Setembro já vai a meio e a época das vindimas está a porta.
Esta época marcou ao longo dos tempos vivências e tradições que foram passando de geração em geração. Às vindimas associamos ranchos de homens e mulheres que nas pequenas ou grandes vinhas transformavam esta actividade rural numa festa popular. Nas aldeias a azáfama era enorme. As pipas e os tonéis eram lavados e preparados para receber o vinho novo. Nos lagares a pisa das uvas fazia-se ao som de cantigas populares e as noites, junto aos alambiques, esperando o lento destilar das aguardentes que no Inverno aqueciam a garganta e o espírito e era remédio santo contra as gripes e constipações, eram transformadas em longos serões comunitários.
Esta época marcou ao longo dos tempos vivências e tradições que foram passando de geração em geração. Às vindimas associamos ranchos de homens e mulheres que nas pequenas ou grandes vinhas transformavam esta actividade rural numa festa popular. Nas aldeias a azáfama era enorme. As pipas e os tonéis eram lavados e preparados para receber o vinho novo. Nos lagares a pisa das uvas fazia-se ao som de cantigas populares e as noites, junto aos alambiques, esperando o lento destilar das aguardentes que no Inverno aqueciam a garganta e o espírito e era remédio santo contra as gripes e constipações, eram transformadas em longos serões comunitários.
A mecanização e o abandono da agricultura familiar levou ao apagamento destas tradições. Fica-nos a memória dos que as viveram e as souberam imortalizar através das palavras. Muitos dos nossos escritores se inspiraram nestas vivências e as reproduziram em prosa e verso e por isso elas continuam vivas nas nossas memórias.
Podemos, pois, afirmar que os livros constituem a memória viva da história antiga e recente, sendo também testemunho da evolução social, económica e cultural.
Cabe às bibliotecas reunir um fundo documental abrangente que nos transporte ao passado, mas também ao futuro. Citando Bob Usherwood “ao conservarem e preservarem a documentação, as bibliotecas tornam-se o espírito e a memória colectivos da sociedade.”
Sobre esta temática aqui ficam alguns excertos de obras de escritores portugueses que testemunham isso mesmo:
“Chegado ao termo dos cultivos, vem a época das ceifas ou das vindimas – decerto os maiores trabalhos colectivos do ano -, que se fazem com azáfama e entusiasmo, e também os seus tradicionais ritos, pois desde tempos imemoriais, por toda a parte, solenes e vistosas festas consagram a bela época.(…)
De regresso a casa, em começos de Setembro, nas baixas por onde se espalha a vinha, andavam já na faina das vindimas, porque nestas terras do sul a uva amadura mais temporã. Viam-se as mesmas intermináveis fileiras de homens e mulheres, de chapéus desabados sobre os lenços com que protegem a nuca contra a queimadura mordente do sol, elas de saias presas entre as pernas, como calções de turco, e todos debruçados sobre as vindimas, na eterna atitude de quem ceifa ou vindima, pois por toda a parte estes trabalhos se executam com os mesmos gestos, que vêm de longe, do começo do mundo – são tão velhos como velho é o labor de cultivar a terra.”
Manuel Mendes in Roteiro Sentimental: a sul do Tejo
“Desde o amanhecer, mal as perdizes começaram a cacarejar pelos socalcos, que toda a Cavadinha era uma dobadoira. As mulheres cortavam, as crianças despejavam as cestas cheias, os homens erguiam sobre as trouxas os vindimeiros, e o som cavo do bombo ia abafando pelas valeiras fora o repenicado do harmónio e o tlintim dos ferrinhos. O sol erguera-se já congestionado, e mordia a pele como um sinapismo. (…)”
Miguel Torga in Vindima
Leia mais excertos aqui!
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