sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Filipa nesse dia de Urbano Tavares Rodrigues

Rodrigues, Urbano Tavares – Filipa nesse dia. – Mem-Martins: Europa-América, D.L. 1988

Filipa Nesse Dia é a uma obra de complexa densidade e intensidade humana, acompanhada por uma viva e detalhada descrição das paisagens alentejanas.

Hélio, o protagonista desta história, percorre ao volante do seu automóvel, uma estrada que parece não acabar, em direcção a Montelírio, um lugar no Alentejo. Conduz horas a fio com o objectivo de tentar salvar Filipa, a sua amante, que é também sua madrasta, das mãos do seu pai, Túlio.
O percurso demora quase o dia inteiro e as horas passadas ao volante, bem como as paisagens que vai observando e as pessoas com quem se vai cruzando, dão a Hélio a oportunidade de rever a sua vida, tornando se a viagem pretexto para uma interminável reflexão sobre o seu passado e a sua relação ilegítima com Filipa.
Hélio está decidido a assumir a sua relação com Filipa e a confrontar o pai com os seus sentimentos, mas quando chega ao destino, já é tarde demais.
A história está escrita de uma forma acessível e a sua estrutura, de certa forma instantânea por se apresentar no presente, consegue fazer com que o leitor se sinta como um verdadeiro espectador.

“Quilómetros e quilómetros vão ficando para trás. Hélio estranha a paisagem, não poderia dizer concretamente porquê, talvez mais acidentada, mas não menos nua de casas, de gente. É verdade que é muito cedo. Ainda subsistem as lentas barras cor de laranja, cor de salmão, de onde o Sol vai emergir e ascender no horizonte.
Da beira do azinhal sai um grito modulado, de uma rapariga talvez a chamar o gado, o gado inexistente. Nem um ser vivo.”

Se quiser descobrir mais sobre esta obra e o seu autor consulte:

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

O anjo ancorado de José Cardoso Pires

Pires, José Cardoso, 1925-1998 – O Anjo Ancorado – Lisboa: O Jornal, 1984
O anjo ancorado, obra de José Cardoso Pires, é nas palavras do próprio autor uma fábula. É uma história simples cuja acção se desenrola numa tarde. João, um homem da cidade, resolve ir fazer pesca submarina numa pequena aldeia nos arredores de Peniche, acompanhado por Guida, uma jovem com metade da sua idade, que ainda mal conhece.

Mal chegam à falésia são abordados por um rapazinho da aldeia que tenta logo fazer negócio com os forasteiros, propondo a venda de uma renda que a irmã terminará à pressa. Também um velhote que tenta caçar um pequeno perdigoto faz parte desta história, uma história repleta de contrastes. De um lado a despreocupação de João e Guida, claramente abastados, do outro lado os habitantes da pequena aldeia, vivendo à beira da miséria, dependentes dos humores do mar. Este contraste está também presente no próprio ritmo da narrativa: lento na de João e Guida, simbolizando as despreocupações, e mais acelerado na da população local, denotando a dificuldade de vida e a luta pela subsistência.

Uma história em que sobretudo se destacam as diferenças sociais e o desprezo dos abastados por aqueles que vivem privados de quase tudo.

“Neste meio tempo apareceu a rondar por ali um miúdo de São Romão, uma destas criaturas que trazem um casaco de homem a dar-lhes pelas canelas, a ponto de se julgar que andam nuas por baixo, só com aquilo.

O miúdo ficou de longe em face da cena que se estava a passar; e não ficou por ali por ver uma mulher a beijar um homem: isso é das tais coisas que acontecem quando menos se esperam; nem tão pouco porque se espantasse grandemente de ver uma senhora de calças e a fumar: passava por Peniche muito turista estrangeiro que fazia o mesmo ou ainda pior, e ele já tinha ido várias vezes a Peniche. Não, a verdade era outra. O garoto parara ali, sim, mas por uma razão muito dele: porque trazia um recado importante. Esperto como era, lá resolveu que o melhor que tinha a fazer era pôr-se de largo e só se apresentar quando tudo estivesse em ordem. Calma, portanto.

Se bem o pensou melhor o fez. E quando veio ao pé dos viajantes estendia uma amostra de renda na palma da mão. Era o recado.”

Leia aqui um excerto ou aqui mais informação sobre a obra.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Sítio recomendado: Biblioteca Digital Camões

Uma das missões do Instituto Camões é a promoção da língua e cultura portuguesas, e no âmbito dessa missão foi criada a Biblioteca Digital Camões, que disponibiliza um vasto conjunto de textos e documentos relevantes a nível cultural e linguístico, que estão disponíveis de forma gratuita e livre na Internet.

De acordo com o Instituto Camões “A Biblioteca Digital Camões pretende ser um repositório da cultura em língua portuguesa, tendo como principal critério a publicação de obras integrais, para leitura gratuita, sem necessidade de registos ou subscrição.”

