Na madrugada incerta
Uma fonte acordou.
Nas árvores desnudas
Os gomos estremecem.
De uma nuvem doirada
Duas lágrimas caíram.Ergueu-se a cotovia,
Subiu no ar, cantou.
As rolas arrolaram
Num salgueiral distante.
O voo de uma andorinha
Riscou veloz o céu.Tuas mãos esqueceram-se
Um instante nas minhas.Cruzou-se o olhar surpreso
De dois adolescentes.O cálix de uma rosa
Descerrou o corpete.
E um pastorinho, vendo
Abrir a flor, sorriu.
Américo Durão
In: Poesias Completas
Nota biográfica:
Américo de Oliveira Durão nasceu a 26 de Outubro de 1893 em Coruche.
Licenciado pela Faculdade de Direito de Lisboa, foi diplomata, professor, funcionário superior da Câmara Municipal de Guimarães e da de Lisboa.
Foi colaborador das revistas A Águia, Contemporânea e Seara Nova.
Foi dramaturgo e notabilizou-se como poeta, herdeiro das correntes decadentista e simbolista, como Florbela Espanca, de quem foi amigo.
Faleceu a 7 de Março de 1969, em Lisboa.
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