segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

É Natal

É Natal

É Natal!
As luzes coloridas cintilam, animadas,
no pinheiro da sala.
O aroma do pinho envolve-me: respiro com prazer.
O calor vivo da lareira afogueia-me o rosto e
deixo-me ficar, saboreando o momento.

É Natal!
Ouço o barulho dos foguetes, o burburinho das conversas
e os risos alegres. Uma paz doce envolve-me
e não consigo evitar a imagem frágil daquele menino,
remendado, frio e magro, que me olhava,
na esperança de uma moeda.

É Natal!
O rosto do menino continua a perseguir-me;
mesmo depois de lhe ter dado a moeda.
Sorriu e agradeceu-me.
- Feliz Natal! – ouvi ainda, enquanto me afastava…
Perdeu-se na multidão, sem rumo nem norte,
levando consigo o amanhã. Apesar de tudo,
conservava a ternura e a esperança de vir a ser feliz.

É Natal!
As minhas lágrimas acordam-me.
Sinto o sangue correr velozmente nas veias
e rezo por todos os meninos abandonados do Mundo.
Ouço agora, mais claramente, a pequena voz rouca
a dizer, num sorriso: - Feliz Natal!...


Lurdes Breda in Asas de Vento e Sal (p. 49-50)

VOTOS DE BOAS FESTAS E BOAS LEITURAS!

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Novidade na Biblioteca: no rastro do jaguar de Murilo Carvalho

Prémio Leya 2008

«Obra de fôlego, que refigura uma vasta erudição, O Rastro do Jaguar combina narrativa histórica e arte poética, elaboração wagneriana e aura profética, de forma a prender o interesse da leitura por uma saga onde se conjugam a busca individual de raízes e o destino ameríndio, e que atravessa a França, Portugal, Brasil, Paraguai e Argentina, até ao final aberto sobre a demanda milenarista da Terra Sem Males.»

Manuel Alegre 
(Presidente do Júri do Prémio Leya 2008)

Estamos no virar do século XIX em Congonhas do Campo. Pereira, um antigo jornalista de origem portuguesa, revisita as suas memórias, que percorrem todo o conturbado período da segunda metade do século. Através do relato da sua viagem, Pereira, que deixara Paris com o seu grande amigo e companheiro Pierre, leva-nos a conhecer o Brasil em guerra com o vizinho Paraguai, no período mais decisivo da sua história. Uma guerra sangrenta que o Brasil trava ao lado da Argentina e do Uruguai e que, para Pereira e Pierre, será o momento decisivo das suas vidas. É também a guerra pelo espaço vital das populações índias que, humilhadas pela acomodação forçada às regras e vivências dos colonos, tentam recuperar a sua Terra Mítica onde o Mal não existe. É ainda a guerra travada por Pierre para se definir a si mesmo: índio, como o seu povo, ou europeu, tal como foi criado? Levado em criança por Auguste de Saint’ Hillaire do Brasil para França, descobre, já adulto, nas feições de dois índios presos, a chave para as suas raízes nunca explicadas. Raízes que vai encontrar nesse cruzamento do Rio da Prata onde brasileiros e paraguaios morrem aos milhares e os índios guarani lutam por uma terra onde possam de novo viver livres e em paz. Da França à Argentina, do Brasil ao Paraguai, do sertão nordestino aos planaltos do Sul do Brasil, Pereira relata-nos de uma forma empolgante e quase cinematográfica as grandes transformações que definiram a América do Sul. Pelo caminho, encontra o amor perfeito e Pierre a pátria a que junto dos seus pode chamar sua.

Baseado em factos verídicos e personagens reais, O Rastro do Jaguar é um fresco dos intensos choques culturais e sociais que marcaram o século XIX e a relação dos europeus com as suas antigas colónias agora independentes.

Fonte: badana do livro

Leia, porque ler é um prazer!

