terça-feira, 29 de maio de 2012

Milan Kundera

Romancista e ensaísta, Milan Kundera nasceu em Brno, na República Checa, a 1 de Abril de 1929.
Fez os seus estudos em Praga e leccionou História do Cinema na Academia de Música e Arte Dramática e no Instituto de Estudos Cinematográficos daquela cidade. Chegou a filiar-se no Partido Comunista do qual, no entanto, acabaria por ser expulso em 1948 por não partilhar das ideias oficiais do partido.
Após a publicação de A Brincadeira (1967), que lhe conferiu uma notoriedade imediata, e de O Livro dos Amores Risíveis (1969) (Prémio da União dos Escritores Checoslovacos), é vítima da repressão soviética a seguir ao esmagamento da Primavera de Praga. Os seus livros são interditos, é proibido de trabalhar e perde o direito de publicar. Em 1975, foge para Paris, onde vive desde então, tornando-se cidadão francês em 1981, após lhe ter sido retirada a nacionalidade checoslovaca, como consequência da publicação em França de O Livro do Riso e do Esquecimento.
Toda a sua obra está traduzida em Portugal.
Os seus romances, novelas e peças de teatro apresentam-se como variações sobre o tema da solidão do indivíduo face às forças da História.
Entre outros prémios, Milan Kundera recebeu, pelo conjunto da sua obra, o Commom Wealth Award (1981), o Prémio Jerusalém (1985) e o Prémio Nacional de Literatura da República Checa (2007).

O que se diz sobre o escritor:

“Não há uma verdade mas diversas verdades (ou diversas ‘mentiras’), e Milan Kundera, cavaleiro solitário da arte, proporciona-nos o direito de as pressentirmos, apelando à nossa lucidez… Kundera é um escritor, um artista, não um dissidente ‘à la Soljenitsine’. É, acima de tudo, um homem com H grande.”

Clara Ferreira Alves, Expresso

“Kundera é precisamente um romancista realista e metafísico; de um realismo e de uma metafísica extenuados e dolorosos; e, por esta razão, capaz de lampejos, de intuições penosas, de aparições escaldantes, de centelhas e de espasmos.”

AntónioTabucchi, Jornal de Letras

“Kundera tem a singularidade de ser simultaneamente um beststeller, um autor consagrado e um escritor lido.”

Inês Pedrosa

Títulos do autor disponíveis na rede de bibliotecas do concelho de Arganil:

• A Imortalidade. Lisboa : Circulo de Leitores, 1990. ISBN 972-42-0124-4

• A brincadeira. 3ª ed. Lisboa : Dom Quixote, 1991. ISBN 972-20-0014-4

• A insustentável leveza do ser. 16ª ed. Lisboa : Dom Quixote, 1994. ISBN 972-20-0002-0

• O livro do riso e do esquecimento. 6ª ed. Lisboa : Dom Quixote, 1993. ISBN 972-20-0006-3

• A arte do romance. 1ª ed. Lisboa : Dom Quixote, 1988.

• A vida não é aqui. 1ª ed. Lisboa : Dom Quixote, 1990. ISBN 972-20-0765-3

• O Livro dos Amores Risíveis. 1ª ed. Lisboa : Dom Quixote, 1988.

• A lentidão. Porto : Asa, D.L. 1997. ISBN 972-41-1665-4

 Mais informação em:

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Novidade na biblioteca: Brincadeira de crianças

Brincadeira de crianças de Cármen Posadas
Lisboa: Quetzal, 2006

Luísa, uma escritora de thrillers, mulher emancipada e mãe solteira de uma filha pré-adolescente, trabalha num romance em que se investiga a morte de um rapazinho. Todavia, aos poucos, Luísa apercebe-se de que o enredo do seu livro tem muito a ver com um episódio obscuro do seu passado, o que parece estar também a repetir-se na vida da sua filha.
Carmen Posadas constrói um romance de mistério em que reflecte sobre os perigos de se ultrapassar a fronteira, sempre ténue que separa a verdade da mentira.
Fonte: badana do livro
Excerto:

