segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

A leitura

Ler é uma estratégia para aprender. Para aprender a ler a simples exposição não é suficiente. “O seu domínio exige um ensino directo que não se esgota na aprendizagem, ainda que imprescindível, da tradução letra – som, mas que se prolonga e aprofunda ao longo da vida do sujeito. A respectiva mestria permite o aumento do potencial comunicativo e a expansão dos interesses individuais e é a grande facilitadora das aprendizagens escolares e do crescimento cognitivo de cada aluno.” (Sim – Sim, 1995).

A leitura, enquanto processo de aprendizagem, implica descodificar o texto, perceber o seu conteúdo e compará-lo com o conhecimento e as experiências a que ele associamos. Como resultado, formamos juízos de valor, revemos o nosso próprio conhecimento, modificamos ou ajustamos o nosso próprio pensamento, e, consequentemente «acontece a aprendizagem».

Ler é questionar o escrito como tal, usar a leitura para obter informação, organizar o conhecimento, a partir de uma expectativa (necessidade/prazer) numa autêntica situação de prazer.

O acto de ler é um encontro entre o leitor e um texto, num tempo e num espaço particulares.

Um bom leitor gosta de ler, pratica a leitura com prazer adquirindo a fluência que é entendida como a rapidez e rigor de compreensão do que é lido. Um bom leitor é aquele que é eficazmente autónomo perante um texto e que auto controla a sua própria compreensão em cada momento de leitura.

“Compete à escola adoptar uma pedagogia do oral proporcionando aos alunos um saber de ordem linguística, cognitiva e social que lhe permita exprimir as suas interrogações e os seus pontos de vista considerando o contexto, as reacções dos seus interlocutores, as suas expectativas e valores, e ter uma imagem de si próprio que o faça sentir um interlocutor de si próprio de pleno direito.” (Sim–Sim,I., Duarte, I., Ferraz, M.J. 1997). E podemos concluir que a leitura é um acto complexo, simultaneamente linguístico, cognitivo, social e afectivo.
Maria João Cavaleiro
Professora bibliotecária

Como fazer um projecto de promoção da leitura

Disponível no sítio Casa da Leitura, encontra-se um interessante texto da autoria de António Prole, intitulado Como fazer um projecto de promoção da leitura”. O autor reflecte sobre os objectivos dos projectos de promoção da leitura, o conceito de leitura literária e compreensão leitora, defendendo que as actividades de animação da leitura devem induzir antes de tudo ao acto de ler.

Leio o texto na íntegra aqui e aproveite para descobrir o que mais este interessante sítio tem para oferecer!

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

A linguagem, a leitura e a escrita

1 – A Linguagem

O ser humano inicia a sua aprendizagem a partir do momento em que nasce. Nos primeiros contactos com o ambiente que o rodeia, com a mãe, com o meio familiar e, mais tarde, com o ambiente escolar e social, estabelece-se uma inter-relação que se vai aprofundando e modificando, de acordo com o próprio desenvolvimento. Nessa inter- relação actua a criança e o adulto, que “ensina”.

A linguagem é muito importante em todo o processo de desenvolvimento da criança, uma vez que vai ser o suporte de todas as aprendizagens e aquisições. Daí a criança ser capaz de comunicar, recorrendo a todo o tipo de linguagem oral, escrita, corporal e gestual.

A aquisição da linguagem pela criança processa-se de forma natural e espontânea, basta que seja exposta à língua da comunidade a que pertence, isto é, que ouça falar à sua volta e que falem. A linguagem adquire-se e desenvolve-se através do uso, do ouvir falar falando. Esta aquisição processa-se em várias fases e é condicionada por diversas influências, pelo que nem todas as crianças do mesmo nível etário apresentam o mesmo grau de desenvolvimento linguístico.

A linguagem vai progredindo e aperfeiçoando-se, à medida que são vencidas as várias fases, mas esta evolução necessita da intervenção do adulto, quer seja da família ou do professor. As alterações da linguagem podem surgir em qualquer umas das etapas e podem ser devidas a deficiências congénitas, mas também a factores de ordem sócio- cultural e sócio - económico do meio de onde provêm os alunos.

As dificuldades que algumas crianças apresentam no início da vida escolar manifestam-se nas matérias fundamentais, a leitura e a escrita, tendo como consequência dificuldades noutras áreas de aprendizagem traduzindo-se em fraco rendimento escolar. É ao iniciar a sua escolaridade (Ensino Básico) que se manifestam essas dificuldades na aprendizagem, dado que é no 1ºe 2º anos do Ensino Básico que criança deve aprender a ler e a escrever, tarefa escolar que poderá transformar-se numa verdadeira angústia e numa enorme dificuldade caso não tenham sido adquiridos certos requisitos.

Estas dificuldades poderão levar a criança a rejeitar as aulas, a perturbar o ambiente da sala de aula, a recusar realizar as tarefas, falta de estímulo para estar na sala de aula, podendo mesmo conduzir ao desenvolvimento de uma personalidade conflituosa.

