sexta-feira, 23 de setembro de 2011

O Outono começou...


Outono transfigurado

Poderoso assim acaba o ano
Com vinho de ouro e fruta do pomar.
Calam-se em volta os bosques por encanto
E vêm o solitário acompanhar.

E diz então o lavrador: É bom.
É vós sinos da tarde largos mansos,
Dais alegria a este fim com vosso som,
Saúdam viajantes das aves os bandos.

É o tempo suave dos amores.
No barco pelo rio azul abaixo
Quão bela imagem a imagem vem juntar-se –
E tudo vai cair em paz e silêncio – em baixo.

Georg Trakl in Poemas
Porto: O Oiro do Dia, imp. 1981

Nota biográfica:

Poeta austríaco, nascido em 1887 e falecido em 1914, forçado a sacrificar a sua vocação de artista por necessidade, acabou por exercer a profissão de farmacêutico. Solitário espiritualmente, foi marcado pela experiência de combate durante a Primeira Guerra Mundial, ficando perturbado a nível psíquico. Publicou uma colectânea de poesia em 1913 e uma obra em prosa, Sebastian im Traum (O Sonho de Sebastião), em 1914. Porém, só mais tarde foi reconhecido como um dos grandes líricos modernos alemães.

Fonte: Georg Trakl. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2011.
[Consult. 2011-09-23].
Disponível em: http://www.infopedia.pt/$georg-trakl

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Centenário do nascimento: Manuel da Fonseca e Alves Redol

Assinala-se este ano o centenário de dois escritores portugueses, nomes maiores do neo-realismo português e figuras de destaque na literatura e cultura portuguesas: Manuel da Fonseca (15/10/1911 – 11/03/1993) e Alves Redol (29/12/1911 – 29/11/1969).

Manuel da Fonseca destacou-se como romancista, poeta e cronista, e Alves Redol como romancista e dramaturgo. Alves Redol estreou-se com o romance Gaibéus, considerado o iniciador do movimento neo-realista em Portugal. E os livros de poesia Rosa dos Ventos (1940) e Planície (1941) da autoria de Manuel da Fonseca são considerados os primeiros passos da poesia neo-realista.

Para além de terem em comum o neo-realismo, ambos iniciaram muito cedo a sua actividade literária como colaboradores de jornais e revistas e seguiram a mesma orientação política, aderindo ao Partido Comunista Português como forma de oposição ao regime fascista.

Pela sua dimensão, são sem dúvidas dois escritores a descobrir.

Consulte aqui a bibliografia disponível na Biblioteca Municipal de Arganil ou descubra mais sobre estes autores na Internet. No Jornal de Letras nº 1066 de 10 de Agosto pode ler um conjunto de textos sobre estes dois escritores e o neo-realismo, e as suas várias afinidades e diferenças.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

O papel das bibliotecas públicas

Na Notícia BAD on-line: jornal dos profissionais de informação, podem ler-se dois artigos da autoria de Sérgio Mangas, responsável pela Biblioteca Municipal de Figueiró dos Vinhos, sobre o actual papel das Bibliotecas Públicas. Trata-se de artigos de opinião, mas que são um excelente contributo para a reflexão sobre as funções e serviços que estas bibliotecas desempenham ou deveriam desempenhar.
2 textos, cuja leitura recomendamos.

- Para que serve uma biblioteca municipal.

- O papel político da biblioteca pública

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Setembro chegou! (V)

Abrigam-se os lagartos
em frestas
de segredos

no escuro das adegas
rescende
o vinho novo

retomam as ribeiras
um destino
sem escolhas.

A «teia» nos teares
abraça-se nos linhos

enfeita o corpo a terra
com um sendal de folhas

Soledade Martinho Costa in Festas e tradições portuguesas: Setembro e Outubro
[Lisboa]: círculo de Leitores, imp. 2003

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Setembro chegou! (IV)

PEQUENA ELEGIA DE SETEMBRO

Não sei como vieste,
mas deve haver um caminho
para regressar da morte.
Estás sentada no jardim,
as mãos no regaço cheias de doçura,
os olhos pousados nas últimas rosas
dos grandes e calmos dias de setembro.
Que música escutas tão atentamente
que não dás por mim?
Que bosque, ou rio, ou mar?
Ou é dentro de ti
que tudo canta ainda?
Queria falar contigo,
dizer-te apenas que estou aqui,
mas tenho medo,
medo que toda a música cesse
e tu não possas mais olhar as rosas.
Medo de quebrar o fio
com que teces os dias sem memória.
Com que palavras
ou beijos ou lágrimas
se acordam os mortos sem os ferir,
sem os trazer a esta espuma negra
onde corpos e corpos se repetem,
parcimoniosamente, no meio de sombras?
Deixa-te estar assim,
ó cheia de doçura,
sentada, olhando as rosas,
e tão alheia
que nem dás por mim.

