reflete um pouco do que é chegar a uma idade avançada…

Alma Serena

Alma serena, a consciência pura,
assim eu quero a vida que me resta.
Saudade não é dor nem amargura,
dilui-se ao longe a derradeira festa.

Não me tentam as rotas da aventura,
agora sei que a minha estrada é esta:
difícil de subir, áspera e dura,
mas branca a urze, de oiro puro a giesta.

Assim meu canto fácil de entender,
como chuva a cair, planta a nascer,
como raiz na terra, água corrente.

Tão fácil o difícil verso obscuro!
Eu não canto, porém, atrás dum muro,
eu canto ao sol e para toda a gente.

Fernanda de Castro, in "Ronda das Horas Lentas"