quarta-feira, 26 de março de 2014

Dia Mundial do Teatro

Assinala-se, amanhã, dia 27 de Março o Dia Mundial do Teatro. Proposto em 1961 no 9º congresso do Instituto Internacional do Teatro (ITI), realizado em Viena, foi celebrado pela primeira vez em 1962.
Todos os anos como forma de assinalar a data, o ITI escolhe uma personalidade de renome mundial para elaborar uma mensagem de reflexão sobre o teatro e a cultura da paz.
Este ano a mensagem é da autoria de Brett Bailey, dramaturgo, desenhador e artista Sul-Africano.

Também em Portugal está data é assinalada. A Sociedade Portuguesa de Autores, através da mensagem do dramaturgo português Jaime Gralheiro demonstra a importância desta forma de expressão artística e um pouco por todo o país realizar-se-ão espectáculos de teatro com entrada livre.

Na sala de adultos da Biblioteca Municipal de Arganil está patente uma pequena mostra bibliográfica sobre a temática, destacando obras de conhecidos dramaturgos portugueses e estrangeiros, bem como livros teóricos sobre o teatro e a representação teatral.

Para saber mais consulte:

sexta-feira, 21 de março de 2014

Ler e sentir poesia (V)

Poesia de Miguel Torga

É dia no outro mundo
Dos versos.
Abriu-se a noite num halo
De véu caído,
E uma mensagem de charco
Purificado
Entra, branca, no ouvido…
É há um ouvido acordado.
Pelos fios do luar
Etéreos sons, melodias,
Vão chegando,
E são as valas sombrias
E os juncos negros da lama
Que se iluminam na chama
Dessa fogueira secreta
Que queima os lençóis da cama
Do Poeta.

Sinais perdidos no espaço?
Mas é no morse de imagens,
Na espectral telegrafia,
Que são reais as paisagens
Da Poesia.

Miguel Torga in Poesia Completa

quinta-feira, 20 de março de 2014

Ler e sentir poesia (IV)

Poesia de Natércia Freire

Vem, como dantes!
Livra-me do peso
Das palavras que exigem
Seu objecto.

Da música, ordenando
Um som concreto.

Dos sentimentos coesos
Com a morada.

Desmancha
Com teus dedos
De um cortante cristal
De ágeis segredos
A ligação do corpo
Com os seus medos
De morrer sem memória,
Solitário.

Com tua treva e luz
Tumultuosos
Desfaz e faz
Os sonhos e as cousas
Do Tempo
Eterno em seu itinerário.

Mesmo na solidão
De ruas longas
Quando os vivos e os mortos
São só sombras
E eu sou apenas
Rectas de um degrau…

Tu podes
Como um deus
Combalido e amargurado
Ao direito negado
Abrir no Espaço
Um som de sementeiras

Erguer no Espaço
Os aquedutos de oiro,
Esconder amigos falsos
Como um grande tesoiro.

E propor, como aos sinos,
Uma infinda ousadia
De invisíveis destinos,
Esses, que eu espero e vivo
E respiro, mortal.

Natércia Freire in Obra poética, vol. II

quarta-feira, 19 de março de 2014

Ler e sentir poesia (III)

Poesia, poesia… de António Manuel Couto Viana

Recordas-te, Fernando, cada dia
Em que eu subia à tua casa, em S. João d’Arga,
Carregado de livros de poesia?
Recebias, ansioso, o oiro dessa carga.

Iam comigo o Régio, o Homem de Mello,
O Serpa, como nós, provincial,
A desvendar-te um novo estilo, um novo belo,
A ti, que eras todo Antero de Quental.

Tu já fazias versos. Mas eu, não:
Tímido em confessar a alma inquieta,
Inventava outros eus, fugindo à tentação
De ser de mim poeta.

E no adro tranquilo
(Esse tempo, quem dera!)
Ia ouvir-nos a sombra de Camilo
Que ali perto vivera, em certa Primavera.

Vibrávamos os dois com o canto, a magia
(Exaltadas, as horas tão rápidas passando…),
E era tudo poesia, poesia…
Recordas-te, Fernando?

António Manuel Couto Viana in 60 anos de poesia, vol. II

terça-feira, 18 de março de 2014

Ler e sentir poesia (II)

 Poesia de Alberto de Serpa
a Fernando Pessoa

A Poesia está na alma do poeta
e na sua vida.
O Poeta é independente. Só ele sabe.
Sobre as suas ideias, sobre os seus sentimentos,
não podem pesar leis com séculos de existência.

