segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Turista por acidente de Anne Tyler

Tyler, Anne – Turista por acidente. – Lisboa: Dom Quixote, 1987

Turista por acidente é um livro que incide sobre assuntos sérios da vida, tais como o divórcio e a perda de um filho. Apesar de se tratar de assuntos pesados, o livro lê-se de forma leve, a autora recorre frequentemente a momentos humorísticos ou situações caricatas, retirando assim peso da narrativa.

Macon Leary é a personagem central do livro, um homem metódico e ordenado, que tem como profissão escrever guias de viagem para homens de negócio. Macon perdera o filho há menos de um ano, raramente fala sobre o assunto e o tempo trata de o afastar de Susan, a mulher. Separam-se e Macon fica sozinho com Edward, um cão problemático e a gata Helen.

É por intermédio do cão que trava uma relação com Muriel, uma treinadora de animais. Muito mais nova de que Macon, e com uma personalidade completamente contrastante, ela consegue fazer com que Macon torne a encarar a vida de frente, mas não sem alguns percalços.

A viver sozinho com apenas dois animais Macon engendra uma serie de esquemas para simplificar a vida doméstica. Por exemplo para não ter de carregar a ração do cão, esta era depositada por um tubo de carvão directamente para a taça do cão na cave. Estas engenhocas levam a situações ridículas e à custa delas Macon parte uma perna e vê-se obrigado a ir viver para a casa dos avós onde vivem os seus irmãos também divorciados e a irmã mais nova.

Quando finalmente recupera, Macon regressa às suas viagens para a recolha de informação para os seus guias. A mulher Susan reaproxima-se e Muriel não desiste de Macon.

Qual será a melhor opção para Macon? Regressar a uma vida que já conhece, seguindo simplesmente a maré ou finalmente tomar as rédeas da sua vida nas mãos?

“Para a viagem a Inglaterra, vestiu o fato mais prático. «Um fato chega», aconselhava nos seus guias, «se levar algumas embalagens de tira-nódoas, de tamanho próprio para viagem.» (Macon conhecia todos os produtos que eram vendidos em embalagens próprias para viagem, desde desodorizantes a graxas.) «O fato deve ser cinzento. O cinzento não só encobre a sujidade, como dá jeito para funerais inesperados ou outros acontecimentos formais. Ao mesmo tempo não é demasiado triste para todos os dias.»
Emalou um mínimo de roupa e um estojo de barbear. Uma cópia do seu mais recente guia de Inglaterra. Um romance para ler no avião.
«Leve só o que puder meter numa mala de mão. Ter de verificar a bagagem é estar a pedir sarilho.(…)»”

A autora: Anne Tyler, nasceu em Mineápolis, nos EUA, em 1941. Publicou o seu primeiro romance em 1964, tendo até à data publicado 17 livros, dos quais 6 tiveram adaptação cinematográfica. Com o romance “exercícios de respiração” ganhou o prémio Pulitzer na área de ficção em 1989.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Livro do mês: O romance de Nostradamus de Valério Evangelisti






EVANGELISTI, Valerio - O romance de Nostradamus : O presságio. 1ª ed. Lisboa : Presença, 2001. 325, [3] p. ISBN 972-23-2814-X


O Romance de Nostradamus: o presságio é o primeiro livro de uma trilogia que Valério Evangelisti escreveu sobre a vida de um dos mais conhecidos profetas de todos os tempos. Como o autor refere, embora este livro seja um romance e como tal ficcionado, o autor procurou as bases cientificas da vida do profeta, consultando os raros documentos credíveis que relatam a vida de Nostradamus.

Nascido na Provença, nos primeiros anos do séc. XVI, num ambiente de grandes convulsões religiosas em pleno período inquisitorial que mata tanto como a peste que grassa em vários pontos da Europa, Michel de Nostradamus, judeu converso, que tinha sido iniciado por seu avô nos segredos da alquimia e da ciência cabalística, formado em medicina, mas que exerce uma profissão obscura de farmacêutico é perseguido, precisamente pelas suas raízes judaicas, por uma figura obcecada pela sua ruína. Numa época fascinante da História da Europa, este romance prende-nos pelas imagens construídas num emaranhado de personagens históricas como Rabelais e Du Bellay, levando-nos para uma Europa profundamente envolvida em lutas político-religiosas, de mistura com feitiçaria.

Nota biográfica:

Nascido em Bolonha, em 1952, Valerio Evangelisti revolucionou e revitalizou a literatura italiana. O êxito incontestável em que se tornaram as aventuras de Nicolas Eymerich valeram a este ex-professor de História o prémio Urania, em Itália, e, em França, O Grand Prix de L' Imaginaire e o prémio Tour-Eiffel.

Fonte: www.wook.pt

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

A leitura desde o berço

Muitos estudos defendem que é saudável que a criança contacte com a leitura desde tenra idade. Para além da leitura ter um impacto positivo e crucial no desenvolvimento cognitivo da criança ela tem também impacto na sua própria personalidade. Em geral as crianças que têm contacto com o livro regularmente são crianças mais criativas, mais imaginativas, mais confiantes e com maior capacidade de reflexão e de argumentação.

