Último poema
Dá-me a tua mão esquerda
- essa do lado do peito:
não vês meu sangue batendo?
E nos meus olhos, que lês?
Ponta dos dedos em febre
tenho os meus lábios queimados
E os teus cabelos tostados
- paisagem de pedras secas -
são o espelho quebrado
do nosso primeiro encontro
Que distante a prometedora
canção dos teus olhos infinitos!
Onde guardaste as tuas mãos
cheias de música? teus lábios
sangrando? E onde puseste
o gesto antigo da tua frescura?
Dá-me a tua mão esquerda
e põe teus olhos nos meus:
- Porque vieste outra vez
se continuas ausente?
João Alves das Neves
"Dia automático" - diz o seu autor - é um livro escrito por acaso. Mas revela também uma experiência vivida. Sem se desprender da realidade quotidiana, «dia automático» não é um livro desesperado, embora a sua poesia seja por vezes angustiante. Despreocupadamente , o autor deu apenas livre curso à sua necessidade de transmitir uma visão pessoal das coisas e da vida." (In: A Comarca de Arganil nº 4417 de 15.10.1955, p. 3)
Leia, porque ler é um prazer!
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