Na força com que exprime uma ideia violenta,
na brandura que um sentimento muito calmo
            arrasta,
na pressa duma corrida,
no vagar duma música dolente,
- no que tem de exprimir, está o ritmo do poeta.

Não lhe venham dizer que um verso está errado
            e sem rima,
se a alma está para lá de todas as convenções.
Há sentimentos que cabem numa letra,
e um verso pode não caber em todos os livros do
            mundo.

A Poesia não está nos assuntos poéticos por eles,
nem nos versos bem medidos,
nem nas rimas que são paciência.
A poesia está no poeta.

O poeta devia ser o primeiro poeta em cada poema.

 In: A Poesia de Alberto De Serpa

segunda-feira, 17 de março de 2014

Ler e sentir poesia (I)

Arte poética de Maria do Rosário Pedreira

Num romance, uma chávena é apenas
uma chávena – que pode derramar
café sobre um poema, se o poeta,
bem entendido, for a personagem.

Num poema, mesmo manchado
de café, a chávena é certamente a
concha de uma mão – por onde eu
bebo o mundo, em maravilha, se tu,
bem entendido, fores o poeta.

No nosso romance, não sou sempre
eu quem leva as chávenas para a mesa
aonde nos sentamos à noite, de mãos
dadas, a dizer que a lata do café chegou
ao fim, mas a pensar que a vida é
que já vai bastante adiantada para os
livros todos que ainda pensamos ler.

No meu poema, não precisamos de café
para nos mantermos acordados: a minha
boca está sempre na concha da tua mão,
todos os dias há páginas nos teus olhos,
escreve-se a vida sem nunca envelhecermos.

Maria do Rosário Pedreira in Revista Relâmpago nº 22

sexta-feira, 14 de março de 2014

Dia Mundial da Poesia 2014

Dia Mundial da Poesia 2014 - 21 de Março

Mensagem de Irina Bokova – director geral da Unesco

Anualmente a UNESCO celebra os que dão vida à poesia, uma das formas de expressão linguística e cultural mais rica. Poesia é uma canção de liberdade, que nos dá a capacidade de afirmar a nossa identidade através da criação. A poesia é também uma canção do mais profundo dos nossos sentimentos; citando o poeta e diplomata Brasileiro João Cabral de Melo Neto, “even unintentionally, every word that comes from emotion is poetry” (mesmo sem intenção, cada palavra vinda das nossas emoções é poesia). Através das suas palavras e do seu ritmo, a poesia dá forma aos nossos sonhos de paz, justiça e dignidade, e dá-nos a força e a vontade de mobilização para os tornar reais.

Ao longo da história, todas as pessoas desenvolveram e praticaram formas de poesia, transmitindo oralmente os seus saberes, história e mitos, exprimindo sentimentos, dando conta do dia-a-dia, usando-a como forma de resistir a provações ou simplesmente como entretenimento. São exemplos as Vedas [1] e a Ramayana [2] na Índia, a Bíblia Hebraica, a Ilíada e a Odisseia na Grécia e muitos outros textos filosóficos e religiosos. Actualmente, formas contemporâneas de poesia, que vão desde o graffiti ao slam  [3], capacitam os mais novos de se envolver na prática e na renovação poética abrindo-lhes a porta para um novo espaço de criação. As formas evoluem, mas o impulso poético mantém-se intacto. Shakespeare descreveu a poesia como a música que cada homem trás dentro de si próprio, séculos mais tarde Herbie Hancock, músico de jazz e Embaixador da Boa Vontade da Unesco, e Charles Eliot Norton, professor de poesia na Universidade de Harvard, reafirma as afinidades entre poesia, literatura e música.

A poesia, como uma profunda expressão da mente humana e uma arte universal é um instrumento para o diálogo e a aproximação. A disseminação da poesia ajuda a promover o diálogo entre culturas e o entendimento entre pessoas, dando acesso a expressão autêntica da linguagem. Também se verificam estes aspectos na inspiração das pessoas para a celebração do património cultural imaterial, da língua materna e a diversidade cultural, em que a poesia tem um papel de relevo. É por isso que a UNESCO encoraja e pede o apoio de autores e tradutores de poesia para que possamos explorar a essência da beleza e inspiração para a paz nas suas obras.

Tradução: Biblioteca Municipal de Arganil

Para ler a mensagem original aceda a:

http://www.un.org/en/events/poetryday/2014/dgmessage.shtml

A partir de hoje e até ao próximo dia 21 de Março, como forma de assinalar o Dia Mundial da Poesia, publicaremos diariamente um poema no blog.

