Russita: céu no rio e peixes nas árvores é o primeiro livro de Eulália Gameiro, professora de Língua Portuguesa e Inglês no Agrupamento de Escolas de Arganil e professora bibliotecária. Trata-se de um conjunto de histórias que narram o quotidiano de uma criança no ano que antecede a sua entrada para a Escola Primária, ano em que a protagonista se prepara para abandonar a primeira infância.
De acordo com Ana Filomena Amaral, que apresentou o livro “é um livro de memórias e de histórias, que começam, cada uma delas, com um provérbio popular e que tem como protagonista a Clarita”, “a grandeza do livro, protagonizado por uma criança está em deixar margem ao leitor para descobrir o que fica oculto. E onde a palavra diz tudo”.
De acordo com a autora do livro que agora destacamos “é uma obra de fixação, que fantasiei, fazendo uma viagem de regresso à infância e onde recupero parte da tradição oral.”
De acordo com a autora do livro que agora destacamos “é uma obra de fixação, que fantasiei, fazendo uma viagem de regresso à infância e onde recupero parte da tradição oral.”
“Difícil é rato fazer ninho, atrás de orelha de gato
A Charica era a minha gatinha. Não sei quem lhe deu o nome, porque quando nasci, já ela estava lá em casa. E que grande responsabilidade era ser gato, na minha casa! Um gato tinha de cumprir a principal tarefa que lhe competia: caçar ratos! E a Charica era muito competente. Não lhe escapava roedor que se aventurasse pela cozinha, em busca de pedaço com que saciar a larica; nem aquele que sorrateiramente rondasse o quintal ou se infiltrasse na capoeira das galinhas para rebuscar qualquer grãozinho de milho perdido ou resto de amassadura com couves e farinha…”
A Charica era a minha gatinha. Não sei quem lhe deu o nome, porque quando nasci, já ela estava lá em casa. E que grande responsabilidade era ser gato, na minha casa! Um gato tinha de cumprir a principal tarefa que lhe competia: caçar ratos! E a Charica era muito competente. Não lhe escapava roedor que se aventurasse pela cozinha, em busca de pedaço com que saciar a larica; nem aquele que sorrateiramente rondasse o quintal ou se infiltrasse na capoeira das galinhas para rebuscar qualquer grãozinho de milho perdido ou resto de amassadura com couves e farinha…”
Nota: este livro encontra-se disponível para empréstimo na Biblioteca.
Leia, porque ler é um prazer!
Maria Margarida Rodrigues – Professora de Português
ResponderEliminarAdorei os contos. Que delícia! Uma escrita simples, fluida, doce e muito expressiva que nos transporta para o local da ação num ápice e nos envolve completamente. É tão bom, que sabe a pouco...não sacia!
Maria de Fátima Lourenço Mendes – professora de Geografia
ResponderEliminarAcabei de ler as tuas histórias. Simplesmente, adorei!
A escrita é muito fluente e prende-nos bastante. Enquanto lia, esquecia-me de tudo o que estava à volta e entrava totalmente no mundo da Russita, aliás um mundo fascinante, que me levou a recordar os momentos vividos na casa dos avós.
São, na verdade, histórias para jovens e adultos. Os primeiros aprendem a conhecer melhor o passado do nosso país, os segundos deliciam-se com as recordações da sua infância.
Esta obra tem tudo para ser um sucesso: rigor linguístico, informação científica, sentido de humor, promoção de uma sociedade inclusiva (Russita é o nome proferida pela menina com deficiência...)
Desejo que esta Obra tenha um grande sucesso, proporcional à qualidade que possui.
Idalina Ribeiro – professora de Português aposentada.
ResponderEliminarParabéns, Eulália, por esta Russita que traz para o presente um tempo e um lugar reais, de muitos esquecido e de tantos desconhecido. E parece-me que está lá tudo: a partilha do trabalho e lazer (que pena ter-se perdido!), as carências enormes, a dureza da vida rural, as condições do dia a dia contadas com realismo e humor " monco enorme a escorrer pelo nariz", mas também a ternura dos afetos. Foi doce reconhecer palavras que foram minhas, porque da minha infância e que, sem dar por isso, deixei de usar. Emocionei-me com a sensibilidade desta Russita traduzida em belas metáforas, com a melopeia das cantilenas e a riqueza das onomatopeias. Achei muito interessante o fio condutor, os provérbios.
Ana Paula Monteiro – professora de Português do ensino Secundário
ResponderEliminarParabéns, Eulália!
A força plástica e musical do título − Russita, Céu no Rio e Peixes nas Árvores − é admirável. É um título poderoso, pois desenha, desde logo, como diria Jean Cocteau, um majestoso ponto de interrogação.
Ao ler esta obra, os que já têm gravadas, no corpo e na alma, as marcas da passagem indelével do tempo recordarão, no presente, o que vivenciaram, viram ou ouviram no passado e os que, no presente, caminham na luminosidade dos dias, aprenderão o que outrora já foi, mas já não é, embora nunca deixe de o ser.
Tentei lê-la numa só noite, mas rapidamente desisti dessa ideia. “ Há livros de que apenas é possível provar, outros que têm de se devorar e, outros, enfim, mas são poucos, que se torna indispensável mastigar e digerir.” (Francis Bacon) Este é, sem dúvida, um deles!
Pela mão da Clarita, a “ Russita de má’ pelo”, é possível recordar ou descobrir um passado que merece e precisa de ser imortalizado. Só a arte é capaz desse prodígio! Não se trata, neste caso, de um passado de ”grandes feitos”, mas de feitos grandes, levados a cabo por construtores importantíssimos e, não raras vezes esquecidos, da nossa identidade nacional.
Escrever, como diz Mauriac, é lembrar-se, mas ler é também lembrar-se. A “Russita de má’ pelo” levou uma “morenita de bom pelo” a envolver-se e a recordar cheiros, tradições, cantilenas, formas de tratamento, adivinhas, profissões, enfim, um vastíssimo património oral que, embora não soubesse, estava preciosamente guardado na caixa mágica dos pertences da sua infância.
A redescoberta, a par da descoberta (quantas curiosidades eu desconhecia…), guiada pela mão da doce “Russita de má’ pelo”, só foi possível graças à magia da linguagem, capaz de mostrar, muitas vezes, que a coloquialidade pode ser a mais elevada forma de escrita, pois é o reflexo fidedigno da sabedoria do povo. A presença de arcaísmos, regionalismos, termos da gíria popular e de expressões que, vigorosamente, vão resistindo à passagem do tempo caracterizam a excecional riqueza lexicológica desta obra, pela qual, desde a primeira página, me enamorei.
Para terminar, atrevo-me, ousadamente, a dizer que esta obra terá nascido de uma inquietação interior, uma espécie de grão de areia− diria eu− que terá obrigado a autora a reagir, ou seja, a escrever, tal como uma ostra se sente obrigada a produzir nácar quando invadida por um corpo estranho. Desse nácar, isto é, dessa inspiração criadora, depositado(a) em sucessivas camadas em redor desse grão de areia, nasceu uma pérola perfeitamente esférica, das mais valiosas, como sabemos, ou seja, a obra Russita, Céu no Rio e Peixes nas Árvores.