A Biblioteca Digital Camões disponibiliza já, em formato PDF, mais de 1900 obras (1974) relacionadas com diversas áreas do conhecimento, entre elas Arte, Biografia, Estudos Literários, História e Música, bem como obras literárias de escritores de língua portuguesa, tais como Antero de Quental, Agustina Bessa Luís, Luís de Camões, Fernando Pessoa, José Cardoso Pires, etc.

Um sítio que vale a pena visitar.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Herta Muller, Nobel da Literatura de 2009


Herta Müller nasceu a 17 de Agosto de 1953, na aldeia de Nitzkydorf, perto de Timisoara, na Roménia. Estudou alemão e literatura romena e trabalhou depois como tradutora numa fábrica de Timisoara, função da qual foi demitida em 1979 por se ter recusado a colaborar com a polícia política de Nicolae Ceaucescu.

A estreia literária de Herta Muller deu-se em 1982 com a colectânea de contos Niederunge, censurados na Roménia e publicados dois anos depois na Alemanha.

Proibida de publicar na Roménia por ter criticado publicamente o regime de Ceausescu, a escritora emigrou em 1987 para a Alemanha com o marido, o escritor Richard Wagner.

Müller é autora de livros como “O homem é um grande faisão sobre a terra”, editado em Portugal pela Cotovia, e “A terra das ameixas verdes”, publicado a nível nacional pela Difel. Ambos estão esgotados em Portugal.

Em 1984, foi distinguida com o Prémio Aspekte, em 1995, recebeu o prémio europeu de literatura Aristeion e foi eleita para a Academia Alemã para Língua e Poesia. Em 1998, recebeu o prémio irlandês IMPAC, no ano seguinte o Prémio Franz Kafka. Em 2003, o prémio Joseph Breitbach de literatura alemã, em 2004 o prémio de literatura da Fundação Konrad Adenauer e, em 2006, o Prémio Würth de literatura europeia.

A obra desta escritora destaca-se pelos seus relatos acerca das árduas condições de vida na Roménia sob o regime político comunista de Ceaucescu e valeu-lhe agora a atribuição do Nobel de Literatura por "com a densidade da sua poesia e a franqueza da sua prosa, retratar o universo dos desapossados”.

Se ainda não conhece a obra de Herta Muller pode ler aqui um conto da sua autoria publicado na antologia “O Melhor do Conto Alemão no Século 20” (Brasil: L&PM, 2004).

Mais informação em:

nobelprize.org

Dickinson College

Wikipedia

Público

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

O tempo dos Espelhos

VAZ, Júlio Machado - O tempo dos espelhos. 1ª ed., 3ª tir. Lisboa : Texto Editores, 2006. 158, [1] p. ISBN 972-47-3110-3-3

“O tempo dos espelhos” da autoria de Júlio Machado Vaz é um romance autobiográfico escrito ao ritmo dos pensamentos e dos sentimentos, ao ritmo da vida e da morte, das angústias e das incertezas, mas também ao ritmo das memórias e das lembranças.

Publicada em 2006, esta obra foi escrita em 2005, pouco depois de o autor ter sido confrontado com um grave problema de saúde, com o objectivo de deixar um registo da sua vida.

Júlio Machado Vaz refugiou-se em Cantelães e registou a história e as particularidades da família Machado Vaz: o avô. Bernardino Machado, por duas vezes Presidente da República; o pai, o Prof. Machado Vaz, também médico; a mãe, a cançonetista Maria Clara; os filhos e os netos. Mas mais do que isso revelou-se a si mesmo: conhecido como médico psiquiatra e cara conhecida da televisão, Júlio Machado Vaz acaba por se revelar hipocondríaco e… sentimental.

A história desenrola-se a duas vozes: a voz de Júlio Machado Vaz, no papel de narrador, e a voz da consciência, autocrítica que vai esquadrinhando todos os sentimentos, traumas de infância e medos ocultos. Parece um diálogo ao espelho. Júlio Machado Vaz retrata-se tal como se vê, de forma dura e sem rodeios. Um espelho que muito mais do que reflectir uma imagem, reflecte uma vida e obriga-nos a reflectir sobre questões profundas, tais como a doença, os afectos, os nossos receios e aspirações.

Uma leitura que vale a pena…

“Aqui, a vida assumiu um outro significado para mim. Cantelães é a estação de chegada, mas a viagem ainda não terminou, sacudi alguma da apatia que me vinha invadindo. Não cortei relações com o meu andarzinho do Porto, continuo a amá-lo, somos cúmplices há tantos anos! Mas em termos simbólicos esta casa representa um salto qualitativo – é um sonho que transformei em realidade e não perdi ou estraguei. Só posso dizer o mesmo dos meus filhos. Como eles, Cantelães é um estímulo. Já não para projectos vagos ou agitação frenética de workaholic. Para, a pouco e pouco, tentar viver mais em paz comigo e com o mundo. É um objectivo por definição inacabado, mas possível de ser perseguido.”

