Quando falamos de muros, por via de regra, pensamos em muros físicos. Como me sinto atraída pelo belo e gosto de realçar o lado positivo do que me acontece ou rodeia, a palavra muro sugere-me, numa primeira análise, beleza.
Vejo-os cobertos de glicínias perfumadas, de buganvílias de cores fortes, de hera verde e musgo a revestirem pedras envelhecidas, de rosas miudinhas, de jasmim a exalar um aroma intenso e inesquecível, que me recorda sempre a Tunísia. E visualizo tantas outras trepadeiras coloridas e belas.
Só depois penso nos muros encimados por arame farpado. Esses começam e acabam nas separações e muralhas que existem dentro de nós.
Ao longo da história tem havido sempre fanáticos, ditadores e extremistas que erguem muros gigantescos. Uma vergonha para a humanidade. Vêm de dentro para fora. Nascem no coração.
Contudo, é com muros que construímos as nossas casas, os abrigos que aconchegam. Todos os lugares habitados são estruturados a partir deles.
Porém, tanto servem para criar espaços acolhedores, como lugares caóticos, miseráveis, poluídos, indignos e inseguros.
Toda a nossa vida é feita de muros físicos e abstratos.
A própria natureza tem divisórias: as montanhas, as florestas, os rios, os mares, as escarpas e tantos outros.
Os muros são o suporte do património histórico, artístico e cultural.
Fazem parte da identidade comum de um lugar.
Podem ser elementos vivos, dinâmicos e participativos da relação das pessoas com o meio ambiente.
Eles fazem parte do mundo de símbolos e hábitos de cada grupo humano.
É bastante através dos muros, ou seja das construções, que avaliamos a qualidade de vida e o local onde determinado tipo de existência transcorre.
Existe uma grande relação entre os espaços urbanizados e o comportamento humano.
Hoje não se procura só a beleza dos muros que formam os lugares habitáveis, mas também o bem-estar das pessoas e a harmonia com o ambiente.
Porém, os muros mais perigosos são os que nos aprisionam dentro de nós próprios. Quase todos os erguemos. Maiores ou menores, consciente ou inconscientemente, quer queiramos ou não admiti-lo.
Eles desenvolvem-se, mais facilmente, nos corações vazios.
A maioria dos males da humanidade resulta da incapacidade de derrubar os muros do egoísmo e da intolerância.
Contudo, o facto de estarmos aqui reunidos, numa noite fria, quase em vésperas de Natal, significa, entre outras coisas, que temos capacidade de abertura aos outros, de criar laços de pertença a um grupo., através de reflexão e convivência saudável.
E porque é Natal, e não só, recordo que todos temos ao nosso alcance meios poderosos para derrubar muros: sorrir e abraçar.
12 de dezembro de 2016
Maria Leonarda Tavares
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