segunda-feira, 24 de agosto de 2020

Tempo para a poesia LXXII

Último poema

Dá-me a tua mão esquerda

    - essa do lado do peito:

    não vês meu sangue batendo?

    E nos meus olhos, que lês?


Ponta dos dedos em febre

    tenho os meus lábios queimados

    E os teus cabelos tostados

    - paisagem de pedras secas -


são o espelho quebrado

    do nosso primeiro encontro

    Que distante a prometedora

    canção dos teus olhos infinitos!


Onde guardaste as tuas mãos

    cheias de música? teus lábios

    sangrando? E onde puseste

    o gesto antigo da tua frescura?


Dá-me a tua mão esquerda

    e põe teus olhos nos meus:

    - Porque vieste outra vez

    se continuas ausente?

                                        João Alves das Neves

"Dia automático" - diz o seu autor - é um livro escrito por acaso. Mas revela também uma experiência vivida. Sem se desprender da realidade quotidiana, «dia automático» não é um livro desesperado, embora a sua poesia seja por vezes angustiante. Despreocupadamente , o autor deu apenas livre curso à sua necessidade de transmitir uma visão pessoal das coisas e da vida." (In: A Comarca de Arganil nº 4417 de 15.10.1955, p. 3)

Leia, porque ler é um prazer!

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