quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

Tempo para a poesia XXVIII


LUAR DE JANEIRO

Luar de Janeiro,
Fria claridade…

Á luz dele foi talvez
     Que primeiro
A boca dum português
Disse a palavra saudade...

Luar de platina,
Luar que alumia
Mas que não aquece,
Fotografia
Da alegre menina
Que há muitos anos já... envelhecesse.

Luar de Janeiro,
O gelo tornado
Luminosidade...
Rosa sem cheiro,
Amor passado
De que ficasse apenas a amizade...

Luar das nevadas,
Álgido e lindo,
Janelas fechadas,
Fechadas as portas,
E ele fulgindo,
Límpido e lindo,
Como boquinhas de crianças mortas,
Na morte geladas
- E ainda sorrindo...

Luar de Janeiro,
Luzente candeia
De quem não tem nada,
- Nem o calor dum braseiro,
Nem pão duro para a ceia,
Nem uma pobre morada...

Luar dos poetas e dos miseráveis,
Como se um laço estreito nos unisse,
São semelháveis
O nosso mau destino e o que tens...

De nós, da nossa dor, a turba - ri-se

- E a ti, sagrado luar…  ladram-te os cães!

                                            Augusto Gil in Luar de Janeiro

Livro disponível para empréstimo na Rede de Bibliotecas do Concelho de Arganil.

Leia, porque ler é um prazer!

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