Seleccionaremos poemas que versem sobre poesia!

Nestes dias leia e sinta poesia!

[1] Vedas - quatro textos, escritos em sânscrito por volta de 1500 a.C., que formam a base do extenso sistema de escrituras sagradas do hinduísmo, que representam a mais antiga literatura de qualquer língua indo-europeia.
[2] Ramayana – poesia épica índia da autoria de Valmiki composto por 24.000 versos.
[3] Poetry slam é uma competição em que poetas lêem ou recitam um trabalho original.

terça-feira, 11 de março de 2014

No ano Internacional da Agricultura Familiar planifique a sua horta

2014 foi proclamado pela Assembleia Geral das Nações Unidas como o Ano Internacional da Agricultura Familiar com o objectivo de garantir a alimentação, o bem-estar, combater a pobreza e proteger a biodiversidade.

A Agricultura Familiar inclui todas as actividades agrícolas de base familiar e está ligada a diversas áreas do desenvolvimento rural. 

Este tipo de agricultura é importante a nível ambiental, socioeconómico e cultural. A agricultura familiar e de pequena escala estão intimamente ligadas à segurança alimentar mundial e contribui para a preservação de alimentos tradicionais, bem como para uma alimentação rica e equilibrada. Este tipo de agricultura é também importante para combater a fome e a pobreza e contribui para o desenvolvimento sustentável.

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A Primavera está a chegar e com ela os dias mais longos propícios a actividades ao ar livre, tais como a jardinagem e a agricultura.

Assim aproveitamos a ocasião para destacar alguns livros que poderão ajudar o leitor a planificar a sua horta, aproveitando o espaço, o tempo e os recursos disponíveis, decidindo sobre o que plantar e que actividades desenvolver no processo de cultivo.



Muitos são os processos de cultivo das plantas desde a simples sementeira às estacas de caule ou raiz, à enxertia, à divisão. De todos eles nos dá conta, completa e pormenorizadamente o “ABC do cultivo das plantas” da autoria de H. G. Witham Fogg.





Este manual fornece a todos os agricultores os conhecimentos técnicos básicos necessários ao desenvolvimento da agricultura, abordando aspectos tais como o clima, o solo, a fertilização e a calendarização hortícola. 







Se gostava de ter uma horta mas não sabe como começar, este livro indica-lhe o processo, apresenta-lhe os fundamentos para uma horticultura bem sucedida e ensina-lhe a decidir o que plantar, a planificar a horta, a cavar e a amanhar, a fertilizar e a regar, entre outros. 






Neste livro o horticultor encontra a indicação, para cada mês do ano, de quais as espécies hortícolas e variedades que deverá plantar e os melhores processos de o fazer, no sentido de obter os melhores resultados em quantidade e qualidade.






Este manual foi concebido a pensar naqueles que, dispondo apenas de alguns metros de terreno, estão interessados em iniciar o cultivo de uma pequena horta ou em melhorar a que já têm. Nele o leitor encontra informações de carácter geral sobre a laboração do terreno, assim como informações detalhadas sobre as várias famílias de plantas hortícolas.



Aceda ao catálogo em linha das Bibliotecas do Concelho de Arganil para saber que outros livros temos sobre esta temática!

Para saber mais sobre o Ano Internacional da Agricultura Familiar consulte:



Leia, porque ler é um prazer!

sábado, 8 de março de 2014

Dia Internacional da Mulher

Mensagem de Ban Ki-moon [1]

No Dia Internacional da Mulher destacamos a importância de se alcançar a igualdade para as Mulheres e Meninas não apenas por se tratar de uma questão de justiça e de direitos humanos fundamentais, mas porque em muitas outras áreas o progresso depende disso.

Os países com mais igualdade de género têm um melhor crescimento económico. As empresas com mais mulheres líderes têm melhor desempenho. Os acordos de paz que incluem as mulheres são mais duráveis. Parlamentos com mais mulheres promulgam mais legislação sobre questões sociais fundamentais, tais como saúde, educação, combate à discriminação e de apoio à criança.

A evidência é clara: a igualdade para as mulheres significa progresso para todos.

Esta simples verdade deve ser central! (…)

Importantes conquistas foram feitas no acesso à educação básica para meninas e na representação política das mulheres. Mas o progresso continua a ser demasiado lento e desigual. (…)

Tenho uma mensagem para cada menina nascida hoje, e para cada mulher e menina do planeta: Direitos humanos e igualdade não são um sonho, são um dever dos governos, das Nações Unidas e de todos os seres humanos.