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

João Joaquim de Jesus

JOÃO JOAQUIM DE JESUS nasceu no Funchal a 3 de Outubro de 1904. Filho mais velho de uma família modesta viu, desde cedo, o seu destino marcado pelas sequelas da Varíola, devido à qual cegou e o seu rosto ficou para sempre marcado por cicatrizes.
Supõe-se que tenha ingressado no Instituto de Cegos Branco Rodrigues, em S. João do Estoril por volta dos 10 anos, e aí fez a sua instrução.
Depois de terminar o 5º ano dos Liceus no referido Instituto João Joaquim de Deus foi transferido para o Asilo de Cegos Nossa Senhora da Esperança, em Castelo de Vide, onde adquiriu formação em Artes e Ofícios, nas Oficinas deste Centro Escolar.
Em Janeiro de 1932 João Joaquim de Jesus fundou no Funchal o Instituto de Cegos Luz nas Trevas, que não terá existido durante muitos anos por falta de orçamento.
Em 1954 volta para Lisboa para acompanhar a mãe doente, e por lá fica até à sua morte a 8 de Novembro de 1974, vítima de AVC.

Texto escrito a partir da nota biográfica da autoria de Dalila de Jesus Guerrinha, 
sobrinha de João Joaquim de Jesus

"João Joaquim de Jesus, detentor de uma profunda cultura literária, lia e falava esmeradamente o Francês e dominava o Esperanto (…) Dedicava-se, nos seus tempos livres, a traduzir pequenos livros e textos seleccionados para esperanto e encontrava no seu Irmão mais novo Carlos Isidoro de Jesus um excelente interlocutor. Abordava a Matemática com uma flexibilidade de pensamento, como se tivesse seguido carreira académica nessa área e dominava a Astronomia com tal destreza que surpreendia todos os amigos.

A sensibilidade que está patente na sua obra poética Frutos da Mocidade é o resultado de longos períodos de reflexão associados ao conhecimento de muitos autores e que se traduz numa densidade de sentimentos fortes que exprime com ritmo e musicalidade. Usando a terminologia de Camões foi, de facto, um poeta com engenho e arte, isto é, com forte inspiração e uma técnica da linguagem e do verso que sabe combinar maravilhosamente. Usa a cor e o som em paisagens sublimes, aliadas a uma musicalidade que embala, como no Poema Lili que dedica a sua afilhada. Também se adivinha a existência de uma personagem idealizada, um amor platónico que perpassa em vários poemas.”


Dalila de Jesus Guerrinha

Recordando a minha terra

(ao meu dilecto amigo António de Oliveira)

Ó nostalgia da serra,
Ó maravilhas sem par,
Paisagens da minha terra
Que nunca deixo de amar;
Ó aves, em coro lindo,
Que saudais o azul infindo;
Ó flores no campo abrindo,
Se vos soubesse cantar!...

Que ditoso que seria,
Se pudesse, ó meu torrão,
Oferecer-te a magia
De uma saudosa canção,
Feita de sonho e singela
Como os céus que nos revela
Um sorriso de donzela
Sob o afago da ilusão!

Quisera que mais tivesse
O enlevo de um pôr de sol,
A vibração de uma prece,
Os trilos do rouxinol;
O carpir da rola mansa,
Que nos empolga e não cansa;
A ternura da criança
- Lábios de vivo arrebol.

Chorosas com as trindades,
Misto de penas e dor,
Aceita as minhas saudades,
E manda-me o teu frescor
Pela brisa que vagueia
Ao clarão da lua cheia…
Sê bendita, minha aldeia,
Berço da paz e do amor!

O livro Frutos da Mocidade está disponível para empréstimo na Biblioteca Municipal de Arganil.

Leia, porque ler é um prazer!

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Dia dos Direitos Humanos


Mensagem de Irina Bokova, diretora-geral da UNESCO,
por ocasião do Dia dos Direitos Humanos,
10 de dezembro de 2013.

“Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade.” 
Este é o Artigo 1º da Declaração Universal dos Direitos Humanos, adotada pela Assembleia Geral das Nações Unidas, em 10 de dezembro de 1948.
Como primeiro instrumento universal que reconhece a dignidade inerente de cada membro da família humana, a Declaração incorpora séculos de pensamento – além de marcar o início de esforços globais concertados para tornar reais os direitos humanos em todas as circunstâncias. (…)

Em 2000, os Objetivos de Desenvolvimento do Milénio estabeleceram uma agenda humanista ambiciosa, que tem catalisado progressos significantes em vários países. No entanto, 2,7 bilhões de mulheres e homens ainda vivem com pouco mais de dois dólares por dia. Acesso à educação de qualidade ainda é um sonho para milhões de meninas e mulheres. Os estratos da sociedade em maior desvantagem continuam a ser vítimas de exclusão, abuso e violência. Ao mesmo tempo, o Estado de Direito permanece frágil em vários países, e a liberdade de opinião e de expressão enfrentam ameaças crescentes.

