segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Novidade na biblioteca: Dois corpos tombando na água

Este livro de poesia de Alice Vieira já não é novo no mercado, foi publicado em 2007 pela Caminho e agora integrado na nova série da colecção prosa & poesia da revista Visão.

Conhecida pela sua vasta obra infanto-juvenil, Alice Vieira surpreendeu quando sob o pseudónimo de Filipa Sousa e Silva, apresentou a concurso na 8ª edição do Prémio Literário Maria Amália Vaz de Carvalho “Dois corpos tombando na água”, e obteve o primeiro lugar, recebendo os votos unânimes dos críticos literários Fernando J. B. Martinho, Fernando Pinto do Amaral e José Correia Tavares, da Associação Portuguesa de Escritores.

Fernando Pinto do Amaral, porta-voz do júri, considerou ser “arriscado escrever poesia de amor, devido à monotonia temática, à linguagem geralmente codificada e sujeita a lugares-comuns”. Contudo, o júri reconheceu que “Alice Vieira, com versos intensos e pungentes, conseguiu escapar a todas essas armadilhas e, num tom intimista, demonstrar a capacidade de dádiva e entrega que o amor nos ensina”.

A leitura deste pequeno livro de poesia cativa e agarra o leitor, a sequência entre os versos é tão harmoniosa que é impossível parar a leitura antes de chegar ao fim. A autora pega nas palavras e de uma forma surpreendente consegue através delas transmitir ao leitor a tristeza e a alegria, as sensações, os odores e os sabores do amor.

Este foi o primeiro livro de poesia publicado por Alice Vieira, e como a própria afirmou em entrevista ao jornal Público “é um livro de paixão, que relata uma história.”

“da porta do café via-se a rua foi assim
que eu comecei por falar de ti aos meus amigos
como se fosse mais uma árvore a nascer
entre os carros da cidade

e para lá da rua continuei um cão
perdido sem coleira murmuro ele repente
a memória trazendo-me sem querer o nome
daquele romance do Cesbron que estava tão na moda
nesse tempo em que pensávamos que a literatura
ia salvar o mundo

muito possivelmente nem te lembras
que livro foi esse que então lemos juntos
e sublinhámos e soubemos de cor e se calhar
é bem melhor assim nunca
se deve regressar aos livros onde fomos felizes
esta é como deves saber uma regra a não quebrar
em caso algum

olho agora para ti e sei que muitas estradas
envolveram de pó os passos que te procuravam
e as palavras nem sempre foram concordo as
que teriam sido necessárias para que uma noite
o meu nome rompesse de ti como um sopro impuro
e fechasses os olhos à tímida recordação
do que em ti apressadamente
há tantos anos eu tinha deixado”

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Calendário poético

A Biblioteca Municipal de Coimbra propõe através do seu calendário poético on-line a leitura diária de um poema.

“Neste ano de 2011 A Poesia dos Dias conhece mais uma edição, desta vez sob o título “Todo o tempo”, incipit do conhecidíssimo poema de António Gedeão, poeta e homem de ciência. Ao contrário das edições precedentes, o calendário poético não foi pensado especificamente em função de uma efeméride a comemorar: basta o desejo de continuar a LER + POESIA.”

Porque ler é um prazer, aqui fica a sugestão, pois como diz António Gedeão “todo o tempo é de poesia."

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

O seminarista

Quando o assassino profissional, conhecido pela alcunha de o Especialista, pensa reformar-se, verifica que a sua vida está demasiado envolvida nos casos que foi “despachando” ao longo dos anos. Recordando os “trabalhos” mais complexos ele conclui que o que fez não o afectou, foi apenas trabalho, não lhe deu qualquer prazer. O prazer está nos livros que lê, nos filmes, e nas mulheres que vai conquistando ao longo da vida.

“O seminarista” é um policial com um toque de barbárie que o torna forte. A violência, o erotismo, mas também a irreverência fazem da escrita de Rubem da Fonseca um caso muito interessante da literatura em língua portuguesa.

Nascido no Brasil em 1925 fez um percurso de vida repleto de experiências percorrendo várias profissões até se licenciar em Direito e se tornar Professor. A grande paixão pela leitura que o acompanha desde criança deu-lhe, certamente, o lastro para a escrita que, no entanto, só lhe é reconhecida já perto dos 40 anos de idade. Rubem da Fonseca é hoje considerado um dos maiores contistas brasileiros com treze colectâneas de contos, onze romances e muitas crónicas.