“Para que os alunos que chegam à escola, com uma variedade de origem diferente, alcancem o nível de mestria necessário no Português padrão, não pode esquecer-se que a simples exposição ao modelo fornecido pelo professor e por outros colegas não é suficiente, havendo que promover, na sala de aula, estratégias de ensino diferenciadas, direccionadas para este propósito específico”.(Sim - Sim, I., Duarte, E Ferraz, M.J.1997).

Este processo é simples e natural, mas exclui por completo o imobilismo. Para o professor consiste em ter ao mesmo tempo, e em interacção permanente, dois cuidados: o de conhecer sempre melhor os “recursos” do aluno e o descobrir, sem cessar novos itinerários para os seus saberes.

O trabalho em conjunto, professor - aluno, é uma forma de conseguir uma aprendizagem significativa para a criança, pois parte das necessidades do actor principal do processo pedagógico, que é a criança. Neste processo, a responsabilidade e a autonomia dos alunos são essenciais dado que eles são membros activos da sua aprendizagem.

A linguagem individualiza-nos enquanto espécie e constrói-nos como sujeitos na medida em que nos permite conhecer, pensar, agir argumentar, sentir, abrindo-nos as portas do conhecimento.
Maria João Cavaleiro
Professora Bibliotecária do Agrupamento de Escolas de Arganil

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Jornal de Letras

O Jornal de Letras tem desde o dia 13 de Janeiro um sítio na Internet! Visite-o em www.jornaldeletras.pt e descubra tudo o que este sítio tem para lhe oferecer!

“Estamos na linha... Para termos a certeza de que não vamos perder o comboio. Mas também não vamos deixar que ele nos passe por cima. O site do JL já está on-line, alojado no portal da VISÃO, mas com autonomia e gestão própria. É assim um novo serviço que oferecemos aos nossos leitores, complementar da edição em papel. Uma forma prática de comunicar e estar mais próximo de todos aqueles que nos acompanham, não só em Portugal, mas um pouco por todo o mundo, com principal destaque nos países de língua portuguesa (…)'Em linha' publicaremos conteúdos próprios, mas também alguns textos saídos na edição em papel, abrindo espaço a comentários. Todos os interessados deverão registar-se. Assim como aqueles que queiram participar no Fórum, onde colocaremos temas de actualidade em discussão. Pretendemos formar uma comunidade de pessoas com interesses em comum, onde cada um possa expor os seus próprios pontos de vista.”

Manuel Halpern in Visão
http://aeiou.visao.pt/conheca-o-site-do-jornal-de-letras=f544147
(acedido em 14.01.2010)

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Da aprendizagem da leitura

Todos reconhecemos que saber ler é uma condição indispensável para o sucesso individual, quer na vida escolar, quer na vida profissional. Torna-se necessário saber ler fluentemente e escrever de forma eficiente para a realização de todas actividades diárias, como ler o jornal, consultar o horário de comboios ou preencher a declaração de impostos, entre outras.

Numa sociedade cada vez mais dependente da obtenção rápida de informação, a fraca competência para a leitura traz embaraços na realização de tarefas bastante simples, dando lugar ao desânimo e desistência face a aprendizagens que dependem essencialmente da informação escrita.

Os resultados das provas de aferição e até estudos internacionais têm comprovado o baixo desempenho de leitura dos alunos portugueses.

É urgente inverter este processo.

A aquisição da leitura e da escrita deve ocorrer num ambiente onde não haja medos nem receios tendo em conta o seu ritmo de aprendizagem e o seu desenvolvimento. Aprende-se a língua manipulando-a nas mais diversas situações: aprende-se a falar falando, a ler lendo, a escrever escrevendo, a compreender exercitando as estratégias de leitura.
Maria João Cavaleiro
Professora Bibliotecária do Agrupamento de Escolas de Arganil

Livro do mês: a idade da inocência

WHARTON, Edith - A idade da inocência. 2ª ed. Mem Martins : Europa-América, 1993. 274, [1] p. ISBN 972-1-03658-7

O enredo de A Idade da Inocência centra-se na vida de um casal da classe alta, prestes a casar e o aparecimento nas suas vidas de uma mulher que vem ameaçar a sua felicidade.

Newland Archer, advogado e herdeiro de uma das mais influentes famílias de Nova Iorque, está noivo da bonita e protegida May Welland. Porém ao conhecer a Condessa Ellen Olenska, uma prima da sua noiva, exótica e independente, separada do marido, vinda da Europa, Newland começa a questionar a sua escolha.

A decisão de Ellen de se divorciar do conde Olenska traz uma crise para a família. Um divórcio seria um escândalo e poderia representar a desgraça social. Viver separado poderia ser tolerado, mas um divórcio era inaceitável. Assim a fim de salvar a reputação da família Welland, Newland consegue dissuadir a Condessa de Olenska do divórcio, mas nesse processo acaba por apaixonar-se por ela.

