quinta-feira, 28 de abril de 2011

RCAAP – Repositório científico de acesso aberto de Portugal



“O acesso à informação e ao conhecimento é essencial para o progresso do ensino e da investigação mas também para o desenvolvimento sustentável da sociedade. Por isso, as condições de acesso à informação científica necessitam de ser significativamente melhoradas. A tendência generalizada para a publicação digital dos resultados da investigação, observada nas últimas décadas, representa uma mudança fundamental em relação à era da "idade do papel" e possibilita grandes mudanças na sua divulgação.

Tem sido amplamente reconhecido que o sistema de assinatura de revistas científicas, que predominou nas últimas décadas, cria limites à divulgação dos resultados da investigação e levanta, no que diz respeito à investigação financiada por fundos públicos, questões relativas à boa utilização e impacto desse financiamento. (…)

O Acesso Aberto procura responder a estes problemas tornando acessíveis os resultados da investigação de forma gratuita e online, através de repositórios institucionais, revistas de acesso aberto e sítios web. (…)” (1)

Em Portugal a Universidade do Minho, com a constituição do seu repositório institucional, foi pioneira no que ao Acesso aberto diz respeito. Seguiu-se o projecto Scielo (Scientific Electronic Library Online) e em Julho de 2008 nasceu o Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal, uma iniciativa da UMIC - Agência para a Sociedade do Conhecimento, IP concretizada pela FCCN - Fundação para a Computação Científica Nacional, e que tem por missão promover, apoiar e facilitar a adopção do acesso aberto ao conhecimento científico em Portugal e agrega os conteúdos científicos em acesso aberto de vários repositórios institucionais das entidades nacionais de ensino superior, e outras organizações de Informação e Documentação.

O repositório agrega de momento um total de 229329 documentos de 33 instituições nacionais.

Um recurso que sem dúvida constitui uma mais valia para o acesso à informação científica produzida em Portugal.




(1) Excerto do texto de enquadramento do projecto RCAAP, disponível em http://projecto.rcaap.pt/index.php/lang-pt/sobre-o-rcaap/enquadramento

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Em silêncio, amor

SOARES, Luís - Em silêncio, amor. 1ª ed. Cruz Quebrada : Oficina do Livro, 2007. 219, [1] p.. ISBN 978-989-555-316-7

Em silêncio, amor é um romance da autoria de Luís Soares, nascido em Lisboa na década de 70 e autor de Aquariofilia (2003) e Os adultos (2005).

Escrito numa linguagem que em certas passagens toca a prosa poética, o livro relata-nos a história de um homem cuja esposa foi vítima mortal de um acidente.

Tom, escritor e Elisa, pianista, viviam até ali uma vida harmoniosa, porém de um dia para outro tudo desmoronou.

Após a morte da mulher, Tom, refugia-se em casa durante meses a fio quase se esquecendo de viver, preso ao passado.

Mais tarde, Tom começa a ter alucinações. O fantasma da sua mulher Elisa, junto com a música do piano tornam-se presentes no seu dia-a-dia e lentamente o fazem despertar da letargia a que se entregou, devolvendo-lhe a curiosidade pelo mundo que o rodeia. Recupera mesmo o hábito de escrever e inicia uma viagem que o faz perder-se entre a imaginação e a memória.

Ao longo do livro cruzam-se as recordações, as fantasias e a realidade presente. A personagem central da obra é em simultâneo narrador e no final do livro assume-se como investigador da existência. E é esta que constitui o tema central da história.

“Quando saí, no fim de Janeiro, convenci Hortense de que o episódio não se repetiria, que o luto tinha passado e estava perfeitamente capaz de tomar conta de mim. Disse-lhe mesmo que me apetecia escrever. Recusei a oferta de um telemóvel, argumentando com salutar veemência que me incomodaria para além do admissível.
Tudo mentiras, para que me deixasse só.
Sacudi a embalagem dos comprimidos em frente ao seu ar de dúvida, com um esforço de sorriso, passei a comprar comida com mais regularidade, alimentava-me pelo menos uma vez por dia, fazia a barba uma ou duas vezes por semana, tomava banho, cortava o cabelo com uma tesoura grande de cozinha. Quando a Primavera começou, Hortense acreditava que não me ia deixar morrer.
Não voltei ao nosso quarto nem à sala do piano. Estou certo de que esqueci algumas outras divisões da casa onde a necessidade não me levou. Tão-pouco conseguia sequer aproximar uma caneta de uma folha em branco. Pensar nisso agoniava-me. Sobrevivia entre a cozinha, a casa de banho e a sala da escrita.”