Luísa chamou Elba à filha porque foi nessa ilha que a concebeu. Luísa não tinha a certeza do sítio onde ficara grávida, se na ilha de Elba ou na vizinha ilha de Monte Cristo, mas, perante a tarefa de escolher um nome para o bebé, não havia dúvida sobre a conveniência de um ou outro e optou por Elba. A sua «viagem de acasalamento» (era assim que costumava referir-se àquele episódio algo obscuro) durara vários meses e, naquele tempo, havia mais de doze anos, pareceu-lhe a melhor ideia que tivera em toda a sua vida. Quando se decidiu a pô-la em prática, o seu segundo casamento era já uma recordação distante. Acabava de fazer quarenta anos e esta idade, na sua opinião, podia ser considerada como que um ultimato, um agora ou nunca ou (para usar as palavras de Cármen O’Inns, aquela personagem a que começara a dar vida havia apenas uns meses com todo o tipo de reparos e terrores literários) «é o último comboio para a maternidade, apanha-o, minha imbecil, quem é que raio se vai pôr a averiguar de onde saiu o bebé se puseres determinação nisso e inteligência, claro, não te esqueças da inteligência».

A autora:

Carmen Posadas nasceu em Montevideo, Uruguai, em 1953. Com uma trajectória de mais de vinte anos, depois de, em 1985, ter publicado Manual del perfecto arribista, escreveu ensaios, guiões para o cinema e televisão, livros juvenis e vários romances: Cinco Moscas Azuis (1996); Nada É o Que Parece (1997); Pequenas Infâmias (Prémio Planeta, 1998); A Bela Otero (2001); O Bom Servidor (2003); e Brincadeira de Crianças (2006). É uma das autoras contemporâneas que melhor soube ganhar o aplauso da crítica e dos leitores. Os seus livros encontram-se traduzidos em vinte e uma línguas e foram publicados em mais de quarenta países. Em 2002 a revista Newsweek considerou Carmen Posadas como «uma das autoras latino-americanas mais destacadas da sua geração».
Fonte: www.wook.pt

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Carlos Fuentes: cidadão do mundo

Filho de mexicanos, Carlos Fuentes nasceu no Panamá, a 11 de Novembro de 1928, numa família de diplomatas e passou a sua infância entre a Europa e o continente americano. Estudou na Suíça e nos Estados Unidos; viveu em Quito, no Equador; em Montevideo, no Uruguai; no Rio de Janeiro, no Brasil; em Santiago do Chile e em Buenos Aires, na Argentina, num percurso que acabou em Washington, nos Estados Unidos. Na adolescência, passou a viver no México.

Em 1955, fundou com Octávio Paz e Emmanuel Carballo, a “Revista Mexicana de Literatura”. Membro do Partido Comunista, Carlos Fuentes era um homem de esquerda, e foi próximo de Fidel Castro antes de se afastar depois da prisão do poeta cubano Ernesto Padilla (em 1971).

Licenciou-se em Direito na Universidade Autónoma do México e no Instituto de Altos Estudos Internacionais de Genebra, e prosseguiu a carreira diplomática de tradição familiar. Em meados da década de 1970, dedicou-se ao ensino e leccionou nas principais universidades mundiais, de Paris a Princeton, Harvard, Columbia ou Cambridge.

Fuentes foi um grande admirador de Machado de Assis, que considerava como o único autor da América Latina do século XIX a ter seguido a tradição de Cervantes - a chamada "tradição de la Mancha".

Carlos Fuentes foi diversas vezes premiado pela sua obra literária. Destacam-se o Prémio Cervantes (1987) e o Prémio Príncipe das Astúrias (1994). Morreu de problemas cardíacos a 15 de Maio de 2012, aos 83 anos. Tinha começado a escrever aos 29 anos e o seu último romance editado, “Adão no Éden”, foi publicado recentemente pela Porto Editora.

É autor de 30 livros, traduzidos em mais de duas dezenas de idiomas, entre os quais “O velho Gringo”; “Cristóvão Nonato”, “Constancia e outras Novelas para Virgens”, “Aura”, “A Laranjeira”, “Diana ou a Caçadora Solitária”, “A Campanha”, “Aquilo em que Acredito” (todos editados em Portugal pela Dom Quixote).

