Cruzei-me há poucos dias com o termo Biblioterapia. Era completamente novo para mim e estando ligado a uma das minhas maiores paixões: o livro e a leitura, a curiosidade de o desvendar despoletou. Pesquisei em livros e revistas da especialidade e por fim recorri às novas tecnologias. Digitei a pesquisa no Google e fui analisando os resultados, seleccionei alguns dos textos encontrados e por fim mergulhei na sua leitura, a fim de compreender este conceito.
O que é então a biblioterapia?
O que é então a biblioterapia?
Em 1949, Caroline Shrodes, na sua tese Bibliotherapy: a theoretical and clinica-experimental study (Biblioterapia: um estudo teorético e clínico-experimental) formulou o conceito de biblioterapia como sendo “um processo dinâmico de interacção entre a personalidade do leitor e a literatura imaginativa, que pode atrair as emoções do leitor e liberá-las para o uso consciente e produtivo.” Para a Autora, “a literatura ficcional é a mais indicada para garantir uma experiência emocional do leitor, efectivando a terapia de introspecção capaz de efectuar mudanças”.
Muitas outras definições foram surgindo ao longo dos anos, mas até à data o estudo de Caroline Shrodes continua a ser o referencial teórico básico das pesquisas sobre biblioterapia.
É no entanto ponto comum entre os vários estudos que a leitura constituiu uma forma de terapia na medida em que esta é um processo dinâmico, sempre em alteração e movimento. Ou seja a leitura é susceptível de provocar a mudança.
Mas como pode a leitura provocar mudança?
De acordo com Alice Bryan (SHRODES, 1949) “a leitura implica uma interpretação - que é em si mesma uma terapia, posto que evoca a ideia de liberdade - pois permite a atribuição de vários sentidos ao texto”. O leitor rejeita o que não aprecia e valoriza o que lhe agrada, dando vida e movimento às palavras, numa contestação ao caminho já traçado e numa busca de novos caminhos. Ou seja, o efeito terapêutico da leitura reside no seu processo narrativo/ interpretativo. Este processo permite ao leitor verificar que há mais de uma solução para o seu problema; ajuda o leitor a comparar as suas emoções com às emoções dos outros; auxilia o leitor a pensar na experiência de vida em termos humanos e não materiais; proporciona informações necessárias para a solução dos problemas, e, estimula o leitor a encarar sua situação de forma realista de forma a conduzir à acção.
Isto significa portanto, que a biblioterapia não contempla apenas a leitura, mas também o comentário que lhe é adicional. Ou seja esta terapia não consiste no simples acto de reconhecer as letras e as palavras, mas implica, a sua interpretação. É necessário transformar a mera informação em conhecimento, processo que envolve reflexão.
Citando Alberto Manguel “para chegar mais longe e de uma forma mais profunda, para ter a coragem de enfrentar medos, dúvidas e segredos ocultos, para questionar o funcionamento da sociedade, necessitamos de aprender a ler de outra maneira, de forma diferente, que nos permita aprender a pensar.”
É certo que esta terapia terá com certeza mais eficácia nos problemas de foro psicológico, porém há muito tempo é defendido que a saúde física está intrinsecamente ligada à saúde psicológica. Já desde a época de Sócrates muitos filósofos e intelectuais defendiam que não é possível curar o corpo sem primeiro curar a alma, lugar de onde tudo fluí. Sócrates defendeu que a alma deve ser tratada mediante certos conjuros, esses conjuros são os discursos belos. E estes certamente, poderão ser encontrados nos livros.
Todos podemos portanto praticar a biblioterapia para aliviar as tensões diárias. As pessoas devem familiarizar-se com o livro não apenas como um objecto de trabalho. Ele é muito mais do que isso. O leitor deve deixar que as letras formem frases significativas e encantem os momentos do seu dia. Desta forma, estará ao mesmo tempo a receber e a transmitir experiências, que o conduzirão num processo de crescimento mútuo gerado pelo efeito do encontro entre o leitor e o conteúdo do livro.
Miriella de Vocht
12 de Junho de 2009
12 de Junho de 2009
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