Há 25 anos, a 16 de Março de 1993, morreu, com 69 anos, uma figura maior da vida intelectual portuguesa, com obra vasta e diversificada, e uma personalidade vigorosa e polémica. Natália Correia nascida a 13 de Setembro de 1923 na Ilha de São Miguel, nos Açores faleceu no dia 16 de Março de 1993.
Como forma de recordar a escritora elegemos como livro do mês o romance A Madona, publicado pela primeira vez em 1968.
"De um lado há a supremacia masculina num mundo rural - a aldeia montanhosa de Briandos, onde as vinhas e a rudeza dos corpos parecem nos remeter às bacantes -, do outro está a efervescência urbana de Paris, com a agitação juvenil, a contestação à guerra e o existencialismo próprio dos anos sessenta.
Suspensa entre estes dois universos está Branca, a narradora de "A Madona" (1968), de Natália Correia (1923-1993). É uma jovem "virgem da montanha" que aproveita a morte do pai - agonizante nos braços da prostituta local, a Carriça - para trocar a sua limitada vida campestre por um caminho de liberdade. (…)
Branca possui uma beleza própria da estatuária helénica (…). E é esse encanto que entrega ao primeiro homem que lhe aparece em Paris, Miguel. Um impulso que não só vinga a humilhação da mãe, um ser doméstico feito para parir e calar, mas também sela uma iniciação sexual ao sabor dos ventos de liberação que sopravam na altura. (…)
A consciência do próprio corpo, contudo, não é um caminho trilhado sem a companhia da tristeza e da insatisfação. Aquilo que seria o experimentar de tudo e de todas as maneiras é também a certeza de "emoções contraditórias". E ainda de um certo embaraço na "entrega ao prazer físico". Não basta partir a louça para romper o silêncio a que as mulheres estiveram votadas. (…) Esteja em Paris ou em Londres, Branca trará sempre no corpo marcas de um sistema patriarcal e agrário. E, por isso, os espaços da narrativa são contrastantes, oscilando entre Briandos e as capitais europeias.(…)"
Leia, porque ler é um prazer!
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