JOÃO JOAQUIM DE JESUS nasceu no Funchal a 3 de Outubro de 1904. Filho mais velho de uma família modesta viu, desde cedo, o seu destino marcado pelas sequelas da Varíola, devido à qual cegou e o seu rosto ficou para sempre marcado por cicatrizes.
Supõe-se que tenha ingressado no Instituto de Cegos Branco Rodrigues, em S. João do Estoril por volta dos 10 anos, e aí fez a sua instrução.
Depois de terminar o 5º ano dos Liceus no referido Instituto João Joaquim de Deus foi transferido para o Asilo de Cegos Nossa Senhora da Esperança, em Castelo de Vide, onde adquiriu formação em Artes e Ofícios, nas Oficinas deste Centro Escolar.
Em Janeiro de 1932 João Joaquim de Jesus fundou no Funchal o Instituto de Cegos Luz nas Trevas, que não terá existido durante muitos anos por falta de orçamento.
Em 1954 volta para Lisboa para acompanhar a mãe doente, e por lá fica até à sua morte a 8 de Novembro de 1974, vítima de AVC.
Texto escrito a partir da nota biográfica da autoria de Dalila de Jesus Guerrinha,
sobrinha de João Joaquim de Jesus
"João Joaquim de Jesus, detentor de uma profunda cultura literária, lia e falava esmeradamente o Francês e dominava o Esperanto (…) Dedicava-se, nos seus tempos livres, a traduzir pequenos livros e textos seleccionados para esperanto e encontrava no seu Irmão mais novo Carlos Isidoro de Jesus um excelente interlocutor. Abordava a Matemática com uma flexibilidade de pensamento, como se tivesse seguido carreira académica nessa área e dominava a Astronomia com tal destreza que surpreendia todos os amigos.
A sensibilidade que está patente na sua obra poética Frutos da Mocidade é o resultado de longos períodos de reflexão associados ao conhecimento de muitos autores e que se traduz numa densidade de sentimentos fortes que exprime com ritmo e musicalidade. Usando a terminologia de Camões foi, de facto, um poeta com engenho e arte, isto é, com forte inspiração e uma técnica da linguagem e do verso que sabe combinar maravilhosamente. Usa a cor e o som em paisagens sublimes, aliadas a uma musicalidade que embala, como no Poema Lili que dedica a sua afilhada. Também se adivinha a existência de uma personagem idealizada, um amor platónico que perpassa em vários poemas.”
Dalila de Jesus Guerrinha
Recordando a minha terra
(ao meu dilecto amigo António de Oliveira)
Ó nostalgia da serra,
Ó maravilhas sem par,
Paisagens da minha terra
Que nunca deixo de amar;
Ó aves, em coro lindo,
Que saudais o azul infindo;
Ó flores no campo abrindo,
Se vos soubesse cantar!...
Que ditoso que seria,
Se pudesse, ó meu torrão,
Oferecer-te a magia
De uma saudosa canção,
Feita de sonho e singela
Como os céus que nos revela
Um sorriso de donzela
Sob o afago da ilusão!
Quisera que mais tivesse
O enlevo de um pôr de sol,
A vibração de uma prece,
Os trilos do rouxinol;
O carpir da rola mansa,
Que nos empolga e não cansa;
A ternura da criança
- Lábios de vivo arrebol.
Chorosas com as trindades,
Misto de penas e dor,
Aceita as minhas saudades,
E manda-me o teu frescor
Pela brisa que vagueia
Ao clarão da lua cheia…
Sê bendita, minha aldeia,
Berço da paz e do amor!
O livro
Frutos da Mocidade está disponível para empréstimo na Biblioteca Municipal de Arganil.
Leia, porque ler é um prazer!