“Pelo menos em Portugal nunca teve um grande sucesso de público. Mas é um autor extremamente importante e o facto de ter tido sempre menos sucesso que os outros dois pode explicar-se por ser o mais político dos três. A obra dele é muito o espelho do México e das suas vicissitudes políticas. É um autor muito marcado ideologicamente e isso talvez tenha contribuído para que não tenha sido um autor tão popular. Mas é indiscutivelmente um dos grandes nomes da literatura latino-americana e da literatura mundial.”

Manuel Valente (Porto Editora) in Jornal Público de 15.05.2012 (edição on-line)

“Qualquer um que tenha a palavra escrita como matéria prima, e a memória como guia dos tempos, saberá descobrir no autor de ‘A região mais transparente’, ou ‘A morte de Artemio Cruz’, ou de ‘Terra Nostra’, de ‘Gringo Viejo’, um eterno contemporâneo, um companheiro de viagem, um parceiro de sonhos e ousadias. E uma testemunha de desesperanças e esperanças, de tudo aquilo que poderíamos ter sido e que não fomos.”

Eric Nepomuceno
Fonte: http://www.esquerda.net/artigo/carlos-fuentes-escrever-para-ser/23171

“Estava lotada a agenda de Carlos Fuentes para 2012. Assim como em qualquer outro ano de sua vida. Além de ser um dos maiores símbolos da atual literatura latino-americana, também era conhecido pela rotina intensa e vocação cosmopolita. Ao desbravar as fronteiras físicas, se encontrava com gente de todo tipo para tratar de ficção e de realidade. Segundo o colega García Márquez, ainda restava tempo para dar uma mão a jovens autores. Tinha fama de generoso, disposto a encher o mundo de mais escritores. Seus únicos medos eram políticos e não literários.”

Victor Vieira
Fonte: http://praler.org/2012/05/ultima-entrevista-carlos-fuentes/

Livros do autor disponíveis na rede de bibliotecas de Arganil

Cristovão nonato. 1ª ed. Lisboa : Dom Quixote, 1991. ISBN 972-20-0913-3

O velho gringo. 1ª ed. [Lisboa] : Publicações Dom Quixote, imp. 1987. ISBN 972-20-0017-9

A laranjeira. 1ª ed. Lisboa : Dom Quixote, 1995. ISBN 972-20-1220-7


Mais informação sobre o autor em:






quarta-feira, 16 de maio de 2012

O fogo e o vento de Sussana Tamaro

O fogo e o vento, da autoria de Susanna Tamaro, é uma reflexão pessoal da autora sobre o sentido da vida de um ponto de vista espiritual.

Através de cartas da autora, dirigidas a uma jovem amiga e leitora da sua obra, estabelece-se entre ambas um diálogo vivo e profundo em que reflectem sobre vários aspectos do seu percurso ao longo da vida. E várias questões são levantadas, tais como: O que é de facto importante? Qual o objectivo da vida terrena? O que é a fé?

Numa escrita incisiva e directa, Susanna Tamaro apela a um retorno à espiritualidade como antídoto para uma sociedade que considera cada vez mais materialista e desumana. Este livro constitui sem dúvida um convite à meditação sobre o estado do mundo, da sociedade e do ser humano.

Este livro está disponível para empréstimo na Biblioteca Municipal de Arganil.

Outros títulos da autora que temos disponíveis para si:
· Vai aonde te leva o coração 
· Com a cabeça nas nuvens
· Para uma voz só
· Querida Mathilda : não vejo a hora de o homem caminhar
· Um lugar mágico : ou como salvar a natureza
· Tobias e o anjo
· O cavaleiro lua cheia
· Responde-me
· O menino que não gostava de ler

Leia, porque ler é um prazer!

terça-feira, 15 de maio de 2012

Incentivo à leitura


No dia Internacional da Familia as Bibliotecas do Concelho de Arganil incentivam as familias para a leitura.

Caros pais / encarregados de educação

Todos sabemos que saber ler bem e praticar a leitura é o caminho certo para o sucesso escolar e profissional.

Também sabemos que o papel fundamental da escola é ensinar a ler, mas que sem a ajuda das famílias é tarefa quase impossível e quase sempre condenada ao fracasso.