Eugénio de Andrade

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Setembro chegou! (III)

MANHÃS DE SETEMBRO

Manhãs de Setembro,
aragem fresca
construindo sonhos,
teias de gotas
enfeitando os matos,
perfume verde
a seguir meus passos,
lírios roxos
ponteando as margens
do fio de água
que escorre manso.
E tu E eu!
E a erva tombada
pelos corpos,
os lírios violados
na paixão.
E o céu!
Esse céu azul
sem limite.
O nosso limite.
A nossa eternidade!

De Helena Guimarães
In: Manhãs de Setembro
(retirado de: http://www.helenaguimaraes.interdinamica.pt/central/hg/x12y.htm)

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Setembro chegou! (II)


SETEMBRO

É de Setembro a fria madrugada
Em que o teu corpo habita. É cinzenta
A crispar-se, de nervosa, a ante-alvorada
Em que te moves, ave friorenta.

É de Setembro a ânsia de raízes
De teus dedos buscando um rio escuro.
Em Setembro, secos os matizes
Da paisagem, só resta anseio puro.

É de Setembro, terra seca e cores claras
- o amarelo que receia os verdes
Explodidos nos longes das anharas –
É o espírito-brisa em que te perdes.

É de Setembro o olhar onde lucilam
Com as estrelas, pontas de fogueiras.
E a abóboda azul onde desfilam
As, do teu sonho, aves prisioneiras.

M. António in Obra poética
Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1999

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Livro do mês: O guardião de livros de Cristina Norton

Da autoria de Cristina Norton “O guardião de livros” é um romance que narra a história da chegada da família real portuguesa e da sua biblioteca, ao Brasil. Escrito numa linguagem rica e eloquente, recorrendo a um estilo expressivo e inovador e à alternância constante do sujeito narrador, este é um livro que sem dúvida vale a pena ler.

“Uma escrava muda conta um segredo guardado durante 200 anos; um escravo apaixona-se por quem não deve; uma carioca leva um português a descobrir as delícias do sexo; um cientista judeu a quem são confiados dois livros raros naufraga nas ilhas Malvinas. Estas são algumas das personagens deste romance, que nos narra a vida de Luís Joaquim dos Santos Marrocos, um bibliotecário hipocondríaco que, em 1811, atravessa o Atlântico rumo ao Brasil acompanhado por 76 caixotes cujo conteúdo era verdadeiramente precioso: no seu interior seguia a Real Biblioteca do Palácio de Ajuda, inicialmente esquecida no cais de Belém aquando da saída apressada da Corte portuguesa para o Brasil em 1808. A chegada ao Rio de Janeiro não foi fácil para Marrocos ao deparar-se com uma cidade onde nada o seduzia, - nem a comida, nem os cheiros, nem o calor - e com uma corte endividada, amante de cerimónias grandiosas e grosseira nos seus costumes diários. Mas tudo mudou quando conheceu Ana de Souza Murça. A autora descreve-nos uma vida rica em acontecimentos inesperados, onde a ironia se mistura com momentos comoventes.”

Fonte: Contracapa do livro

Excerto:

“Á medida que a fragata se aproximava do Rio de Janeiro, Luís que tinha imaginado desembarcar numa praia no meio da selva, ficou surpreendido com as rochas colossais que emergiam do mar, escuras e lisas, como se os ventos as tivessem polido para enfeitar a baía. No topo, distinguia alguma vegetação que lhes dava um aspecto menos fantasmagórico. Uma delas embelezava a entrada do porto e parecia ter sido esculpida por mãos gigantes, disseram-lhe que lhe chamavam Pão de Açúcar pela altura e a forma arredondada. Ao descer o olhar, descobriu praia de areia clara e pequenas enseadas, lagoas entre colinas com florestas de árvores desconhecidas para ele, e se não tivesse a certeza de estar sem febre, podia pensar que era uma alucinação. O conjunto tinha o aspecto de uma tela enorme pintada com cores que nunca vira, colocada com a ajuda de Deus para o aliviar de todas as aflições passadas durante a viagem.”

Nota biográfica sobre a autora:

Cristina Kace Norton, nasceu em 1948 em Buenos Aires, Argentina. Reside em Portugal há mais de 30 anos e optou pela nacionalidade portuguesa. É escritora e para além de ter publicado diversos livros, tem colaborado com várias revistas e jornais literários. Desde 1998 que ministra formação na área da escrita criativa.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Setembro chegou! (I)


SETEMBRO

agora o outono chega, nos seus plácidos
meneios pelas vinhas, um dos vizinhos passa
um cabaz de maçãs por sobre a vedação:
redondas, verdes, o seu perfume vai
dentro de quinze dias ser mais forte.

a noite cai mais cedo e apetece
guardar certos vermelhos da folhagem
e amarelos e castanhos nas ladeiras
de setembro. a rádio fala no tempo variável
que vem aí dentro de dias. talvez caia

uma chuvinha benfazeja, a pôr no ponto certo
os bagos de uva. e há poalhas morosas, mais douradas.
aproveita-se o outono no macio
enchimento dos frutos para colhê-lo a tempo.
devagar, devagar. é mais doce no outono a tua pele.

Vasco Graça Moura,
in "Poesia 2001/2005", Quetzal Editores, 2006