Vivemos tempos de mudança acelerada. O avanço das
novas tecnologias, e em particular da inteligência artificial, tem vindo a
transformar profundamente a forma como comunicamos, aprendemos e criamos. Hoje,
praticamente ninguém se pode dar ao luxo de ignorar estas ferramentas que
moldam o nosso quotidiano e o nosso futuro. A inteligência artificial veio para
ficar, e é inegável o seu potencial para apoiar o desenvolvimento humano em
inúmeros domínios — da educação à ciência, da arte à gestão da informação.
Contudo, num mundo cada vez mais digital, as
bibliotecas continuam — e continuarão — a ser espaços de encontro, de partilha
e de humanidade. Mais do que simples repositórios de livros, são lugares onde o
conhecimento ganha vida, onde as ideias se cruzam e onde as histórias são
contadas e recriadas, geração após geração. Cabe a todos os que nelas trabalham
preservar e afirmar este papel, reforçando o valor das bibliotecas como pilares
da democracia, da inclusão e da aprendizagem ao longo da vida.
Na internet, podemos encontrar milhares de histórias.
Mas nenhuma se compara àquela que nasce num espaço acolhedor, rodeado de
pessoas, olhares e vozes que se cruzam. O poder das bibliotecas reside
precisamente nesse calor humano que nenhuma tecnologia consegue reproduzir — na
emoção de ouvir uma história contada, na partilha de um livro, na descoberta
feita em conjunto.
A inteligência artificial pode ajudar-nos a explorar
novas formas de contar e preservar histórias, a ampliar o acesso à informação e
a tornar o conhecimento mais inclusivo. Mas, por mais avançadas que sejam as
máquinas, nunca substituirão o ser humano: as emoções, as sensações, a empatia
e a criatividade — os verdadeiros lugares onde nascem as histórias.
Assim, ao olharmos para além das estantes, somos
convidados a imaginar o futuro das bibliotecas como espaços híbridos, onde a
tecnologia e a humanidade se encontram, dialogam e se completam. Um futuro em
que a inteligência artificial é uma aliada, e não uma ameaça; em que as
histórias continuam a ser partilhadas — não apenas por ecrãs, mas entre
pessoas, com o coração aberto à escuta e à imaginação.
Tendo em conta os desenvolvimentos tecnológicos e
sociais referidos, é oportuno recordar que o Manifesto das Bibliotecas Públicas da IFLA/UNESCO foi atualizado em 2022. Esse documento reafirma o papel das
bibliotecas públicas como agentes essenciais de inclusão social, acesso
equitativo à informação, liberdade intelectual, literacia e preservação da
memória coletiva — valores que adquirem nova urgência numa era de mudança
rápida.
Mas não é somente nas bibliotecas públicas que este
compromisso de renovação se faz sentir. Em 2025, foi publicada uma nova versão
do Manifesto da Biblioteca Escolar da IFLA/UNESCO, que atualiza e amplia os
princípios anteriormente definidos, adaptando-os ao contexto contemporâneo das
escolas.
Segundo este novo manifesto, a biblioteca escolar deve
constituir-se como um espaço de aprendizagem físico e digital, operado por
profissionais qualificados, colaborativo com a comunidade educativa, e
orientado para o desenvolvimento das literacias, do pensamento crítico, da
criatividade e da cidadania global.
A atualização do documento reconhece que as
bibliotecas devem evoluir e adaptar-se à era digital, mas sem perder a sua
vocação humana e comunitária. Concordando com estas orientações internacionais,
podemos compreender as bibliotecas como espaços dinâmicos, onde as estantes
coexistem com algoritmos, e onde o compromisso com o cidadão permanece
inalterado.
Fundamentalmente, é necessário que cada um de nós
consiga estabelecer um equilíbrio saudável entre o digital e o físico, entre a
inovação e a tradição. Num mundo globalizado e interligado, a tecnologia pode —
e deve — ser um apoio precioso para aproximar pessoas e ampliar o acesso às
histórias e às ideias. No entanto, é no encontro real, no diálogo face a face e
na experiência partilhada que se constrói o verdadeiro sentido das bibliotecas
e da humanidade que as habita.

Sem comentários:
Enviar um comentário
O seu comentário é bem vindo! Partilhe as suas ideias sobre livros e escritores, tente seduzir alguém para o prazer de ler!