A leitura não é apenas divertida, engraçada, emocionante, empolgante e prática, para a criança ela é uma das chaves de acesso ao mundo dos adultos.

Durante as últimas duas décadas um pouco por todo o mundo, e sobretudo através das bibliotecas públicas têm surgido diversos programas para a promoção da leitura. Infelizmente o enraizamento deste hábito ainda não tem o alcance pretendido, embora muito caminho já se tenha percorrido no sentido de formar bons leitores.

Os jovens hoje em dia, em geral, lêem pouco. Despendem muito tempo frente ao computador ou frente à televisão, desde muito cedo têm contacto com as novas tecnologias, que têm sobre eles um efeito fascinante. Se a leitura não for estimulada desde tenra idade, dificilmente o futuro jovem adquirirá o hábito de ler. Qualquer hábito precisa de ser incentivado. A leitura não é um dom que nasce connosco, portanto quanto mais cedo se começar a promover o contacto com o livro e a leitura, mais serão as hipóteses de criar um verdadeiro leitor.

Para desenvolver este hábito é muito importante o envolvimento da família e a criação de condições propícias ao desenvolvimento deste hábito no lar. Existem vários passos que os pais podem dar para ajudar a preparar os seus filhos a tornarem-se leitores, a par com as actividades desenvolvidas nas escolas e nas bibliotecas. Estes incluem:

- Proporcionar aos filhos uma dieta rica em experiências linguísticas ao longo do dia: falar com as crianças, contar histórias, cantar canções, recitar poemas e lengalengas e descrever o mundo que os rodeia. Dar nomes as coisas e estabelecer conexões. Encorajar a criança a conversar.

- Estabelecer o ritual de ler cerca de 30 minutos por dia em voz alta para as crianças, começando desde o berço.

- Visitar regularmente a biblioteca e deixar a criança manusear e escolher os livros da sua preferência. Participar nas actividades de promoção da leitura oferecidas pela Biblioteca.

- Acompanhar o percurso escolar da criança. É importante o diálogo com o professor para saber em que nível se encontra e qual a melhor maneira de a acompanhar em casa para o bom desenvolvimento das suas capacidades.

- Limitar o tempo de visionamento de televisão. Procurar programas adequados à idade da criança.

- Fazer da leitura um ritual. Enquanto a criança lê ou ouve uma história a televisão e/ou a rádio devem ser desligados.

- Os pais são o principal modelo para as crianças: demonstre o seu gosto pela leitura. Crianças que vêem os pais a ler, que percebem que eles têm prazer ao fazê-lo, são crianças mais interessadas na leitura do que aquelas que têm pais que não lêem e não gostam de ler.

- Demonstrar a importância da leitura na realização das tarefas do dia-a-dia. Exemplo: ver o horário dos transportes públicos, seguir uma receita de culinária, fazer compras no supermercado, são tarefas que requerem o saber ler para serem concretizadas.

- Aconselhar-se com os profissionais da biblioteca e com os professores sobre as leituras mais adequadas à faixa etária do seu filho.

- Oferecer livros aos seus filhos em datas festivas. A existência de livros no lar é fundamental para a familiarização com o livro e a leitura.

- Envolver os avós na educação dos seus filhos. Peça-lhes para lhes contarem histórias e cantar canções da sua geração.

A técnica da leitura, é uma técnica que se começa a desenvolver desde o nascimento, portanto quanto mais cedo iniciar o contacto da criança com o livro e a leitura, maiores serão as hipóteses de obter sucesso.

Miriella de Vocht
8 de Novembro de 2009

Bibliografia consultada:

http://www.ed.gov/pubs/startearly/ch_1.html%20acedido%20em%2007.11.2009 acedido em 07.11.2009
http://www.peuterplace.nl/peuter/voorlezen.htm acedido em 07.11.2009

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Morte no Nilo de Agatha Christie

Linnet Ridgeway, jovem herdeira de uma grande fortuna, casa com Simon Doyle, que até pouco tempo antes era noivo de uma das suas melhores amigas, Jacqueline de Bellefort.

O casal Doyle parte em Lua-de-mel para o Egipto, porém a tranquilidade da viagem é assombrada pela presença constante de Jacqueline que tendo-se sentido atraiçoada pelo noivo e pela amiga, resolve persegui-los.

A bordo do Karnak, Linnet é assassinada, no seu camarote, com um tiro na cabeça. Quem terá sido o seu assassino?

Cabe a Poirot, que se encontra na mesma excursão de férias, o trabalho de investigar o crime. Com a sua característica perspicácia ele vai levantando várias hipóteses sobre os motivos que cada um dos passageiros poderia ter para eliminar Linnet. Todos se tornam em potenciais culpados. Louise Bourget, a criada pessoal; Pennington, gestor da fortuna da família Ridgeway; Fleetwood, que considerava ter sido mal tratado por Linnet; Jacqueline de Bellefort, são apenas alguns dos passageiros interrogados por Poirot.

