quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

Muros


Quando falamos de muros, por via de regra, pensamos em muros físicos. Como me sinto atraída pelo belo e gosto de realçar o lado positivo do que me acontece ou rodeia, a palavra muro sugere-me, numa primeira análise, beleza.

Vejo-os cobertos de glicínias perfumadas, de buganvílias de cores fortes, de hera verde e musgo a revestirem pedras envelhecidas, de rosas miudinhas, de jasmim a exalar um aroma intenso e inesquecível, que me recorda sempre a Tunísia. E visualizo tantas outras trepadeiras coloridas e belas. 

Só depois penso nos muros encimados por arame farpado. Esses começam e acabam nas separações e muralhas que existem dentro de nós.

Ao longo da história tem havido sempre fanáticos, ditadores e extremistas que erguem muros gigantescos. Uma vergonha para a humanidade. Vêm de dentro para fora. Nascem no coração.

Contudo, é com muros que construímos as nossas casas, os abrigos que aconchegam. Todos os lugares habitados são estruturados a partir deles.

Porém, tanto servem para criar espaços acolhedores, como lugares caóticos, miseráveis, poluídos, indignos e inseguros.

Toda a nossa vida é feita de muros físicos e abstratos.

A própria natureza tem divisórias: as montanhas, as florestas, os rios, os mares, as escarpas e tantos outros.

Os muros são o suporte do património histórico, artístico e cultural.

Fazem parte da identidade comum de um lugar.

Podem ser elementos vivos, dinâmicos e participativos da relação das pessoas com o meio ambiente.

Eles fazem parte do mundo de símbolos e hábitos de cada grupo humano.

É bastante através dos muros, ou seja das construções, que avaliamos a qualidade de vida e o local onde determinado tipo de existência transcorre.

Existe uma grande relação entre os espaços urbanizados e o comportamento humano.

Hoje não se procura só a beleza dos muros que formam os lugares habitáveis, mas também o bem-estar das pessoas e a harmonia com o ambiente.

Porém, os muros mais perigosos são os que nos aprisionam dentro de nós próprios. Quase todos os erguemos. Maiores ou menores, consciente ou inconscientemente, quer queiramos ou não admiti-lo.

Eles desenvolvem-se, mais facilmente, nos corações vazios.

A maioria dos males da humanidade resulta da incapacidade de derrubar os muros do egoísmo e da intolerância.

Contudo, o facto de estarmos aqui reunidos, numa noite fria, quase em vésperas de Natal, significa, entre outras coisas, que temos capacidade de abertura aos outros, de criar laços de pertença a um grupo., através de reflexão e convivência saudável.

E porque é Natal, e não só, recordo que todos temos ao nosso alcance meios poderosos para derrubar muros: sorrir e abraçar.

12 de dezembro de 2016
Maria Leonarda Tavares

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

O meu bibliotecário por António Vilhena

O meu bibliotecário. Ensinou-me tanta coisa. Foi o mais sábio, aquele que me levou pela mão, que me ajudou a encontrar as palavras nos dicionários, a decifrar os códigos da catalogação, a desvendar os autores e, principalmente, a abrir um novo mundo ao mundo que os meus olhos abriam.

Era pequeno, tinha a idade do meu filho, oito anos, quando entrei naquela sala da biblioteca pública, com as paredes “forradas” de livros, chão a cheirar a cera, janelas altas e vidros limpíssimos. Via-se a Praça da República, onde um pelourinho manuelino sinalizava o centro, onde outrora tiveram lugar autos-de-fé, mas não de justiça. Naquela praça, centro do mundo das nossas vidas, espaço de encontro e de história, estava a biblioteca pública, gáudio da curiosidade de graúdos e miúdos. Quando se é pequenino a escala das coisas assume dimensões gigantes. Foi essa a percepção que tive quando entrei na biblioteca que iria mudar a minha vida. Nunca tinha visto tanto livro! Era uma sensação estranha e fascinante. Tinha perante os olhos um universo onde quase tudo era possível. Ninguém me levou, encalhei na placa que estava na fachada, empurrei a porta e, quando entrei, uma mão pousa nos meus ombros, uma voz troante encontra a minha ansiedade: - Já conheces a biblioteca? Vou mostrar-te a tua secção. Ou seja, havia uma estante, à altura do meu tamanho, que tinha livros de aventuras e curiosidades científicas. Aquela era a minha secção. Nesse mesmo dia, fiz a inscrição. E em troca, podia levar três livrinhos para casa. O meu primeiro termo de responsabilidade foi com uma biblioteca. Passados muitos anos, percebi que foi a melhor coisa que me aconteceu naquela idade.