Um livro que nos prende do principio ao fim e que pode requisitar na Biblioteca Municipal de Arganil.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Compreensão leitora

Estão disponíveis on-line, desde Dezembro de 2010, no site da Universidade do Minho dois interessantes estudos que têm como objectivo promover a leitura e a literacia através do desenvolvimento da compreensão leitora.

“O ensino da compreensão leitora: da teoria à prática pedagógica” é um Programa de Intervenção para o 1.º Ciclo do Ensino Básico da autoria de Fernanda Leopoldina Viana, Iolanda da Silva Ribeiro, Ilda Fernandes, Albertina Ferreira, Catarina Leitão, Susana Gomes, Soraia Mendonça e Lúcia Pereira.
De acordo com Alina Galvão Spinillo, autora do prefácio, “este livro não é um manual de procedimentos a serem seguidos ou um roteiro de actividades a serem mecanicamente aplicadas em sala de aula. Pelo contrário, esta obra pressupõe um professor activo que é sistematicamente requisitado a entender o que faz e a mediar as interacções entre os alunos e as actividades propostas. Pressupõe, também, um aluno intelectualmente desafiado a compreender textos cada vez melhor.” E conclui que esta obra “ensina professores a ensinar seus alunos a compreender textos. Ao aprender a compreender, os alunos, por sua vez, serão capazes de compreender para aprender, no sentido de entenderem os conteúdos das mais diversas áreas do conhecimento; pois, como dito pelas autoras: aprender a compreender torna mais fácil o saber.”

“Compreensão da Leitura. Dos modelos teóricos ao ensino explícito” é um Programa de Intervenção para o 2.º Ciclo do Ensino Básico da autoria de Iolanda da Silva Ribeiro, Fernanda Leopoldina Viana, Irene Cadime, Ilda Fernandes, Albertina Ferreira, Catarina Leitão, Susana Gomes, Soraia Mendonça e Lúcia Pereira. A obra parte do pressuposto que a leitura se baseia em dois pressupostos: o processo de descodificação e o processo de compreensão. Pode ler-se no prefácio da autoria de Leonor de Queiroz e Lencastre que “A forma como o programa concebe as estratégias de promoção da compreensão faz da leitura um processo de descoberta e resolução de problemas, que, por sua vez, evidencia o carácter de prazer a que o acto da leitura deve estar associado”

Estes estudos resultam de um projecto de investigação-acção associada ao projecto Litteratus, cujo objectivo é promover a leitura e a literacia.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

BEM-ME-QUEREM

Bem querem a Maria Leonarda Tavares, a Diana, a Azinheira e o Carriço, O Fred Catabugalhos, o Bobi e a Felicidade, a Mariazita e os muitos outros personagens que tecem e enredam o universo narrativo de Bem-me-querem. Bem lhe querem também os leitores, por mais esta obra com que a autora acaba de os presentear, com eles partilhando os valores e os encantos que a comprometem e movem, na vida e nas causas sociais que abraça.

Bem-me-querem é um conjunto de histórias de generosidade e afecto, no relacionamento de pessoas e animais, animais entre si e com outros elementos da natureza. Maioritariamente, são histórias reais que a autora recorda e recria, ficcionando-as e conferindo-lhes a magia da personalidade escrita. Os protagonistas são bichos, mas são também pessoas e, sobretudo, a autora, cuja emoção e poder comunicativo nos permitem visualizar situações, (re)visitar tempos e lugares, viver amores e amizades possíveis e aparentemente impossíveis, chorar e conter as lágrimas, acalentar o sonho de continuar a sonhar … Lendo-a, celebramos, com S. Francisco de Assis e tantos outros pensadores, a irmandade, a igualdade e a interdependência de todos os seres vivos, cada um existindo e valendo por si próprio, independentemente do valor e da utilidade que o homem lhe atribui.

Misto de crónica e fábula, Bem-me-querem são histórias que a memória e o passado alicerçam para afirmar e questionar o presente: “Todos os que amei estão vivos porque os guardo na memória” (P. 86). “Terei alguém na velhice que me queira tanto? A quantos de nós humanos o destino consente uma velhice tão estimada e tão digna como a tua?” (P.93). Histórias alicerçadas na memória também para prenunciar o futuro, e o obrigar a cumprir-se favoravelmente, pelas lições de vida e solidariedade que comportam. Dizia alguém que a grandiosidade de uma nação e o seu progresso moral se podem medir pelo modo como trata os animais. Já agora, também os idosos e as crianças.