O caso adensa-se quando Poirot e Race, um coronel que se encontra a bordo no encalço de um assassino, encontram a criada Louise Bourget morta no seu camarote. Mas as mortes não se ficam por aqui.

Agatha Christie, através da sua personagem Poirot, vai revelando as informações necessárias para que também o leitor se sinta envolvido no desvendamento destes crimes. Será o leitor capaz de descobrir o assassino ou terá que acompanhar os passos de Poirot para chegar à revelação do culpado?

Um policial que merece a pena ser lido. Envolvente do princípio ao fim!

Nota: "Morte no Nilo" (Death on the Nile) foi originalmente publicado em 1937, na Grã-Bretanha. A edição americana veria a luz do dia em 1938. O filme homónimo, de 1978, conta com um elenco de luxo, de onde se destacam os nomes de Peter Ustinov (naquela que seria a sua primeira interpretação de Hercule Poirot), David Niven, Bette Davis, Angela Lansbury e Maggie Smith. A adaptação para teatro, feita pela própria autora, estreou em Londres em 1946 e subiu aos palcos americanos no mesmo ano, sob o título Hidden Horizon.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Sputnik, meu amor

MURAKAMI, Haruki - Sputnik, meu amor. [S.l.] : (Sic) idea y creación, 2008. 199 p. ISBN 978-84-612-5728-7

Sputnik, meu amor é um relato íntimo sobre o desejo humano e o destino.

As personagens que povoam este romance são três: K., um jovem professor primário, Sumire, uma jovem aspirante a escritora e Miu, uma mulher casada de meia-idade e aspecto requintado.

K. nutre por Sumire uma grande paixão, porém esta não é correspondida, não obstante são grandes amigos e confidentes um do outro.

“Eu estava apaixonado por Sumire. Sentira-me atraído por ela logo na primeira vez em que falámos e rapidamente ela passou a ser a coisa mais importante na minha vida. (…) Por mais de uma vez tentei confessar-lhe o que me ia na alma, mas, não sei bem por que razão, via-me e desejava-me para traduzir os meus sentimentos nas palavras adequadas.”

Sumire abandonara a universidade após dois anos infrutíferos e com o objectivo de se tornar uma verdadeira escritora, mas não consegue encontrar inspiração para escrever, muito menos depois de conhecer Miu, por quem se apaixona perdidamente.

“Na Primavera dos seus vinte e dois anos, Sumire apaixonou-se pela primeira vez na vida. Foi um amor intenso como um tornado (…) A pessoa por quem Sumire se apaixonou, além de ser casada, tinha mais dezassete anos do que ela. E, devo acrescentar, era uma mulher.”

Pouco depois de se conhecerem, Miu convida Sumire para ser sua assistente pessoal. Sumire começa a deixar influenciar-se por Miu, muda a sua forma de vestir e de estar e até as suas prioridades na vida.

“-Nesta fase da tua vida, e mesmo que dediques dia e noite ao teu romance, não creio que consigas escrever alguma coisa de jeito – disse Miu, num tom calmo mas firme. – É óbvio que tens talento e estou certa de que um dia serás uma escritora extraordinária (…) mas ainda não estás preparada. (…) anda trabalhar comigo. É o melhor que tens a fazer e, quando sentires que chegou a hora, não hesites: deixa ficar tudo para trás e escreve os romances que te ditar o coração.”

A trabalho Sumire acompanha Miu numa viagem até à Europa, visitam alguns lugares na Itália e na França, e acabam por ir parar a uma ilha grega, onde resolvem ficar durante alguns dias a desfrutar de umas merecidas férias.

“(…) Aqui estou eu, a fazer uma viagem pela Europa na companhia de Miu. Por motivos de trabalho, Miu tinha pensado ir sozinha durante quinze dias dar uma volta por terras de Itália e França, mas acabou por pedir que viesse com ela na qualidade de secretária particular.”

Mas depois de uma noite em que finalmente, Sumire ganha coragem para demonstrar a sua paixão por Miu, esta desaparece sem deixar rasto. Miu, resolve então contactar K. que se mete quase de imediato num avião e depois de várias ligações chega finalmente à ilha. Juntos encetam a procura por Sumire.

“Aquela mulher amava Sumire, mas não sentia por ela desejo sexual. Sumire amava aquela mulher e, mais, desejava-a. Eu amava Sumire e desejava-a. Sumire gostava de mim, mas não me amava nem tão pouco sentia desejo sexual por mim. (…) era tudo muito complicado. Mais parecia o enredo de uma peça de teatro existencialista. A história acabava ali, num impasse. Não havia alternativa possível e Sumire tinha abandonado o palco sozinha."

É assim que as três personagens acabam por se interligar numa teia de afectos desencontrados, envolvendo-nos nas suas vidas e pensamentos, oferecendo uma profunda reflexão sobre a solidão, os sonhos e as aspirações do indivíduo.

Um romance que cativa desde a primeira página e que frequentemente nos obriga a parar para pensar.