Para promover liberdade e igualdade em dignidade e direitos para todas as mulheres e homens, devemos fazer tudo para apoiar os países para que alcancem os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio até 2015. Precisamos cumprir as promessas feitas em 2000, enquanto estabelecemos uma nova e ambiciosa agenda de desenvolvimento sustentável para pós-2015, concentrada na eliminação da pobreza extrema em todo o mundo. A eliminação da pobreza é a base para a paz duradoura e o desenvolvimento sustentável – essa é uma lição-chave dos últimos 65 anos. (…)”

Leia mais sobre este tema em:

http://www.dn.pt/inicio/opiniao/interior.aspx?content_id=1731392&seccao=Paulo%20Pinto%20de%20Albuquerque&tag=Opini%E3o%20-%20Em%20Foco

http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/about-this-office/single-view/news/human_rights_day_a_celebration_of_equality_in_dignity_and_rights/#.Uqbby9JdWHg

http://www.ohchr.org/EN/ABOUTUS/Pages/HumanRightsDay.aspx

http://www.un.org/en/events/humanrightsday/

http://www.amnistia-internacional.pt/files/documentacao/DH_Aqui_e_Agora.pdf

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Sugestão de leitura: praia nova de Matilde Rosa Araújo


Em Praia nova, Matilde Rosa Araújo reuniu 15 narrativas breves, a captar com sobriedade extrema e sensibilidade á flor do narrado momentos de vida de diversas vidas, perspectivas do painel humano que vão perpassando à vista de todos mas que poucos vêem – ou poucas vezes vêem. Nessa galeria em que afloram amarguras recônditas, veladas dores da solidão e do abandono, intensa na contida simpatia humana pelos que sofrem em silêncio, evocações e alusões dramáticas, põe Matilde Rosa Araújo o que melhor define os seus dons de ficcionista não só em textos para crianças como para adultos: o lirismo intrínseco e a simplicidade da linguagem, na transposição literária do individual para o geral. (…)

Álvaro Salema

Leia, porque ler é um prazer!

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Livro do mês: A janela do cardeal de Luís Miguel Novais

A janela do cardeal de Luís Miguel Novais
Lisboa: Planeta, 2010

"Dois homens, dois poderes, dois documentos. 
Os homens são primos. Um deles é rei de Portugal, Dom João III; o outro é bispo de Viseu, Dom Miguel da Silva. O bispo ambiciona ser Papa, o rei não aceita sequer vê-lo nomeado cardeal; quer prendê-lo na Torre de Belém. Neste xadrez, avança o bispo: foge de Portugal. Mesmo contra a vontade do rei, o Papa nomeia-o cardeal. 
O rei rompe relações diplomáticas com a Santa Sé. Faz mais: acusa o cardeal de roubar segredos de Estado, desnaturaliza-o e confisca-lhe os bens por Decreto. Documento número um: a acusação, publicada em Lisboa e Roma em 23 de Janeiro de 1542. 
O cardeal quer ser Papa. Afirma que não roubou segredos nenhuns. Que não merece tão duras penas. Escreveu isso mesmo ao Papa. Documento número dois: a autodefesa do cardeal, mantida até hoje nos arquivos secretos do Vaticano.
Chegou a altura de revermos este episódio obscuro da História de Portugal. Nunc pro tunc, façamos uma revisão do julgamento; levantemos os documentos, ouçamos os argumentos. Quem foi este cardeal português riscado dos livros de Portugal? O que moveu o rei? O que sucedeu entre eles? 
Acende-se um foco de luz sobre a personalidade que tem ficado na sombra: o cardeal Dom Miguel da Silva e Menezes, cardeal dos XII Apóstolos, também conhecido por cardeal Viseu. 
Desdobra-se um mapa assinalando os lugares por onde viajou. 
Abre-se uma janela no tempo. 
Tem a palavra o cardeal.”

Eis a introdução para o Romance Histórico “A janela do cardeal”, primeiro romance da autoria de Luís Miguel Novais.
Baseada em factos reais a história deste livro, centrada na vida de D. Miguel da Silva, um personagem pouco conhecido da história de Portugal, transporta-nos até ao século XVI na Europa, revelando uma história de intrigas e jogos de poder, onde a cor do ouro domina o coração dos homens.

Leia, porque ler é um prazer!