Carta ao Futuro é exactamente aquilo que o titulo indica - é uma longa carta, escrita por Vergílio Ferreira, destinada a ser lida daqui a alguns séculos ou milénios. Ao longo do texto o autor identifica todas as questões existenciais existentes agora e desde sempre, questões ligadas à verdade, a Deus, à vida e à morte, ao absoluto e à arte, com o propósito de perguntar ao futuro se lá essas questões ainda existem ou se já foram resolvidas.
“Escrevo-te para daqui a um século, cinco séculos, para daqui a mil anos… É quase certo que esta carta te não chegará às mãos ou que, chegando, a não lerás. Pouco importa. Escrevo pelo prazer de comunicar. Mas se sempre estimei a epistolografia, é porque é ela a forma de comunicação mais directa que suporta uma larga margem de silêncio; porque ela é a forma mais concreta de diálogo que não anula inteiramente o monólogo. (…) “
"Estamos instalados na vida como se nós próprios não existíssemos, como se fôssemos o próprio mundo que existe, a própria realidade que é, a sua presença absoluta de estar sendo. E a simples reflexão de que é o mundo que depende de nós, de que a sua maravilha está suspensa, para nós, do nosso olhar, dá-nos vertigens. Que admira que uma pequena invenção técnica nos perturbe, nos abra a velha interrogação? Eis que depois de abarcarmos a terra, de a colocarmos na mão como a pequena bola de um deus poderoso, depois de nos confrontarmos nas nossas raças, nos nossos sonhos milenariamente solitários, depois de esgotarmos a nossa procura mútua, eis que acabamos de rasgar os espaços até lá de onde a nossa imaginação descobre o vazio que nos circunda, descobre, num arrepio, o nosso pobre globo perdido na poeirada dos astros, recorda, com uma nova evidência, a infinitude das distâncias que o unem ao universo. E uma vez mais a velha angústia de um Lucrécio, de um Pascal, em face da eternidade da noite, nos desvaira de aflição. Possivelmente, meu amigo, quando esta carta te chegar às mãos, se chegar, estarás tu já instalado em indiferença no meio de quanta nova invenção que não sabemos nem imaginamos."
Leia, porque ler é um prazer!
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