quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Novidade na Biblioteca: Os anagramas de Varsóvia de Richard Zimler


Um romance policial arrepiante e soberbamente escrito passado no gueto judaico de Varsóvia. Narrado por um homem que por todas as razões devia estar morto e que pode estar a mentir sobre a sua identidade… No Outono de 1940, os nazis encerraram quatrocentos mil judeus numa pequena área da capital da Polónia, criando uma ilha urbana cortada do mundo exterior. Erik Cohen, um velho psiquiatra, é forçado a mudar-se para um minúsculo apartamento com a sobrinha e o seu adorado sobrinho-neto de nove anos, Adam.

Num dia de frio cortante, Adam desaparece. Na manhã seguinte, o seu corpo é descoberto na vedação de arame farpado que rodeia o gueto. Uma das pernas do rapaz foi cortada e um pequeno pedaço de cordel deixado na sua boca. Por que razão terá o cadáver sido profanado? Erik luta contra a sua raiva avassaladora e o seu desespero jurando descobrir o assassino do sobrinho para vingar a sua morte. Um amigo de infância, Izzy, cuja coragem e sentido de humor impedem Erik de perder a confiança, junta-se-lhe nessa busca perigosa e desesperada. Em breve outro cadáver aparece - desta vez o de uma rapariga, a quem foi cortada uma das mãos. As provas começam a apontar para um traidor judeu que atrai crianças para a morte.

Neste thriller histórico profundamente comovente e sombrio, Erik e Izzy levam o leitor até aos recantos mais proibidos de Varsóvia e aos mais heróicos recantos do coração humano.

Fonte: contra capa do livro


Requisite o livro na Biblioteca Municipal de Arganil


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terça-feira, 11 de novembro de 2014

O mês de Outubro


Amigos de Ler” é um clube de leitores livres e apaixonados pelas suas leituras, que se reúnem mensalmente na Biblioteca Municipal de Arganil.
No passado mês de Outubro falou-se precisamente sobre Outubro e sobre o que esta palavra trás à memória.
A amiga e escritora Drª Leonarda Tavares, apesar de não ter comparecido partilhou o seu testemunho “o mês de Outubro” que foi lido no serão do dia 13 de Outubro e que agora partilhamos no blog.

O Mês de Outubro

Viciados num quotidiano de banalidades passamos pelos dias sem nos apercebermos ou compreendermos o significado de tantas pequenas coisas que são a vida, a nossa caminhada pelo mundo.

O grupo que tem vindo a encontrar-se, regularmente, na biblioteca, decidiu refletir, na próxima tertúlia, sobre outubro.

Aparentemente é apenas o décimo mês do ano no calendário gregoriano, tendo a duração de trinta e um dias. Deve o seu nome à palavra latina octo (oito), dado que era o oitavo mês do calendário romano, que começava em março.

Medimos o tempo. Dividimo-lo em anos, meses, semanas, horas, minutos e segundos. Mas sem muros, nem fronteiras. Passado, presente ou futuro são um rio sempre a correr da nascente até à foz. Água barrenta ou azul a ondular ao vento, chega às entranhas da terra para brotar de novo e ser fonte de energia revitalizadora.

Se escrevermos a palavra outubro numa folha de papel e a olharmos atentamente, ela anima-se de uma vida plena de memórias, de paisagens, de sentimentos, de imagens, de aromas e de sabores.

Devo confessar que este mês, durante vários anos, foi o mais triste do ano.

Terminavam as longas férias do verão e o seu início significava o começo das aulas e a separação da família.

Estudei num colégio interno, como tantos jovens da minha geração e, ainda hoje, sinto a dor, apesar de longínqua, das lágrimas de outubro. Os meus familiares teimavam em escondê-las e eu, ao contrário, derramava-as em abundância.

Sentia revolta, mas não sabia, nessa época, que a minha partida forçada se devia ao exíguo número de escolas, especialmente no interior, consequência da política de um ditador apologista da ignorância do seu povo.

Volvidas várias décadas, o tempo suavizou o passado e o mês apresenta-se lavado e perdoado.

Aprendi a gostar de outubro. O rodopio do verão sabe a sol, a mar e a encontros. Prendo-me mais ao visível. Fico sem tempo para apreciar o interior das pessoas e das coisas.

O cheiro a terra molhada e a mosto, o esvoaçar das folhas e os dias a minguarem, são um convite ao invisível: ao que vem de nós, dos livros, da chama da lareira, do cair da chuva, das noites longas e da esperança de uma nova primavera.

No silêncio ouvimos a alma, deixamos voar a memória e encontramo-nos na autenticidade do que realmente somos.

As flores, as árvores e toda a natureza fatigadas de tantos frutos e de tanta beleza, sem pressa, entregam-se a um merecido descanso.

Partem as andorinhas em busca de um céu mais azul.

Apetece-me um poema de aromas e de sabores perfumado de maçãs, marmelada fresca e frascos coloridos de compota.