Newland e May apressam o casamento e Newland faz um esforço para esquecer Ellen, porém falha. O seu casamento é apenas um casamento de conveniência, sem amor, e a sua vida social parece-lhe cada vez mais vazia e menos excitante. Embora Ellen tenha ido viver para Washington, Newland não consegue esquecê-la.

Ellen regressa a Nova Iorque para tomar conta de uma avó acamada e Newland tenta aproximar-se dela, procurando ao mesmo tempo uma forma de deixar May. Ellen acaba por sucumbir aos avanços de Newland, mas pouco depois anuncia o seu regresso à Europa. Newland decide então abandonar May e seguir Ellen, porém, muda de planos quando May lhe anuncia estar grávida.

Um romance intenso que retrata de uma forma viva e irónica a sociedade da século XIX, uma sociedade onde se nega a humanização e se vive de aparências. Esta obra valeu a Edith Wharton o prémio Pulitzer em 1920 – o primeiro atribuído a uma mulher.

Excerto:

“O jovem estava sincera mas serenamente apaixonado. Estava encantado com a beleza da noiva, a sua saúde, o seu porte a cavalo, a sua graça e vivacidade nos jogos e o interesse tímido em livros e ideias que começava a desenvolver sob a sua direcção. (Conseguiria avançar o suficiente para se unir a ele a ridiculizar Os ídilios do rei, mas não para sentir a beleza de Ulisses e os Comedores de lótus.) Era directa, leal e corajosa, tinha sentido de humor (principalmente provado pelos seus risos com as piadas dele); e suspeitava nas profundezas da sua alma de aspecto inocente um brilho de sentimento que seria uma alegria despertar. Mas, quando deu a volta rápida aos atributos da noiva, sentiu-se desencorajado pelo pensamento de que toda esta franqueza e inocência eram apenas um produto artificial. A natureza humana não era franca nem inocente, era cheia de ardis e defesas de astúcia instintiva.”

Nota biográfica:
Edith Wharton nasceu em Nova Iorque em 1862, no seio de uma família ilustre. Em 1885 casou com Edward Robbins Wharton, de quem se divorciou em 1913.
De 1910, até a sua morte em 1937, viveu em França, tendo efectuado importante trabalho humanitário durante a guerra.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

A Ilha das Trevas de José Rodrigues dos Santos

SANTOS, José Rodrigues dos - A ilha das trevas. 6ª ed. Lisboa : Gradiva, 2008. 354 p. ISBN 978-989-616-172-9

A Ilha das Trevas, o primeiro romance de José Rodrigues dos Santos, é um relato ficcionado da história da Independência de Timor, que se inicia em 1975, altura em que o governo português abandonou a ilha, e esta foi invadida pelos Indonésios, que anexaram Timor-Leste ao seu território, como a sua 27ª província.

Durante mais de 24 anos os Timorenses viveram subjugados e ameaçados pelas tropas Indonésias e foram vítimas de extrema violência. Centenas de aldeias foram destruídas pelos bombardeios do exército da Indonésia e milhares de Timorenses foram brutalmente assassinados.

Esta situação foi escondida dos olhos do mundo durante anos a fio, apenas a partir de 1991, depois do massacre no cemitério de Santa Cruz e em 1996 com a atribuição do Nobel da Paz a D. Ximenes Belo e Ramos Horta, a causa de Timor-Leste pela independência ganhou maior repercussão e reconhecimento mundial.

A ilha das trevas é um relato impressionante sobre a história recente de Timor. Escrito num ritmo dramático e intenso, misturando alguns elementos de ficção com o real, o romance capta a atenção do leitor desde a primeira à última página, fazendo com que este viva e sinta os acontecimentos, e sobretudo fique a conhecer a história da luta pela independência de Timor-Leste.

“Timor-Leste é um problema antigo e ignorado do mundo. A indonésia invadiu esta colónia portuguesa em 1975, e, desde então, através de uma campanha sistemática e organizada de chacinas, assassinatos, fome e perseguições, dizimou um terço da população local. (…) Trata-se de um problema antigo que requer atenção para poder ser resolvido. Se o mundo continuar a ignorá-lo, a Indonésia sentir-se-á à vontade para prosseguir a política de aniquilamento que está a conduzir no território. O bispo Ximenes Belo é o cardeal Romero de Timor-Leste, é a principal voz que se ergue em defesa dos timorenses. Mas é uma voz fraca. Cabe-nos a nós dar-lhe força. Meus senhores e minhas senhoras, acredito convictamente que, mais do que premiar feitos ocorridos no passado, o Nobel da Paz deve ser usado como factor de mudança, como um pólo de pressão para que haja alterações nas políticas opressoras. Ao premiar o bispo Ximenes Belo, o Comité Nobel estará à altura das suas melhores tradições, introduzindo irreversivelmente a questão de Timor-Leste na agenda política internacional (…).”