Tenho também uma mensagem para os meus colegas homens e meninos: desempenhar o seu papel. Todos nós beneficiaremos, se mulheres e meninas - mães, irmãs, amigas e colegas – puderem atingir o seu pleno potencial.

Vamos, juntos, trabalhar pelos direitos das mulheres, autonomia e igualdade de género tal como nos esforçamos para eliminar a pobreza e promover o desenvolvimento sustentável. Igualdade para as mulheres é progresso para todos!

(tradução: Biblioteca Municipal de Arganil)

Mensagem em inglês disponível em: http://www.un.org/en/events/womensday/2014/sgmessage.shtml

Algumas sugestões de leitura relacionadas com a data:




[1] Secretário-geral da ONU

terça-feira, 4 de março de 2014

Livro do mês: Contos maravilhosos de Herman Hesse

Esta colectânea de contos, compilada por Volker Michels, reúne pela primeira vez todos os contos de Hermann Hesse, desde Die beiden Brüder (Os Dois Irmãos), o seu primeiro trabalho em prosa, escrito aos dez anos.

Pequenas histórias, escritas em linguagem simples, mas tão cheias de simbolismos e complexas referências que remetem o leitor para universos que transcendem a efabulação porque repletas de sentido filosófico. A fantasia e a visão mágica dos seres e da Natureza aproximam estes contos da prosa poética. Na sua maioria, avulta a problemática essencial de Hesse, nalguns contos tratada de forma muito depurada: a experiência como unificadora do homem e do Universo, a busca de harmonia e unidade do indivíduo no seu confronto com o Mundo.

Fonte: badana do livro

“Com um estilo muito musical, repleto de belezas, carícias e prodígios, os contos de Herman Hesse são momentos de rara beleza e perfeição na literatura actual.”

Expresso

Excerto do conto “As andanças de um sonho”

Havia um certo homem que exercia a profissão bem pouco considerada de novelista, mas que, no entanto, pertencia àquele grupo de literatos que fazem todos os possíveis por a levar a sério e aos quais, alguns entusiastas, concediam uma veneração semelhante àquela que em tempos, quando ainda havia poesia e poetas, costumava conceder-se aos verdadeiros artistas. Este literato escrevia muitas coisas bonitas: escrevia romances, contos e ainda poesia, e dava-se ao inimaginável trabalho de o fazer bem feito. Todavia, raramente conseguia corresponder às suas aspirações, pois tomando-se embora por uma pessoa modesta cometia o erro de, arrogantemente, não se confrontar com os seus colegas e contemporâneos, seguindo-lhes o exemplo, mas sim com os poetas dos tempos antigos, aquele, portanto, que se haviam afirmado ao longo de diversas gerações. Então, para seu próprio desgosto, tinha de reconhecer sempre de novo que, mesmo a sua melhor página, a mais perfeita, se achava bem distante da frase ou do verso mais esquecido daqueles verdadeiros poetas. E, assim, ele foi-se tornando sempre mais descontente (…)

Durante todo o dia, o literato manteve-se ocupado com o seu sonho e, quanto mais profundamente se embrenhava nele, mais belo lhe parecia, mais lhe parecia superar todos os poemas dos melhores poetas. Longo tempo, e por vários dias, ele perseguiu o desejo e os projectos para narrar este sonho, de tal modo que não só para ele que o sonhara, mas também para os outros, possuísse esta beleza inqualificável e esta mesma profundidade e interioridade. Somente muito mais tarde ele abdicou destes desejos e tentativas, e viu que teria de concentrar-se por ser um verdadeiro poeta, um sonhador, um visionário na sua alma e que a sua obra manual, todavia, teria de permanece a de um simples literato.”

Nota biográfica:

Herman Hesse, poeta e romancista nasceu a 2 de Julho de 1877 em Calw, na Alemanha. 
Cedo revelou a sua vocação literária que o faria abandonar os estudos de Teologia e a carreira religiosa. A escolha foi acertada pois manejou como mestre a poesia e a prosa, tendo sido laureado com o “Prémio Nobel da Literatura” em 1946.
Hermann Hesse faleceu a 9 de Agosto de 1962, vítima de hemorragia cerebral.
Deixou uma vasta obra, traduzida em mais de 30 idiomas e é considerado uma dos expoentes máximos da literatura do século XX.

Para saber mais consulte: