Passageiros em Trânsito é um livro da autoria de José Eduardo Agualusa publicado em 2006, composto por um conjunto de 20 contos, quase todos publicados anteriormente na revista Pública, suplemento do Jornal Público.
As histórias narradas parecem quase improváveis, decorrem em cenários da África, Brasil e Peru, e as suas personagens “passageiros em trânsito” ao mesmo tempo que se revestem de simplicidade, têm sempre alguma peculiaridade insólita.
A procura incessante de quem somos é um ingrediente de todos estes contos. Escritos numa linguagem simples e acessível, mas sempre com um toque de exotismo, cada conto transporta em si uma mensagem simples que nos leva a viajar e a procurar novos horizontes.
Excertos:
“O meu pai dizia-me:
- A vida é uma corrida, meu filho. Quem olha para trás enquanto corre arrisca-se a tropeçar.
Eu não olho para trás. Avanço por vezes de olhos fechados e tropeço, como os outros, e eventualmente caio, mas não olho para trás. Nunca fui pessoa de cultivar saudades. Não colecciono álbuns de fotografias e jamais guardei pétalas secas entre as páginas de velhos livros. Sigo sempre em frente. Quando me perguntam para onde vou encolho os ombros. Rio-me:
- Adiante”
(Um Ciclista)
“Emanuel Sutil olhou-me com desdém. Não respondeu, Já no hall, enquanto escolhia um guarda-chuva discreto, conforme ao meu ofício, entre um denso molhe deles, ainda vi o brasileiro abrir caminho através do fumo espesso e desabar no sofá, junto às duas raparigas louras. Vi-o fechar os olhos. Cruzar os braços sobre o peito magro. Pareceu-me que sorria. Tenho conhecido gente um pouco estranha nestas festas. Existe de tudo. As ocupações mais bizarras. Eu sei, é claro, que isso depende sempre da perspectiva. Eu, por exemplo, vendo caixões. O meu pai vendia caixões. O meu avô vendia caixões. Cresci nisto. Acho até prosaico. Preferia, reconheço, dar aulas de levitação. Paciência. Consola-me saber que a morte é melhor negócio. Como o meu avô dizia – só uma coisa me aflige: a imortalidade.”
(Manual prático de levitação)
O autor
José Eduardo Agualusa, um dos mais importantes escritores africanos da última década, nasceu em Huambo – Angola, a 13 Dezembro 1960. Tem ascendência portuguesa, angolana e brasileira. É casado, pai de dois filhos e divide o seu tempo entre Luanda, Lisboa e Brasil.
Estudou Agronomia e Silvicultura no Instituto Superior de Agronomia em Lisboa, mas rapidamente orientou a sua carreira para a escrita. É romancista, contista, poeta e jornalista.
O livro apresentado encontra-se disponível para empréstimo na
Biblioteca Municipal de Arganil
Biblioteca Municipal de Arganil
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