Júlio Machado Vaz in O Tempo dos Espelhos

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Livro do mês: O afinador de pianos de Cristina Norton

NORTON, Cristina - O afinador de pianos : romance. 1ª ed. Lisboa : Dom Quixote, 2007. 221 p. ISBN 978-972-20-3269-8

O afinador de pianos da autoria de Cristina Norton relata-nos a história de Benjamin e Ângela, que unidos por um grande amor, deixam tudo para trás para poderem ficar lado a lado.

Benjamin é convidado pelo tio para durante uma semana ir ao Ferrol, uma terra na província da Corunha, para afinar alguns pianos. Benjamin aceita de bom grato esta oferta e deixa em Madrid, Rócio, a mulher fria e distante, e o tio Malaquias, seu mestre de ofício.

Pouco tempo depois da sua chegada ao Ferrol, Benjamin conhece Ângela, uma jovem professora de música por quem rapidamente se apaixona.

Apanhado pelo início da Guerra Civil, Benjamin fica retido na Corunha e sem forma de contacto com a mulher na Galiza. O tempo vai passando e a relação entre Benjamin e Ângela torna-se cada vez mais forte. Terminada a guerra, e depois de 3 anos afastado da família, Benjamin resolve contar toda a verdade sobre o seu casamento a Ângela.

“As tropas nacionalistas avançavam conquistando quase todo o território e havia sintomas de que a guerra estava próxima do fim. Não tinha tomado partido por nenhuma das forças políticas, mas em breve se veria na obrigação de decidir se voltaria para Madrid da mesma forma discreta como tinha chegado ou se encararia por uma vez a realidade e falaria da sua situação a Ângela.”

Decididos a viver como marido e mulher deixam tudo para trás e resolvem partir para Portugal. Uma vez lá chegados a vida não corre como desejaram e resolvem prosseguir viagem até Buenos Aires, onde viverão até ao fim das suas vidas.

Na Argentina, Benjamin e Ângela são felizes durante os primeiros anos. Conseguem montar um negócio próprio e levam uma vida desafogada. Mas quando a filha Cecília começa a frequentar uma escola católica, os sentimentos de culpa face aquela união pecaminosa aos olhos da igreja começa a invadir cada vez mais a vida do casal.

“(…) não precisam de contar a verdade à vossa filha nem fazer disto um drama, nem encarar a possibilidade de uma separação, não tudo deve continuar como dantes… salvo num pormenor de pouca importância (…) A partir de hoje, para não viverem em pecado mortal, vão ter de se comportar como irmãos(…)”

Os caminhos tortuosos da culpa acabam por afastar Ângela de Benjamin para sempre. Partilham o mesmo telhado mas lentamente Ângela vai-se apagando, até não passar senão de uma sombra daquilo que fora.

Esta é uma história de um amor forte e intenso. Ao longo das páginas do livro somos conduzidos por 40 anos de realidade histórica: a guerra civil na Espanha, o regime salazarista em Portugal e os anos conturbados que se seguiram ao Golpe Militar na Argentina, durante os quais decorre a história de vida deste casal, do qual nos aproximamos e com quem nos envolvemos através de uma narrativa rica, que se desenrola num ritmo vivo, esperando até ao culminar da história que Benjamin e Ângela consigam ultrapassar os obstáculos levantados pela sua consciência, reencontrando a felicidade que em tempos tinham vivido.

"Sentia que lhe devia uma nova vida e uma felicidade que chegaram a conhecer e que tinham perdido nos caminhos tortuosos da culpa. Precisava de se redimir, de se sentir perdoado diante de Deus, dos homens e sobretudo de Ângela.”

A autora:

Cristina Norton nasceu em 1948 em Buenos Aires, Argentina. Reside há mais de 30 anos em Portugal e é de nacionalidade portuguesa. Publicou, entre outros livros, os romances "O Afinador de Pianos" (Europa-América), "O Lázaro do Porto" (Temas e Debates, 2 edições) e "O Segredo da Bastarda" (Temas e Debates).

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Dia Mundial da Música



O Dia Mundial da Música foi proposto pelo grande músico e violinista Yehudi Menuhin, na altura Presidente do Conselho Internacional da Música e celebrado pela primeira vez em 1975.


Os principais objectivos desta data são:

* Promover a arte musical em todos os sectores da sociedade;
* Promover a música enquanto ponto de encontro de pessoas, ideias e estéticas, celebrando a sua universalidade.

Aproveitando a ocasião vale a pena reflectir sobre a definição de Música, enquanto expressão artística, de J. A. Alegria:

“Como arte a música é a expressão social e cultural em permanente oferta gratuita à sensibilidade e à inteligência dos homens de todos os níveis e capacidades. Fenómeno vincadamente social, a música tem cada vez mais audiência nas comunidades humanas, facilitada pelos modernos meios de comunicação. Tão próxima está das preocupações que agitam cada geração que já alguém afirmou ser a música a autobiografia da sociedade mais do que do seu autor ou compositor. Parece fora de discussão poder dizer-se que a música, através da sua variedade formal, é intrinsecamente sociável.”


In: Polis : Enciclopédia Verbo da Sociedade e do Estado.
1ª ed. Lisboa : Verbo, 1983. 5 vol.