quinta-feira, 16 de julho de 2009

Um homem e duas mulheres de Doris Lessing


“Um homem e duas mulheres”, originalmente publicado em 1963, é uma colectânea de histórias da autoria de Doris Lessing, galardoada com o Nobel da Literatura em 2007. O Comité da Academia Sueca para atribuição dos prémios Nobel justifica que Doris Lessing foi laureada com o mesmo pela sua “capacidade de transmitir o sentido épico da experiência feminina e narrar a divisão da civilização com cepticismo, paixão e força visionária.”

A acção da maior parte destas histórias situa-se na Inglaterra, em Londres e nos seus subúrbios, e em África. A vida familiar, os dilemas do indivíduo numa sociedade fluida e o destino da mulher são as principais temáticas das 19 histórias que compõem esta colectânea.

Utilizando uma linguagem rica e por vezes densa, Doris Lessing, dá aos enredos uma força emocional inesperada. A inquietude está quase sempre presente na acção das personagens e existe frequentemente um sentimento de obsessão.

Excertos:

A história de dois cães

“Agora, o Jock estava totalmente só. Passava a velhice estirado ao sol, o focinho apontado para os quilómetros e quilómetros de mato entre a nossa casa e as montanhas, onde caçara na companhia de Bill durante tantos anos. Estava, de facto, muito velho, com as pernas entorpecidas e o pêlo ralo; respirava com muita dificuldade e cansava-se facilmente. Às vezes, à noite, quando a lua estava alta, saia de casa e punha-se a uivar; costumávamos dizer nós: «Está a chorar a perda do Bill.» Voltava, para se deitar sobre os joelhos da minha mãe, recostando a cabeça para ela o acariciar. A minha mãe dizia: «Pobre Jock, meu pobre velhote, estás a chorar por teres perdido aquele cão mau, o Bill?» (…)”

O Quarto 19

(…) Sim, precisava de estar num lugar ou numa situação em que não fosse necessário lembrar-se constantemente de si própria, lembrar-se de, por exemplo: «Dentro de dez minutos tenho de telefonar ao Matthew sobre… e às três e meia tenho de sair, indo buscar as crianças mais cedo, pois o carro precisa de ser lavado. E amanhã às dez horas tenho de me lembrar de…» Sentia-se possuída pela obsessão de que essas sete horas de liberdade em cada dia (durante os dias da semana do período escolar) não estavam, afinal, totalmente livres para ela; de que nunca, nem por um único segundo, estava livre da pressão do tempo, estava livre de se preocupar com isto ou com aquilo. Nunca conseguia esquecer-se de si mesma, nunca conseguia mergulhar profundamente no esquecimento absoluto. (…)”

Um livro que vale a pena ler!
Leia, porque ler é um prazer.

1 comentário:

  1. Também gostei do livro. As sua escrita é bastante pessimista, mas temos que admitir que tem razão.

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