É por isso que o papel das famílias na criação de hábitos de leitura desde o berço é fundamental.

Mas não basta dizer aos filhos que leiam, é preciso dar o exemplo. Se insistir para que o seu filho leia, mas não lhe der o exemplo lendo, é natural que ele não leve muito a sério os seus conselhos.

É por isso que a Rede de Bibliotecas do Concelho de Arganil quer estar mais perto das famílias para lhes facilitar o acesso ao livro.

Sabe que pode requisitar um livro para si em qualquer das 12 Bibliotecas do Concelho? Sim, também pode requisitar um livro na Biblioteca da Escola que o seu educando frequenta.

Verifique se o livro que quer ler existe na Rede de Bibliotecas.

Para isso deverá consultar o catálogo que se encontra disponível através da Internet. Aceda ao endereço: http://www.bibliotecas.cm-arganil.pt/ e pesquise por titulo, autor ou assunto no catálogo concelhio.

Se tiver dificuldades dirija-se a uma das Bibliotecas e peça ajuda.

Leia livros do seu autor favorito ou leia um livro sobre um assunto que lhe interessa: jardinagem, futebol, filosofia, economia, história, culinária, etc. As Bibliotecas do Concelho de Arganil têm mais de 50 000 títulos disponíveis para empréstimo domiciliário. Entre estes, certamente haverá alguns que ainda não conhece.

Peça ao seu filho ou filha / educando que lhe requisite um livro na Biblioteca da Escola ou dirija-se à Biblioteca Municipal Miguel Torga em Arganil ou à Biblioteca Alberto Martins de Carvalho em Coja e escolha o livro que quer levar para casa.

O serviço é totalmente gratuito.

Se tiver um leitor de cassetes VHS, poderá também requisitar um vídeo nas Bibliotecas Públicas.

Consulte o regulamento das Bibliotecas em
http://www.bibliotecas.cm-arganil.pt/

Leia, porque ler é um prazer!

Grupo de Trabalho da Rede de Bibliotecas do Concelho de Arganil

O sistema periódico de Primo Levi

O livro “o sistema periódico” escrito por Primo Levi em 1975, foi considerado “o melhor livro de ciência jamais escrito”, pela Real Academia de Londres. Esta distinção deu visibilidade à valência química de “um dos escritores italianos mais marcantes”, no dizer de Umberto Eco. Primo Levi, mais conhecido pelas suas obras literárias humanistas, reflexões sobre a pessoa humana, foi químico de profissão antes de se dedicar inteiramente à escrita em 1977. Este livro põe à disposição dos leitores 21 relatos sobre a natureza humana genialmente cerzidos com as propriedades de 21 elementos químicos. Ouro, Prata, Mercúrio, Arsénio, Carbono, entre outros elementos, enovelam histórias de pessoas com que Primo Levi viveu, ou ficcionou.

In: Diário de Coimbra nº 27736 (15.05.2012)

Mas há muito mais: O sistema periódico é sobretudo a história de uma geração que cresceu nos anos do fascismo e assistiu aos dramáticos acontecimentos da guerra contada por alguém que, com ironia e auto-ironia, toma como ponto de partida a sua profissão para tentar compreender as coisas e os homens.

O livro pode ainda ser lido como o reflexo da permanente desconfiança do homem em relação à matéria, tão depressa inerte como maléfica – uma metáfora da existência, do ofício de viver, donde emergem, aqui e ali (como na vida), os factos insólitos, os sucessos e os fracassos.
Fonte: contra-capa do livro
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terça-feira, 8 de maio de 2012

Novidade na Biblioteca: Um amor em tempos de guerra de Júlio Magalhães

Um amor em tempos de guerra de Júlio Magalhães
Lisboa: Esfera dos Livros, 2011


António nasceu marcado pelo nome. O mesmo que o vizinho da rua das traseiras, o homem que se fez doutor em Coimbra e que ia à terra sempre que podia, o tal que governava o país com pulso de ferro. Mas de pouco ou nada lhe valeu tão grande nome quando o destino o enviou para Angola, para defender a pátria em nome de uma guerra distante que não era a sua.
Deixou para trás a sua terra, a mãe inconsolável e Amélia, a mulher que pedira em casamento, num banco de pedra, junto à igreja e que prometera fazer dele o homem mais feliz de Vimieiro. Promessa gravada num enxoval imaculado que ficou guardado no armário, à espera do fim daquela maldita guerra.
Quando António regressou de Angola, era um homem diferente. Marcado no corpo por anos de guerra e de cativeiro e no coração por um amor impossível que deixara em pleno mato angolano. Regressava para cumprir a promessa que fizera anos antes à sua noiva Amélia, que o julgara morto, e que, em sua memória, tinha enterrado um caixão sem corpo.

