quinta-feira, 23 de dezembro de 2021

Natal da minha infância/ Contrastes

As famílias reuniam-se à volta da farrusca e tosca lateira ou da incandescente braseira de lata ou de cobre, apoiada no estrado de madeira, lavado com sabão amarelo. Bebiam chá, comiam as “filhoses”, os sonhos, as rabanadas, as broinhas e tagarelavam noite dentro.

O coração saltitava no peito dos pequenos, “bêbedos de sono”, espremendo teimosamente as pestanas, cada vez mais pesadas…

Dormiam em sobressalto, estrebuchando de pesadelos, na ânsia de ver um MENINO JESUS, descalço, pezinhos rechonchudos, descer pela chaminé a gemer de cal branca ou forrada de jornais. Pela calada da noite, pé ante pé, evitando qualquer ruído, vinha pôr o presente em cada meia ou num roto sapatinho, reluzente de graxa.

Os olhitos brilhavam como pirilampos, ao acordar durante a noite, pelo ténue rumor do papel que os Divinos pés roçavam de mansinho.

Na manhã seguinte, trocavam, euforicamente, informações com as outras crianças da rua, algumas descalças, pés enregelados, monco no nariz, olhos remelados.

O Menino tinha deixado um pacotinho de papel pardo com um coscorel, dois rebuçados, um torrão de açúcar, sonhos de abóbora e, nas pequeninas mentes, sonhos, sonhos, sonhos até às estrelas celestes…

Neste momento, o pensamento dos sobreviventes voa para o Céu… tentando, com saudade, descobrir a Lurdes e a Eulália, as mais entusiastas.

Em casas mais abastadas, reunida à mesa da consoada uma família de mais de 30 pessoas, onde o peru era rei e a alegria e a amizade não tinham limites, reluziam uma máquina de costura, um fogão ou um minúsculo regador de lata, as panelinhas de alumínio “topo de gama”, um automóvel, um baralho de cartas, uma gaita ou um assobio de barro, retirados do grande saco que aparecia inexplicavelmente junto da lareira, enquanto consoávamos.

Corridas loucas por toda a casa à descoberta do Menino Jesus! Em vão…

- Para o ano não vamos estar distraídos. Havemos de apanhá-lo!

Brinquedos partilhados em jogos inocentes com vizinhos ou amigos.

Onde estará reunida esta enorme família? Que vazio deixou no coração das, apenas… três sobreviventes?!!!...

O Presépio, de musgo verde viçoso, carumas e pinhas da Mata ou da Quinta da D. Guilhermina, era feito ao cimo da Quelha sem saída. As figuras eram do barro da Cerâmica, modeladas toscamente com cabelos de feno ou de ervinhas, feitas com tanto entusiasmo e primor que boca, olhos, cabelos e mãos dos artistas eram tudo barro como o burro, a vaca ou os Reis Magos!

Só o menino, emprestado por algum crente adulto, tinha a perfeição das vistosas imagens compradas nas barracas da feira do Mont’Alto. Ele era, afinal, o Divino aniversariante. Fazia quase 2000 anos, mas nascia todos os anos, na noite de Natal, ao cimo da nossa Quelha sem saída, no Cimo de Vila.

Para o aquecer, em substituição do cepo, acendia-se uma pequena fogueira e as brasas eram levadas para as braseiras ou escalfetas das casas mais frias.

O Pai Natal era desconhecido no nosso tempo. Não ousava sair de casa, sentado ao borralho, lá no Pólo Norte. Por acaso já estive na casa dele. Disse-me que carregava tantos brinquedos, para ajudar o Menino Jesus, aborrecido com tanto peso material, desnecessário.

Outrora, o AMOR era o manto azul luminoso que agasalhava cada lar com a centelha de LUZ, trazida da Missa do Galo.

O Pai Natal dava razão ao “Principezinho” de Saint-Exupéry:

“Só com o coração é que conseguimos ver claramente. O essencial é invisível aos olhos!”

Que neste Natal, o Presépio vivo, viva em cada coração!

M. Olívia Nogueira
Arganil, Dezembro 2021

quarta-feira, 22 de dezembro de 2021

Novidade na Biblioteca: "Correios" de Charles Bukowski

Correios, o primeiro romance de Bukowski, é baseado na sua experiência como empregado dos Serviços Postais dos Estados Unidos ao longo de uma década, e foi publicado num momento em que o seu nome ascendia ao plano do reconhecimento literário universal.Ponto de partida ideal para qualquer leitor que se queira iniciar na prolífica obra de Bukowski, encontramos em Correios as qualidades dos seus restantes trabalhos. Repleto de cenas hilariantes, este romance é também um retrato fiel das frustrações de um funcionário público sofredor.

As suas personagens, entre a ficção e a realidade, captam a essência e a universalidade do ser humano e nós, leitores, continuaremos a topar, em Bukowski, com bebedeiras, mulheres, zaragatas, eventuais rebates de consciência, enfim, com os trambolhões da vida.

Fonte: contracapa do livro

Livro disponível para empréstimo na Rede de Bibliotecas do Concelho de Arganil.

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terça-feira, 21 de dezembro de 2021

Natal 2021 - Um presépio de verdade

 

Texto de Maria Leonarda Tavares dedicado aos "Amigos de ler"

“Amigos de Ler” é um clube de leitores livres e apaixonados pelas suas leituras. Reunimos-nos na segunda segunda-feira do mês, às 21:00 horas, na Biblioteca Municipal de Arganil | Miguel Torga, com os mais variados pretextos – uma ideia, um autor, uma cor, uma página... Memórias dos textos que temos lido.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2021

Novidade na Biblioteca: "Judeus portugueses: uma história de luz e sombra" de Esther Mucznik

Barcarena: Manuscrito, 2021
ISBN 978-989-8975-89-8

O que nos diz a história de quase dois mil anos de presença judaica no território que é hoje Portugal? Partindo desta pergunta, a investigadora em temas judaicos Esther Mucznik escreveu um livro que pretende mostrar como “a vida dos judeus portugueses é indissociável da história de Portugal”. (fonte: 7margens)
O que nos diz a história de quase dois mil anos de presença judaica no território que é hoje Portugal?