Saía de casa e “escondia-me” atrás de um livro até ir jantar. Por ali passavam figuras “estranhas”, carregando livros de lombada grossa, escritos numa língua “inacessível”: latim. Esses senhores, de uma certa idade, sentavam-se numas mesas ao fundo da sala, onde havia candeeiros pretos e tinteiros brancos de porcelana. O ritual era sempre o mesmo: tiravam e punham óculos, molhavam a caneta de aparo no tinteiro e ali ficavam até o bibliotecário anunciar o fecho. Esse era o momento em que eu fixava a página, fechava o livrinho e ia colocá-lo na estante, até ao dia seguinte. Quando abria os olhos, na Praça da República, havia uns instantes para me habituar à luz, sentia que tinha aprendido alguma coisa. Essa sensação impelia-me a correr até casa. Chegava suado e com os bofes na boca. Logo de seguida, a minha mãe perguntava: Onde estiveste a jogar à bola? Aquela pergunta irritava-me. Se lhe dissesse a verdade não ia acreditar, por isso, arrumava o assunto dizendo que tinha sido guarda-redes. Mas a minha cabeça estava cativa da história que tinha deixado a meio, aquele cheiro a cera, as janelas altas… e o silêncio. O tempo passou, eu cresci com os livros mas, também, com o sábio bibliotecário que me iniciou no ofício das vidas secretas que se escondiam nas estantes. Desse homem que usava fundos de garrafa nos óculos, guardo a memória e o trato fino, o jeito paternal e o carinho com que tratou todos os meninos que ousaram entrar no seu “templo”. Era o sábio dos sábios, uma distinção honrosa que todos lhe reconhecíamos. Depois do 25 de Abril de 1974, descobri que era, também, um sábio da liberdade, um cultor da esperança, um curador dos livros proibidos, um homem solidário e fraterno. Chamavam-lhe o Martins da Biblioteca. Para mim, foi sempre o meu bibliotecário. 

António Vilhena

quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Lucky Luke está de parabéns!


O mais célebre cowboy da banda desenhada europeia foi criado na Bélgica por Morris, aliás Maurice de Bévère, em 1946. 

A primeira aparição de Lucky Luke verificou-se no Almanach Spirou 1947, anuário da revista Spirou, publicado a 14 de novembro de 1946, com a história "Arizona 1880".

Lucky Luke é um cow-boy solitário que com o seu cavalo Jolly Jumper se cruza com as grandes figuras da história do Oeste norte-americano: Billy the Kid, os irmãos Dalton, Jesse James, Calamity Jane, Sarah Bernhardt..., assim como os grandes acontecimentos, como a corrida ao ouro, as guerras com os índios, o caminho de ferro... 


Para saber mais requisite um dos diversos álbuns da colecção "Lucky Luke" disponíveis na Rede de Bibliotecas do Concelho de Arganil e consulte:

terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Recursos: Dicionário de Personagens da Ficção Portuguesa


O Dicionário de Personagens da Ficção Portuguesa é um projecto coordenado pelo professor Carlos Reis e encontra-se disponível on-line desde o passado dia 15 de Novembro.

Às 30 personagens que agora foram disponibilizadas seguir-se-ão outras, no ritmo de crescimento próprio de um trabalho desta natureza. Está previsto que o Dicionário de Personagens da Ficção Portuguesa venha a atingir um número total de cerca de 200 personagens.

Este dicionário é o resultado extensivo do projeto “Figuras da Ficção”. Nesse contexto, o Dicionário é concebido como uma obra articulada sobre quatro linhas de desenvolvimento:
  • a personagem, enquanto categoria narrativa com reconhecido potencial semântico e diversificada elaboração, em várias épocas e géneros narrativos;
  • a literatura portuguesa, enquanto campo literário que corresponde ao que é usual designar como literatura nacional e determinando o fundamental do corpus de entradas;
  • a história literária, enquanto processo que envolve transformações que incidem sobre a categoria narrativa aqui em causa, designadamente (mas não só) no que toca ao devir de movimentos periodológicos;
  • os estudos narrativos, enquanto campo teórico alargado e interdisciplinarmente enriquecido por extensões que conduzem a narrativas não literárias e não verbais (cinema, jornalismo, televisão, banda desenhada, videogames, etc.), contempladas na medida em que ilustram a sobrevida da personagem literária noutros contextos e suportes, com destaque para a questão da transposição intermediática.
Fonte: http://dp.uc.pt/
 
Este é um recurso que sem dúvida vale a pena explorar.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Biblioteca Municipal de Arganil - 20 anos - Destaques dia 5

Dispositivos móveis na educação por Carlos Pinheiro
5 de Dezembro às 17.30
 Imagens de leitura através dos seus criadores
com os escritores António Vilhena e José António Franco
Moderação do Prof. Nuno Teixeira
5 de Dezembro às 21.30
Dia 5 visite-nos e festeje connosco o 20º aniversário da 
Biblioteca Municipal de Arganil.