Fonte: contracapa do livro

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Livro do mês: Abre para cá de Jacinto Lucas Pires


Abre para cá é um livro de contos publicado em 2000 por Jacinto Lucas Pires e está dividido em 2 partes.

A primeira parte intitula-se Terceiras Pessoas, como o nome indica os contos estão escritos na terceira pessoa, e engloba os contos “Abre para cá”; “Atenção aos sinais”, “A faixa amarela”, “O rato roeu a rolha da garrafa do rei da Rússia”; “Retrovisor” e “A mulher parada”. Estes contos são curtos e simples, pouco descritivos. Quase sempre, o narrador apresenta várias hipóteses para o desenrolar da história. As temáticas que aborda são entre outras a solidão, a fé e a obsessão.

A segunda parte tem como título Primeiras Pessoas e engloba os contos “Comédia com final feliz”; As minhas férias”; “A minha história mal contada”; “Fumo o último cigarro do maço” e “Um pontinho entre os olhos”. Escritos na primeira pessoa, estes contos são mais descritivos e extensos o que facilita a sua compreensão.

Excerto

“As minhas férias foram em casa dos meus avós. Todos os anos as minhas férias são lá. A casa dos meus avós é grande mas parece um bocadinho pequena. Tem umas escadas e uma cave e muito mais quartos que a nossa casa, mas tudo parece um bocadinho mais baixo e apertado. Uma vez caí das escadas e não me magoei nem nada. Mas isso foi quando eu só tinha cinco anos. Nessa altura eu não sabia escrever nem nada porque ainda estava na infantil e agora até subo dois degraus de cada vez e as pessoas dizem que eu sou muito mexido. O meu avô até me disse que eu era um super-herói. Disse assim: ah, és tu, Filipe! Achei que era um super-herói que nos tinha entrado em casa. O meu avô gosta muito de super-heróis ou pelo menos é o que eu acho porque ele está sempre a falar-me deles. À mesa, quando os outros crescidos começam a ter conversas diferentes assim mais sérias e isso, o meu avô fica calado que nem um rato, que é como diz a minha avó, e depois só diz uma coisa ou outra quando lhe apetece ou quando se lembra de uma história divertida e então dá gargalhadas muito altas, mas não altas como quando às vezes ralham alto connosco e sim altas de fazer uma espécie de cócegas na nossa boca e termos de rir também e também alto como ele. As pessoas crescidas normalmente são diferentes. As pessoas crescidas normalmente não se riem ou riem-se de coisas que não têm graça nenhuma, pelo menos eu não acho, e às vezes param mesmo de rir a meio do riso como se uma gargalhada fosse uma coisa feia ou um palavrão muito mau. As pessoas crescidas não são nada como o meu avô.”

Excerto do conto “As minhas férias”
O autor:

Escritor português, nascido em 1974, no Porto, filho do ilustre professor universitário Francisco Lucas Pires.
Prosseguindo os passos do seu pai, no gosto pela escrita, Jacinto Lucas Pires publicou, em 1996, o seu primeiro livro, um livro de contos intitulado "Para Averiguar do seu Grau de Pureza".
Descoberta esta faceta, a imaginação criativa não lhe deu mais tréguas, sendo já muitos e diversificados os títulos editados, em género narrativo, dramático e a crónica.
Editou, entre outros, os seguintes livros: "Universos e Frigoríficos", 1997 (teatro); "Azul-Turquesa", 1998 (ficção); "2 Filmes e Algo de Algodão", 1999 (ficção); "Arranha-Céus", 1999 (teatro); "Abre para cá", 2000 (livro de contos), “Livro usado”, 2001 (ficção), "Do Sol", 2004 (romance), “Assobiar em público”, 2008 (contos).

