Esta colectânea de contos, compilada por Volker Michels, reúne pela primeira vez todos os contos de Hermann Hesse, desde Die beiden Brüder (Os Dois Irmãos), o seu primeiro trabalho em prosa, escrito aos dez anos.
Pequenas histórias, escritas em linguagem simples, mas tão cheias de simbolismos e complexas referências que remetem o leitor para universos que transcendem a efabulação porque repletas de sentido filosófico. A fantasia e a visão mágica dos seres e da Natureza aproximam estes contos da prosa poética. Na sua maioria, avulta a problemática essencial de Hesse, nalguns contos tratada de forma muito depurada: a experiência como unificadora do homem e do Universo, a busca de harmonia e unidade do indivíduo no seu confronto com o Mundo.
Fonte: badana do livro
“Com um estilo muito musical, repleto de belezas, carícias e prodígios, os contos de Herman Hesse são momentos de rara beleza e perfeição na literatura actual.”
Expresso
Excerto do conto “As andanças de um sonho”
Havia um certo homem que exercia a profissão bem pouco considerada de novelista, mas que, no entanto, pertencia àquele grupo de literatos que fazem todos os possíveis por a levar a sério e aos quais, alguns entusiastas, concediam uma veneração semelhante àquela que em tempos, quando ainda havia poesia e poetas, costumava conceder-se aos verdadeiros artistas. Este literato escrevia muitas coisas bonitas: escrevia romances, contos e ainda poesia, e dava-se ao inimaginável trabalho de o fazer bem feito. Todavia, raramente conseguia corresponder às suas aspirações, pois tomando-se embora por uma pessoa modesta cometia o erro de, arrogantemente, não se confrontar com os seus colegas e contemporâneos, seguindo-lhes o exemplo, mas sim com os poetas dos tempos antigos, aquele, portanto, que se haviam afirmado ao longo de diversas gerações. Então, para seu próprio desgosto, tinha de reconhecer sempre de novo que, mesmo a sua melhor página, a mais perfeita, se achava bem distante da frase ou do verso mais esquecido daqueles verdadeiros poetas. E, assim, ele foi-se tornando sempre mais descontente (…)
Durante todo o dia, o literato manteve-se ocupado com o seu sonho e, quanto mais profundamente se embrenhava nele, mais belo lhe parecia, mais lhe parecia superar todos os poemas dos melhores poetas. Longo tempo, e por vários dias, ele perseguiu o desejo e os projectos para narrar este sonho, de tal modo que não só para ele que o sonhara, mas também para os outros, possuísse esta beleza inqualificável e esta mesma profundidade e interioridade. Somente muito mais tarde ele abdicou destes desejos e tentativas, e viu que teria de concentrar-se por ser um verdadeiro poeta, um sonhador, um visionário na sua alma e que a sua obra manual, todavia, teria de permanece a de um simples literato.”
Nota biográfica:
Herman Hesse, poeta e romancista nasceu a 2 de Julho de 1877 em Calw, na Alemanha.
Cedo revelou a sua vocação literária que o faria abandonar os estudos de Teologia e a carreira religiosa. A escolha foi acertada pois manejou como mestre a poesia e a prosa, tendo sido laureado com o “Prémio Nobel da Literatura” em 1946.
Hermann Hesse faleceu a 9 de Agosto de 1962, vítima de hemorragia cerebral.
Deixou uma vasta obra, traduzida em mais de 30 idiomas e é considerado uma dos expoentes máximos da literatura do século XX.
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