Ao ler o livro de Maria Leonarda Tavares, lembrei-me, entre outros, de obras e autores como A minha Família e outros Animais, de Gerard Durrell, Bichos, de Miguel Torga, Cão como nós, de Manuel Alegre, História de uma Gaivota e do Gato que a ensinou a voar, de Luis de Sepúlveda, O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá, de Jorge Amado, Romance da Raposa, de Aquilino Ribeiro … Grande plêiade! Embora diferentes quanto ao estilo e ao contexto em que se desenrolam, são obras que vêem e admiram a diversidade dos seres vivos, irmanando-os, na singularidade de cada um, pela nobreza das qualidades com que agem ou pela falta dela.

Encantada e seduzida, gostei muito de ler Bem-me-querem, inclusive porque encontrei no livro muitos dos ingredientes que fazem a essência humana: a inteligência e a magnanimidade de espírito, a compaixão, a felicidade, o amor, a ternura, o encantamento, a ingenuidade, a pureza, a solidariedade, o respeito pelas diferenças e pela diversidade … Deixe-se encantar e seduzir você também! O livro encontra-se disponível na Biblioteca Municipal Miguel Torga (Av. das Forças Armadas. 3300-011, Arganil), podendo ainda ser encomendado através dos telefones 235202462 966581635.

Tomando de empréstimo a metáfora com que a autora se despede do esquilo, “Sinto-me maravilhada por nos termos encontrado na vastidão do mundo” (P. 74).

Lisete de Matos

Açor, Colmeal, 14 de Dezembro de 2010.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Dia Mundial da Paz

O Dia Mundial da Paz foi criado pelo Papa Paulo VI em 8 de Dezembro de 1967 e celebrado pela primeira vez em 1 de Janeiro de 1968.

A celebração deste dia leva-nos a reflectir sobre o mundo, a natureza e o uso que o homem faz dos recursos que lhe são dados no ambiente natural que o rodeia. Sabemos que o homem é um ser preparado para a sobrevivência, que perante a adversidade reage, instintivamente, protegendo-se. É impressionante a capacidade de resistência de recém nascidos abandonados, como por vezes ouvimos noticiar. Mas será o homem capaz de resistir sem a almofada da natureza? Em que se transformará se conseguir sobreviver?

Apesar de muito se falar na protecção da natureza a verdade é que as sociedades actuais, mais do que em qualquer tempo histórico, são muito agressivas com o meio ambiente. O actual modelo de desenvolvimento baseado no conforto e na abundância é pouco respeitador dos princípios que deveriam proteger o mundo natural. A actividade económica perseguindo o lucro e a criação de riqueza esquece os princípios básicos da sobrevivência do mundo natural agredindo continuamente o ambiente.

A pergunta que se impõe é: que mundo queremos deixar para as gerações que nos vão suceder? Que mundo vamos deixar às gerações vindouras? Estaremos a ser solidários com esses homens e mulheres, que poderemos vir a não conhecer, mas que irão ter em si os nossos genes? Estaremos a ser solidários com eles? Até que ponto a nossa herança vai permitir que eles se desenvolvam integralmente como seres humanos e beneficiem de uma distribuição solidária de recursos que nós fomos, ou não, capazes de lhes deixar.

Esta solidariedade de dimensão mundial baseada nos critérios de Justiça e do Bem Comum estarão dependentes de novas atitudes e de um novo estilo de vida, em que a busca do Bom e do Belo e a Comunhão entre todas as Pessoas devem determinar as opções de consumo, de poupança e de investimento e os jovens devem ser ajudados em família e na sociedade em que se integram a respeitarem-se a si próprios porque, respeitando-se a si próprios estão preparados para respeitar os outros, a respeitar a natureza e a serem mais Felizes porque a Beleza e a Harmonia da Natureza transmitem Paz e Tranquilidade.

O poder humano e a técnica quando tidos como absolutos são um grave atentado à natureza, mas também à própria dignidade humana. É importante proteger o ambiente natural para construir um mundo de Paz.

Margarida Fróis