Outras obras do autor disponíveis na rede de Bibliotecas Públicas do Concelho de Arganil:

• Abre para cá : contos. [S.l.] : Cotovia, 2000. 128 p. ISBN 972-8423-88-8
• O homem da bola de vidro cortada ao meio. [Lisboa] : Jornal Expresso, 2004. [8] p.
• Tudo e mais alguma coisa. 1ª ed. Paço d'Arcos : Visão, 2006. 89p. ISBN 989-612-237-7
• Azul-turquesa. 3ª ed. Lisboa : Cotovia, 1998. 120, [7] p.. ISBN 972-8423-17-9
• Para averiguar do seu grau de pureza : treze prosas com janelas. 2ª ed. Lisboa : Cotovia, 1997. 75, [2] p. ISBN 972-9013-89-6
• Do sol. 3.ª ed. Lisboa : Cotovia, 2004. 222 p. ISBN 972-795-095-7


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quarta-feira, 2 de maio de 2012

Sugestão de leitura: O anjo branco de José Rodrigues dos Santos

O Anjo Branco é um romance histórico da autoria do jornalista e escritor José Rodrigues dos Santos. Esta obra é inspirada em factos reais, embora livremente ficcionados, da história recente de Portugal.

Embora retrate episódios embaraçosos de Portugal com as colónias africanas, cuja descrição pode até se revelar chocante para os leitores mais sensíveis, este romance é sobretudo sobre os Portugueses em África.

Tem como personagens principais, entre outros, o médico José Branco e a esposa Mimicas, a irmã Lúcia, a enfermeira Sheila e o Furriel Diogo, sobrinho de José Branco.

José Branco fora viver para Moçambique na década de 1960. Após ter sido destacado para exercer funções em Lourenço Marques, integrado na administração ultramarina, foi transferido para Tete, quase como punição por ter amizades não convenientes ao regime.

Em Tete assume o cargo de director de Hospital e funda o Serviço Médico Aéreo. Empenhado em prestar assistência médica a todos aqueles que dela necessitam, José Branco permanece constantemente na mira da PIDE. Na sequência da sua visita a uma aldeia cuja população foi massacrada pela tropa a fim de prestar assistência médica, José Branco acaba por ser detido.

Mesmo detido José Branco consegue, através de Diogo que o visitou, enviar a sua confirmação da horrenda chacina aos padres espanhóis que já andavam na pista dos massacres.

Ao longo do romance José Branco reflecte repetidamente, recordando os ensinamentos do seu pai, sobre a vida e a morte, o bem e o mal, que conferem à narrativa uma grande riqueza e profundidade.

                “O que quero dizer é que a questão do bem e do mal sempre gerou mais perplexidades do que certezas.” José recostou-se na cadeira. “O que é o bem e o que é o mal? Todos nós intuímos estes conceitos, mas a sua definição precisa escapa-nos. Até hoje”. Apontou para a janela. “Tive a resposta a este enigma no momento em que vi o mal naquela aldeia. Vi-o impregnado nos corpos carbonizados que se espalhavam pelos escombros, vi-o quando me questionei sobre o que levaria os homens a fazerem uma coisa tão cruel. E depois deparei-me com uma criança que saiu viva e intacta de baixo do corpo queimado de uma desgraçada que os soldados quase haviam morto e percebi que há coisas que o mal, por mais que tente, não poderá conquistar. O amor daquela mãe foi mais poderoso do que o mal daqueles homens. Mas só agora, enquanto estava a ouvi-lo a falar, é que consegui transformar em palavras a ideia que desde então me andava a ruminar na mente.” Cravou de novo os olhos penetrantes no seu interlocutor. “Sabe o que na verdade é o mal?”
Sentindo se incomodado com a intensidade daquele olhar, Aniceto Silva abanou a cabeça.
“Ó Doutor, agora não”, disse. “Poupe-me a essa conversa.”
“É a incapacidade de nos pormos no lugar do outro. (…)”
Excerto do livro
Este é um livro que sem dúvida vale a pena ler.

Leia, porque ler é um prazer!