LUAR DE JANEIRO
Luar de Janeiro,
Fria claridade…
Á luz dele foi talvez
Que primeiro
A boca dum português
Disse a palavra saudade...
Luar de platina,
Luar que alumia
Mas que não
aquece,
Fotografia
Da alegre menina
Que há muitos anos já... envelhecesse.
Luar de Janeiro,
O gelo tornado
Luminosidade...
Rosa sem cheiro,
Amor passado
De que ficasse apenas a amizade...
Luar das nevadas,
Álgido e lindo,
Janelas fechadas,
Fechadas as portas,
E ele fulgindo,
Límpido e lindo,
Como boquinhas de crianças mortas,
Na morte geladas
- E ainda
sorrindo...
Luar
de Janeiro,
Luzente
candeia
De quem não tem nada,
- Nem o calor dum braseiro,
Nem pão duro para a ceia,
Nem uma pobre morada...
Luar dos poetas e dos miseráveis,
Como se um laço estreito nos unisse,
São semelháveis
O nosso mau destino e o que tens...
De nós, da nossa dor, a turba - ri-se
- E a ti, sagrado luar… ladram-te os cães!
Augusto Gil in Luar de Janeiro
Livro disponível para empréstimo na Rede de Bibliotecas do Concelho de Arganil.
Leia, porque ler é um prazer!
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