sexta-feira, 23 de setembro de 2022

Tempo para a poesia XCV

Cor a P/B de Ana Margarida Craveiro
Coimbra: Pé de Página, 2003
ISBN 972-8459-75-0

Do Amor

Tome-se o suave sabor da memória escolhida e misture-se numa espiral de negativos e coloridos esticados, numa curva sem centro. O tempero é próprio do comprimido sem o qual não se seria dependente, que é afinal o estado da fervura ideal. Depois de dissolvida no tempo da água chorada, sobre uma massa debaixo das estrelas, uma estrada escura de mãos dadas com o silêncio cúmplice. A cereja do bolo é concerteza o beijo nunca dado nessas condições, mas que se torna súmula do quente do lenços e do frio aconchegador que é o edredon de nevoeiro. A rua por uma vez tem estrelas, a esquina da casa é o enorme prado do campo do amor, idílico na sua impossibilidade. Mas é bom morder o doce e sorrir na vertigem de um passado de fita de cinema caída, enrolada no chão sobre si mesma, num abraço de união desesperada.

Ana Margarida Craveiro in Cor a P/B

Livro disponível para empréstimo na Rede de Bibliotecas do Concelho de Arganil.

Leia, porque ler é um prazer!

segunda-feira, 19 de setembro de 2022

“Estava para não ser assim, mas o mundo mexeu-se" de José António Franco

“Estava para não ser assim, mas o mundo mexeu-se [45 anos de] perambulação poética”, da editora Livros do Corvo, é o mais recente livro da autoria de José António Franco.

A obra, editada em 2021, é resultado de uma compilação de poemas que o autor escreveu ao longo de 45 anos de dedicação a este género literário, presentes em três dos seus livros editados (véspera tardia, 1896; Pedra fecunda, 1987 e Paisagem sem noite, 1993), mas não só. Neste livro revelam-se, também, poemas inéditos de José António Franco o que torna a obra, quase integralmente, um livro novo. António Pedro Pita, docente da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, é o responsável pela organização, prefácio e notas complementares desta obra.

No prefácio revela que o autor, José António Franco “avaliou a produção de quase meio século e o resultado dessa avaliação é o livro que ora se apresenta. António Pedro Pita refere que José António Franco é um poeta maduro e que este livro não pretende ser uma “eventual” obra completa no futuro, mas é antes um avaliar ou fazer o balanço da produção poética produzida ao longo de 45 anos.

O mundo que José António Franco expressa através da sua poesia é um mundo não explicado em permanente devir para o enigma de uma explicação. A poesia de José António Franco é “meticulosamente trabalhada”. O recurso à personificação de coisas ou ideias; as sonoridades, a desarticulação dos versos ou de palavras são alguns dos aspetos que caracterizam desde a sua estreia em 1986 a produção poética do autor.

“As palavras nos livros não se calam, mas há certos livros em que as palavras nos tocam mais do que em outros”. É este o caso de “Estava para não ser assim, mas o mundo mexeu-se” que nos leva a mergulhar num universo poético profundo, belo, envolvente, duro, capaz de nos despertar os sentidos, fazer parar e muitas vezes reler para voltar a sentir a força das palavras.

Livro disponível para empréstimo na Biblioteca Municipal de Arganil.

O autor:

José António Franco nasceu em Coimbra, em 1951. É professor de inglês, poeta e ficcionista premiado, autor de histórias e poesia para a infância e juventude, com vários livros no Plano Nacional de Leitura. 

A sua produção literária teve início em 1986, com a obra poética “Véspera Tardia”, assinada sob o pseudónimo de António Simões. Tem-se dedicado à didática da poesia, trabalhando essencialmente com crianças e jovens dos Ensinos Básico e Secundário, com quem partilha o prazer de ouvir e dizer o poema. Sobre essa experiência realiza conferências e ações de formação para professores, bibliotecários e educadores.

Em 1997, foi galardoado pelo Instituto de Inovação Educacional no Concurso “Experiências Inovadoras no Ensino” pelo projeto “A Poesia como Estratégia”, divulgado num ensaio homónimo que é obra de referência para o ensino de português (leitura) no Ensino Básico.

Publicou ainda textos dispersos em jornais e revistas nacionais e galegas e blogues brasileiros. Está representado em diversas antologias.


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sábado, 17 de setembro de 2022

"Heitor e a procura da felicidade" de François Lelord

Alfragide: Lua de papel, 2011
ISBN 978-989-23-1380-1

Era uma vez um jovem psiquiatra chamado Heitor que tinha quase tudo o que desejava. Vivia numa bela cidade, Paris, e tinha uma namorada cobiçada por todos. Tinha também muito sucesso, porque gostava verdadeiramente de ajudar os seus pacientes. Só havia um problema: Heitor não era feliz. 

Um dia resolveu tirar férias, coisa que nunca fazia. E decidiu que na sua viagem à volta do mundo tentaria compreender o que fazia as pessoas felizes ou infelizes. Estava convencido de que assim, se houvesse um segredo para a felicidade, acabaria por o descobrir. 

Começa aqui a epopeia de Heitor. Munido de um bloco de notas, parte para a China, daí para África, mais tarde para os Estados Unidos. E em cada paragem, aprende sempre um pouco mais, sobre o amor, a riqueza, a felicidade.

Heitor e a Procura da Felicidade é um romance mágico, que combina a ingenuidade de O Principezinho com a inspiradora filosofia de O Alquimista. E vai provocar em si o mesmo efeito que teve em mais de 2,5 milhões de leitores: um imenso e terno sorriso.

Fonte: contracapa do livro

Livro disponível para empréstimo na Biblioteca Municipal de Arganil.

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quinta-feira, 15 de setembro de 2022

Novidade na Biblioteca: "Todas as Cosmicómicas" de Italo Calvino

Lisboa: Teorema, 2009
ISBN 978-972-695-880-2

"Todas as Cosmicómicas" resulta da reunião de dois livros que Italo Calvino publicou na década de 1960: as cosmicómicas são narrativas que começam com um enunciado científico (ou pseudocientífico) sobre as origens do universo e dos planetas e outros temas do passado cósmico remoto para dar, em seguida, a palavra ao personagem central de todas elas, que tem o palindrómico e impronunciável nome de qfwfq. ele é testemunha ocular da história de bilhões de anos do universo, presente desde o momento do big bang, onde tudo estava reunido num único ponto e a falta de espaço era absolutamente incómoda, e que assiste angustiado ao afastamento das galáxias, sofre grandes paixões na época em que a lua se distanciava da terra, joga com átomos, sente ciúmes enquanto cai no vácuo, é expelido por uma erupção do vesúvio e vive a patética experiência de ser o último dinossauro vivo.

O livro inclui outros textos que Calvino chamou de "contos dedutivos", nos quais o narrador parece mais interessado em examinar as ramificações de uma ideia do que em contar uma história, desenvolvendo uma espécie de raciocínio obsessivo, paranoico e labiríntico não estranho a certos textos de Kafka. O conjunto destes textos reafirma mais uma vez a posição de Calvino como um dos grandes exploradores dos novos caminhos da narrativa e um dos maiores clássicos do século XX.


Livro disponível para empréstimo na Rede de Bibliotecas do Concelho de Arganil.

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