Faria hoje 90 anos, se fosse viva.
Natália Correia nascida a 13 de Setembro de 1923 na Ilha de São Miguel, nos Açores faleceu no dia 16 de Março de 1993.
Locutora, jornalista, cronista, poeta, prosadora, dramaturga e deputada ficou conhecida como dona de uma personalidade vigorosa e polémica. “Excessiva e transbordante, a sua escrita ameaçava os que não a conseguiam entender, e desafiava os que não tinham a sua coragem.”[1] Deixou-nos uma vasta obra literária, que abrange o conto, o romance, o ensaio, o teatro e a poesia.
“Confesso que só conhecia uma faceta da múltipla personalidade de Natália. Conhecia a mulher de boquilha desafiadora, de paixões arrebatadas e pose deslumbrante, que frequentava tertúlias. A escritora polémica e talentosa, e a deputada possuidora de um sentido de humor muito especial, com brilhantes intervenções na Assembleia da República, ridicularizando episódios da vida parlamentar. A apresentadora do programa de televisão dos anos 80 “Mátria”, de forte presença, gestos teatrais e voz singular, que tinha tanto de extraordinária quão de assustadora.
Mas Natália é muito mais que isso… Natália possuía uma multiplicidade de carácter, que a torna até um ser por vezes contraditório. Capaz de enfrentar os maiores desafios com toda a frontalidade, sabia também ser dissimulada. Por detrás da aparente agressividade – que funcionava como defesa – esconde-se uma mulher frágil, terna e dócil, por vezes ingénua, capaz dos maiores actos de generosidade.”
Paulo Marques – Cadernos biográficos: Natália Correia
Lisboa: Pareceria A. M. Pereira, 2008
Auto-retrato
Espáduas brancas palpitantes:
asas no exílio dum corpo.
Os braços calhas cintilantes
para o comboio da alma.
E os olhos emigrantes
no navio da pálpebra
encalhado em renúncia ou cobardia.
Por vezes fêmea. Por vezes monja.
Conforme a noite. Conforme o dia.
Molusco. Esponja
embebida num filtro de magia.
Aranha de ouro
presa na teia dos seus ardis.
E aos pés um coração de louça
quebrado em jogos infantis.
Natália Correia in Poesia Completa
Publicações Dom Quixote, 1999
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[1] Maria Amélia Clemente Campos in Público nº 8556 (13.09.2013)
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