O judaísmo português é resultado de uma longa história: umas vezes trágica, outras vezes mais serena, mas sempre muito rica. Como financeiros e médicos, filósofos e exegetas, matemáticos e astrónomos, os judeus contribuíram para o desenvolvimento económico, cultural, científico e filosófico de Portugal. Mas esse contributo foi tanto maior quanto maior era a liberdade, a tolerância e a interacção social e política entre os diferentes povos.

A vida dos judeus portugueses é, por isso, indissociável da história de Portugal. Neste livro, Esther Mucznik, escritora e cronista especializada em temas judaicos, cruza a história dos judeus e a história de Portugal em momentos, episódios e personalidades concretas que demonstram essa relação íntima - uma relação feita de convivência e de perseguição, de amor e de ódio, de desterro e de saudade, de reencontro e de reconciliação… de luz e de sombra.

Uma viagem por dois milénios.

Uma história judaica, mas também uma história portuguesa.

Fonte: contracapa do livro

Livro disponível para empréstimo na Biblioteca Municipal de Arganil.

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quarta-feira, 15 de dezembro de 2021

Novidade na Biblioteca: "Regresso ao inferno" de Nelson DeMille



Barcarena: Marcador, 2021
ISBN 978-989-754-512-2
"Um homem despótico e violento que considera a mulher o seu melhor troféu e que está preparado para o pior para a manter. O ódio e a violência escreverão o resto da história da qual ninguém sairá ileso. Nem mesmo o leitor."
Depois de vinte e cinco anos a trabalhar no mundo sombrio da espionagem, Keith Landry está de regresso a casa. Enquanto conduz pela autoestrada, a cantarolar ao som de alguns compassos de «Homeward Bound», os anos ao serviço do governo dos Estados Unidos estão rapidamente a tornar-se uma memória distante.

Está seguro. Está sozinho. E a vida nunca foi tão doce quando surgem as placas a indicar a sua cidade natal, Spencerville.

Keith Landry prometeu a si mesmo que não haveria mais violência, não haveria mais mortes. Mas um encontro casual com a namorada de infância, Annie Baxter (ex-Prentis), impede-o de cumprir essas promessas.

À medida que a paixão volta a surgir entre eles, surgem os problemas, pois Annie é casada com o xerife Baxter, um homem violento e sádico que manda em Spencerville. E ele não tolera rivais perto da sua mulher.

Principalmente Keith Landry.

Fonte: badana do livro

Livro disponível para empréstimo na Biblioteca Municipal de Arganil.

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segunda-feira, 13 de dezembro de 2021

Tempo para a poesia LXXXVII

 

Queria ser poeta

Queria ser poeta
Cantar
Sentir
Chorar
Queria ser poeta
E poder cantar
Quando chora o meu coração
Chegar à alma
Quando os ouvidos não escutam
E a mente não entende

Queria ser poeta
Ser humilde
Ser...
Tocar-me
Sentir-me envolta
Num manto de desassossego
E assim entender o ser

Queira ser poeta
E olhar a distância
Olhar esta distância
Navegar no mar de olhos alheios
Culpar a Providência
Ou quem sabe
Dar-Lhe graças

Queria ser poeta
E cantar
Cantar
Pelo menos uma vez
O que é ser poeta!

Odete Costa Semedo in Entre o ser e o amar

Livro disponível para empréstimo na Rede de Bibliotecas do Concelho de Arganil.

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terça-feira, 7 de dezembro de 2021

Novidade na Biblioteca: "A filha do irlandês" de V. S. Alexander

Porto Salvo: Saída de Emergência, 2021
ISBN 978-989-773-379-6

"Ao pensar na colheita, todo o sentimento de felicidade e a vontade de cantar e contar histórias se esfumaram. Sem batatas, não teriam o que comer. O pai ver-se-ia na posição delicada de cobrar aos rendeiros rendas que estes não poderiam pagar."
Um romance inesquecível de força e resiliência na Irlanda do século XIX

Irlanda, 1845. Para Briana Walsh, nenhum lugar se compara a Carrowteige, no condado de Mayo, com os seus campos verdejantes e penhascos rochosos com vista sobre o Atlântico. As pequenas quintas que cercam a centenária Lear House são administradas pelo seu pai, feitor do rico e imprudente Sir Thomas Blakely. Os rendeiros vendem a aveia e o centeio que cultivam para pagar a renda a Sir Thomas, sobrevivendo com as batatas que florescem nos restantes pedaços de terra.

Mas quando a produção de batata é assolada por uma praga devastadora, as famílias que Briana conheceu durante toda a vida ficam sem comida, sem recursos e à mercê do impiedoso proprietário, que parece indiferente a tudo exceto ao lucro. Rory Caulfield, o jovem camponês com quem Briana espera casar, partilha do desespero dos rendeiros — e da sua raiva. Fala-se de represálias violentas contra a nobreza insensível e os seus representantes. A tensão religiosa é também palpável, e ninguém parece saber em quem confiar.

Com a fome e as doenças a alastrarem pelo país, matando e deslocando milhões, Briana sabe que deve encontrar uma maneira de guiar a sua família por um dos momentos mais sombrios da Irlanda — em direção à esperança, ao amor e a um novo recomeço.

Leia aqui as primeiras páginas. Gostou?
Requisite na Rede de Bibliotecas do Concelho de Arganil.

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