Onde estão os meus óculos é um romance em forma de inventário ou (como diz a autora, a certa altura da narrativa) «recordações a granel dentro de uma mala de couro». Parte de uma situação aparentemente normal, através de uma carta que lhe é enviada por um organismo oficial: «Minha senhora, tem 59 anos, em breve poderá pedir a sua reforma da Segurança Social...» De repente, 59 anos - e à sua frente uma proposta de quietude (?), de tranquilidade (?), de desfrute (?), de vantagens (?). E de repente, também o disparo da vida para trás, como tudo começou (como sempre, na infância), as várias etapas de existência, os sonhos, as desilusões, as marcas que a vida deixa nos seres humanos, uma espécie de desorganização essencial que se transforma em confissão literária.
Onde estão os meus óculos?, para além de ser uma narrativa sensível e de notável acuidade psicológica, é também um livro de humor - um daqueles livros temperados de auto-ironia, de insatisfação paciente, de confissão que tem tanto de risonha como de patética. Texto imediatamente ligeiro, despoletado pela notícia (que é fornecida) da idade que se tem - mas logo envolvido das surpresas e das angústias de uma pessoa em estado de contabilizar (de ser obrigada a contabilizar) o que não é contabilizável, não é redutível, ainda sujeito a uma realidade inexorável que se liga ao peso da idade, à responsabilização (?) social, ao acordo surpreendente com o lado de fora de um universo humano.
Fonte: badana do livro
Livro disponível para empréstimo na rede de Bibliotecas do Concelho de Arganil.
Leia, porque ler é um prazer!
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