ez do entardecer,
espraiando-se sob os campos de trigo doirado, quase maduro. Dos dias cálidos a
prometerem sinfonias de grilos, de cigarras, de ralos e de rãs noites adentro.
Tenho saudades do bailado ondulante das borboletas na Primavera, beijando todas
as flores e do verde fluorescente dos luzecus na parede do meu quintal. Dos
gafanhotos saltitantes que me deliciava a tentar apanhar nas ervas secas junto
à eira onde se malhava o centeio e se estendia o milho ao sol. Tenho ainda
frescos na memória, os lírios que enfeitavam o jardim abandonado, em frente à
casa alta de xisto da prima Augusta, na mesma rua da minha avó e em cujo
telhado de lajes quentes, me sentava junto dela e me demorava a ouvir as suas
histórias de encantar, que me contava por entre costuras de dedal e agulhas
difíceis de enfiar.
Lembro-me das dálias rubras sem canteiro,
nascidas da terra, junto ao corrimão das videiras. Das tangerinas que
salpicavam o chão de cor-de-laranja em volta da tangerineira e das outras que
colhíamos com a escada da azeitona. Dos abrunhos de frança junto à passagem da
casa, a pingarem de mel... das abelhas gulosas e da bilha de barro onde se
guardava a água fresca que nos matava a sede quando em tardes de trabalhos
intermináveis e longe das nascentes onde bastava pousar os lábios sobre a água
corrente da levada.
Tenho saudades dos enfeites e das festas, da
música e do largo cheio de alegria e de gente...!
Texto da autoria de Cleo (Lurdes Dias),
natural da aldeia de Pai das Donas
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