Pode requisitar este livro na Biblioteca Municipal de Arganil.



Leia, porque ler é um prazer!

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Chuvada

CHUVADA

Nascida da nuvem,
É filha do vento,
Sobrinha do tempo,
Neta da estação…
Tomba no telhado
Deita no beiral
Escorrega, perfura,
Amor verdadeiro
Fiel e primeiro
Princípio de tudo
O que o mundo tem.
Descansa no chão
Semente da vida
Levanta, levanta,
Esvoaça leve
…e volta a ser mãe!

Eulália Gameiro (Outubro/1995)

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Dia Mundial do Livro e Voluntários da Leitura

Aproveitando a comemoração do Dia Mundial do Livro e do Ano Europeu do Voluntariado, a Direcção Geral do Livro e das Bibliotecas está a promover o passatempo “Voluntários da Leitura”, que tem como objectivo incentivar o voluntariado a nível de projectos de promoção da leitura concebidos para populações em situação de isolamento ou de exclusão social.

A ideia inerente ao projecto é motivar os cidadãos para o voluntariado, associando este acto de solidariedade com a importância que a leitura pode ter na melhoria da qualidade de vida das pessoas.

Podem concorrer a este passatempo pessoas individuais ou entidades colectivas, e os projectos a concurso deverão ser apresentados na Biblioteca Municipal até 31 de Agosto de 2011.

Para saber mais sobre este assunto consulte o site da DGLB.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

RepositoriUM

O RepositoriUM da universidade do Minho foi criado em 2003 e tem como objectivo armazenar, preservar, dar acesso e divulgar a produção intelectual desta Instituição de Ensino em formato digital e em regime de acesso livre.

O RepositoriUM pretende reunir num único sítio o conjunto das publicações científicas e académicas da UM, contribuindo desse modo para o aumento da sua visibilidade e impacto e garantindo a preservação da memória da Universidade.

A pesquisa no RepositoriUM é bastante acessível. É possível simplesmente percorrer as listagens de assuntos, títulos, autores, etc., ou pode recorrer-se a uma pesquisa mais precisa, pesquisando por título, autor. É também possível pesquisar numa unidade orgânica específica da Universidade. Este é sem dúvida um sítio riquíssimo, que vale a pena visitar e consultar.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

O maravilhoso mundo dos livros

“Adorava, por exemplo, ler. Começara por soletrar títulos nos jornais, ainda antes de entrar para a escola. Quando chegou à segunda classe, já abria todos os livros, cheirava de olhos fechados o papel, juntava todas as letras, decifrava todas as palavras. Aninhava-se nas histórias e nas suas personagens, adormecia a sonhar com elas e acordava a brincar nos mesmos lugares por onde tinha deambulado no dia anterior, algures dentro da sua cabeça. (…) Nos livros mais infantis, passava o dedo pequeno pelos contornos das letras e tentava ignorar os bonecos, para que não influenciassem as imagens que desenhava na sua imaginação. Preferia os livros só com letras. Fiadas de letras, alinhadas nas páginas, arrumadas e obedientes. E delas brotavam pessoas, mundos, séculos de histórias, uma copiosidade de lágrimas e sorrisos sem tino, uma desordem de vida vinda daqueles exércitos tipográficos. (…) Alice nunca pedia doces ou guloseimas aos pais, ao contrário do que já tinham aprendido a fazer os seus irmãos. Nos aniversários e no Natal, nunca os perseguia com pedidos de bonecas e brinquedos, apenas livros. E quando alguém lhe oferecia um, abria-o de imediato, encostava o nariz às folhas e inspirava profundamente, com uma sensualidade inadequada aos seus poucos anos de vida. Mas nada a fazer, adorava o aroma do papel, da tinta e logo aí decidia ao que cheirava a história.”

