FábulaNão a lua do vulgo fria
e aburguesadamente calma
Mas de outra que se refletia
nos poços da sua alma
A lua dos poetas aéreos
criada por mãos impossíveis
num gesto lasso mole…
A senhora de vagos mistérios
criadora de mundos falíveis
à luz do sol
E o lobo sombrio e langue
que sob a lua vadiava
por montes e sombras de povoado
apenas delirava
bebendo sangue
das reses do rebanho imaginado
E a lua era a sua janela
o campo a chegada e a partida
o palco o público e a cena
de tudo Por isso fora dela
não habia poesia nem vida
que valesse a pena
Sua dor que vinha do fundo
em galopadas a esmo
tornava-se a maior dor do mundo
porque ele devorava-se a si mesmo
Então, aos uivos, mordia a lua
nos poços da alma espelhada
mas a boca ficava nua
água de poço e mais nada
Vai um dia
após noites amarelas
ao fugir dos longos fantasmas da lua
bateu com a alma na esquina da rua
e viu estrelas
as primeiras estrelas vividas
Luís Veiga Leitão inLongo caminho breve: poesias escolhidas 1943-1983
Livro disponível para empréstimo na Rede de Bibliotecas Públicas de Arganil.
Leia, porque ler é um prazer!
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