terça-feira, 9 de março de 2021

Paris da minha ternura

 




Mário de Sá-Carneiro nascido em 1890, em Lisboa, passou grande parte da vida em Paris, onde contactou com os grandes artistas do seu tempo. Assistiu à maior revolução artística do seu século — a Vanguarda –, algumas vezes com grande cepticismo, outras com entusiasmo. O relato dessa aventura está nas cartas que trocou com Fernando Pessoa, escritor, “irmão de Alma”. Com ele fundou em 1915 a revista Orpheu, um dos mais importantes acontecimentos literários do século XX em Portugal.

Sá-Carneiro partiu para Paris em 1912, com o pretexto de cursar a Faculdade de Direito, atraído pela vida cultural e boémia, sustentada pelas mesadas que o pai lhe remetia com intermitências.

Sá-Carneiro escreveu todos os seus poemas entre 1913 e 1916, a maior parte deles em Paris. Em 1914 saiu o seu primeiro livro de versos, Dispersão, em edição do autor, e apenas em 1937, vinte e um anos após a sua morte, a Editorial Presença publica o seu segundo livro do mesmo género, Indícios de Oiro. Os manuscritos que viriam a compor esse volume haviam sido enviados a Fernando Pessoa antes de Sá-Carneiro, a 26 de Abril de 1916, se suicidar num quarto do Hotel Nice, em Paris, e ficado a seu encargo para que os publicasse da maneira que lhe parecesse melhor. 

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A ideia de cosmopolitismo é um traço da mentalidade modernista. Os autores desta corrente veêm a cidade como sendo fonte de inspiração. Um meio de expandir ideias e mundo.

Para Sá-Carneiro, foi mais de que isso. Tratou de se distanciar do quotidiano que o rodeava, de Lisboa e dos conhecidos. De algum modo isolar-se e afastar-se do que lhe gerava ansiedade.

No poema  Abrigo, Sá Carneiro canta a cidade luz com a nostalgia e o distanciamento de um exilado, de quem se projecta para longe dela.

Mais de que cantar Paris pelos sentidos, parece cantá-la pelos afectos. Os estudos em torno da obra poética do autor, levam a crer que a forma como Sá Carneiro evoca Paris é muito maternal, relacionando-se de algum modo com a sua própria infância e a perda da mãe em terna idade. Quer a relação com Paris, quer a relação com a infância parece ser feita da dualidade entre o que é sonhado e o que é vivido. Embora o aproxime da infância, Paris é também um bem distante, ao mesmo tempo sua “febre” e sua “calma”, “Mancenilha e bem-me-quer”, “lobo e amigo”, sua “Lua” e sua “Cobra”.

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O texto acima publicado foi contributo para o serão dos Amigos de Ler de março, que teve como tema a palavra CIDADE(S).

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