Excerto de:

Soares, Luís. - Em silêncio, amor. Cruz Quebrada: Oficina do Livro, 2007*


* Disponível para empréstimo na Biblioteca Municipal Miguel Torga

quarta-feira, 6 de abril de 2011

O vísivel e o invísivel de Lucia Etxebarria

ETXEBARRIA, Lucía - O visível e o invisível : sobre o amor e outras mentiras. 1ª ed. Lisboa : Editorial Noticias, 2002. 591 p.. ISBN 972-46-1316-X

Subindo, subindo, subindo... Ruth acaba de despertar num hospital após uma segunda tentativa de suicídio. Assim começa "O visível e o invisível", romance da autoria de Lucía Etxebarría, publicado em 2001 e vencedor do Prémio Primavera do Romance (Espanha), no mesmo ano.

Para compreender o que levou Ruth a tentar de forma tão drástica pôr termo à sua vida a autora recorre ao “flashback”, levando nos de volta à infância e adolescência da personagem. Siles Swanson Ruth acaba de completar 33 anos. Filha de uma família rica, deve à sua mãe, que faleceu quando Ruth tinha apenas 4 anos, os impressionantes olhos verdes e cabelos ruivos. Ruth viveu a infância e a adolescência com a indiferença e falta de amor do pai e da irmã. Viveu vários anos em Londres, e quando regressou a Madrid conheceu Pedro, que se tornou o seu melhor amigo e com ele filmou uma curta-metragem que os levou a uma fama inesperada e indesejada.

Outro protagonista deste romance é Juan, um desencantado aspirante a escritor, com quem Ruth se envolve num relacionamento amoroso.

O resto do romance centra-se no envolvimento de ambos e na luta de Ruth para conhecer-se a si mesma e conciliar as suas diversas facetas: a sua insegurança, a sua timidez, a sua força e auto-suficiência aparentes.

Este é um romance que tem como temática principal as relações humanas e a busca desesperada pela individualidade numa sociedade cada vez mais exigente.

Um romance de fácil leitura, que dificilmente se esquece e ao qual é impossível ficar indiferente.

Este livro está disponível para empréstimo na Biblioteca Municipal de Arganil. Da mesma autora poderá também requisitar: Beatriz e os corpos celestes; Nós, que somos diferentes das outras; Amor, curiosidade, prozac e dúvidas


Leia, porque ler é um prazer!

sábado, 2 de abril de 2011

Dia Internacional do Livro Infantil


Mensagem do 2 de Abril de 2011

O livro recorda

Aino Pervik

“Quando Arno e o seu pai chegaram à escola, as aulas já tinham começado.”

No meu país, a Estónia, quase toda a gente conhece esta frase de cor. É a primeira linha de um livro intitulado Primavera. Publicado em 1912, é da autoria do escritor estónio Oskar Luts (1887-1953).

Primavera narra a vida de crianças que frequentavam uma escola rural na Estónia, em finais do século XIX. O Autor escrevia sobre a sua própria infância e Arno, na verdade, era o próprio Oskar Luts na sua meninice.

Os investigadores estudam documentos antigos e, com base neles, escrevem livros de História. Os livros de História relatam eventos que aconteceram, mas é claro que esses livros nunca contam como eram de facto as vidas das pessoas comuns em certa época.

Os livros de histórias, por seu lado, recordam coisas que não é possível encontrar nos velhos documentos. Podem contar-nos, por exemplo, o que é que um rapaz como Arno pensava quando foi para a escola há cem anos, ou quais os sonhos das crianças dessa época, que medos tinham e o que as fazia felizes. O livro também recorda os pais dessas crianças, como queriam ser e que futuro desejavam para os seus filhos.

Claro que hoje podemos escrever livros sobre os velhos tempos, e esses livros são, muitas vezes, apaixonantes. Mas um escritor actual não pode realmente conhecer os sabores e os cheiros, os medos e as alegrias de um passado distante. O escritor de hoje já sabe o que aconteceu depois e o que o futuro reservava à gente de então.

O livro recorda o tempo em que foi escrito.

A partir dos livros de Charles Dickens, ficamos a saber como era realmente a vida de um rapazinho nas ruas de Londres, em meados do século XIX, no tempo de Oliver Twist. Através dos olhos de David Copperfield (coincidentes com o olhar de Dickens nessa época), vemos todo o tipo de personagens que ao tempo viviam na Inglaterra — que relações tinham, e como os seus pensamentos e sentimentos influenciaram tais relações. Porque David Copperfield era de facto, em muitos aspectos, o próprio Charles Dickens; Dickens não precisava de inventar nada, ele pura e simplesmente conhecia aquilo que contava.

São os livros que nos permitem saber o que realmente sentiam Tom Sawyer, Huckleberry Finn e o seu amigo Jim nas viagens pelo Mississippi em finais do século XIX, quando Mark Twain escreveu as suas aventuras. Ele conhecia profundamente o que as pessoas do seu tempo pensavam sobre as demais, porque ele próprio vivia entre elas. Era uma delas.

Nas obras literárias, os relatos mais verosímeis sobre gente do passado são os que foram escritos à época em que essa mesma gente vivia.

O livro recorda.

Tradução: José António Gomes

Nascida em 1932, na Estónia, Aino Pervik publicou cerca de meia centena de livros para crianças, a par de poesia e narrativas para adultos. Distinguida com vários e prestigiosos prémios e traduzida em diversas línguas, obras suas têm sido adaptadas ao teatro e ao cinema. A velha mãe Kunks, Arabella, A filha do pirata, Paula aprende a sua língua (integrado numa série protagonizada pela mesma personagem), são apenas três dos seus títulos mais conhecidos.

A Mensagem do Dia Internacional do Livro Infantil é uma iniciativa do IBBY (International Board on Books for Young People), difundida em Portugal pela APPLIJ (Associação Portuguesa para a Promoção do Livro Infantil e Juvenil), Secção Portuguesa do IBBY.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Livro do mês: O rapaz que amava Anne Frank

FELDMAN, Ellen - O rapaz que amava Anne Frank. 1ª ed. Cascais : Flamingo, 2006. 246, [2] p. ISBN 989-6130-51-5

Quase toda a gente reconhece o nome Anne Frank. Este nome é sinónimo de honestidade, inteligência e bravura. O seu diário tocou milhões de pessoas.

Peter van Pels foi um menino que esteve escondido no anexo com Anne Frank e a sua família. A 16 de Fevereiro de 1944, Anne escreve no seu diário: “Ele “Peter” disse que depois da guerra tudo faria para que ninguém soubesse que era judeu.”

No seu romance “O rapaz que amava Anne Frank”, Ellen Feldman imagina um homem, neste caso Peter, que com a simples visão do livro “O diário de Anne Frank” sofre uma ruptura mental.

Sete anos passados sobre o fim da Guerra, Peter emigra para Nova Iorque, a terra da auto-criação, tem sucesso nos negócios, casa e constitui família. Vive no presente, planeia o futuro e tenta a todo o custo esquecer e ocultar o seu passado, até que vê na capa de um livro que a sua mulher está a ler o rosto inconfundível de Anne Frank e vê o passado a submergir do lugar mais recôndito da sua memória, vendo-se assim forçado a confrontar o seus fantasmas e medos numa profunda luta interior.

Este é um romance sobre a memória da morte, a morte da memória, e a inevitabilidade do passado. O rapaz que amava Anne Frank é um romance complexo e sombrio sobre o impacto da guerra sobre o espírito humano. Um romance de lembrar e esquecer, profundamente comovente.

Excerto:

“Foi então que o vi. Pousado no topo de uma estante baixa colocada atrás da secretária dele. Não consigo perceber como não reparei nele antes, mas a verdade é que tão-pouco compreendo como pude apagá-lo da memória na noite em que Madeleine pegou num dos livros que tinha sobre a mesa-de-cabeceira e eu perdi a voz. Era o mesmo livro. Tinha a certeza que era, embora não conseguisse entender como é que ele podia existir. A sobrecapa era cor de ferrugem, cor de sangue seco. A fotografia dela ocupava metade da capa. Os olhos enormes estavam pousados em mim. Eram acusadoramente negros. A boca carnuda fixara-se num trejeito. De que tipo? Crítico. O rosto era pequeno, os ombros estreitos e inacreditavelmente frágeis. Tinha-me esquecido de que ela era uma criança. Nunca havia de ser outra coisa. Como era possível? Ela tinha morrido. Tinham morrido todos, todos menos Otto. Ficara a sabê-lo a partir das listas da Cruz Vermelha. Eu era o único sobre o qual não havia registos.” (p. 81-82)