Equaciono a minha condição de pessoa com a minha comunhão com os outros e imagino a imensidão de palavras que poderia ter escrito sobre o tema proposto pelo grupo.

Porém, os pensamentos são fugazes. Os que fixo no pedaço de papel são os que navegam parados no momento em que os agarro. Por isso os tornarei a ver.

Dos incontáveis acontecimentos ocorridos ao longo dos muitos outubros, guardo os que a memória me conserva, os que o coração teima em acordar em meu redor.

A escrita é um ato solitário. Gostava de partilhar as surpresas literárias do convívio. Contudo, o rumor citadino leva-me pelas ruas, apressada, sem olhar os olhos de quem passa. Há folhas adormecidas, espalhadas pelo chão, impregnadas de sonhos e de odor a castanhas. É outubro.

Maria Leonarda Tavares

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segunda-feira, 10 de novembro de 2014

O cassador de muros de Ana Filomena Amaral


A propósito da apresentação do “Cassador de Muros” de Ana Filomena Amaral devo dizer que é o titulo que primeiro nos chama a atenção para o livro. À primeira vista um erro ortográfico. Impossível, pensamos nós. Esta palavra não pode ter o mesmo significado que a palavra caçador. Procuramos no dicionário etimológico e encontramos a palavra cassa e descobrimos que vem do latim cassare, cujo significado é: destruir, aniquilar, anular.

Muito bem, a partir da raiz da palavra formamos novas palavras, daí cassador, aquele que destrói, aniquila, anula os muros.

Bom, passada esta fase, as coisas começam a fazer sentido. Pois Alberto, o personagem principal deste romance, um jornalista português entediado no dia-a-dia do jornal onde trabalha, em Lisboa, vê-se de um momento para o outro catapultado para realidades, sensações, momentos que ele não julgava poder vir a ter.

Descobrimos na leitura do livro que ele é uma personagem que se desconhecia a si próprio, pois quando desperta para esse novo eu, tudo nele se transforma.

Da pacatez do seu dia-a-dia ele passa a viajante compulsivo de realidade em realidade, onde há sempre um muro que ele gostaria de destruir.

Mas os muros que ele vai encontrando não são apenas muros físicos, são muros de vivências escondidas, de sofrimento, de dor. Muros de ausências e de vidas perdidas atrás dos muros.

Alguns são verdadeiros muros erguidos pelo lado mau que os homens têm, onde se esconde a sua pequenez e a sua cobardia se revela.

A maldade que está subjacente à construção do muro de Berlim, é a mesma que ditou a construção do muro na Palestina, na Irlanda do Norte, ou na Coreia do Norte. São muros que os homens constroem porque não sabem usar a arma que é a PALAVRA, talvez a arma mais poderosa que existe e quando bem usada, a mais eficaz.

Quando a PALAVRA não é usada, surgem outras armas mortífera, destruidoras que apenas deixam sofrimento e morte.

Junto aos muros físicos, Alberto encontra outros muros que ele próprio construiu, porque a vida nos obriga por vezes a construir muros. Muros que nos afastam dos outros e que não temos coragem para aniquilar, para anular. Quando, por vezes, o conseguimos, verificamos que o muro que construímos nos impediu de ver o outro lado e consequentemente de nos libertarmos e sermos, talvez, mais felizes.

No livro que a Ana Filomena Amaral escreveu é precisamente isto que acontece ao herói do romance. Ele é um aniquilador de muros. Em primeiro lugar os que construiu consigo próprio e que vai vencendo nesta viagem, depois os que foram sendo construídos e o afastaram de gente que lhe era querida. Nas viagens que empreende em busca de muros físicos o acaso e felizes encontros vão-lhe permitir destruir alguns dos seus próprios muros.

Outro aspeto que desperta a atenção neste livro é o caminho que a autora tomou e a linha de acontecimentos que se vão sucedendo, passando por cenários pintados de cores escuras: a tristeza, a morte, a dor a saltarem a cada momento em pontos geográficos muito distantes entre si e que parecem globalizar os ditos cenários pelas suas semelhanças em cada diferente situação. 
Mas em simultâneo, outros cenários são construídos. 
À dor opõe-se a alegria do nascimento de novos seres.
À solidão opõe-se a alegria do encontro com antigos e novos amigos.
Ao isolamento familiar opõe-se o surgimento de uma família unida, feliz.
À pobreza opõe-se a opulência dos mais ricos.

A autora leva-nos através de cenários de grande pobreza material e o oposto, e em todos estes caminhos há muros que são derrubados e aniquilados, mas muitos muros subsistem e subsistirão porque os homens são em simultâneo construtores e aniquiladores de muros.

Parabéns à autora por nos levar em viagem a locais críticos do mundo de hoje, onde o sofrimento das pessoas ultrajadas na sua dignidade, deixam envergonhados todos aqueles que se consideram pessoas civilizadas no século XXI.

Margarida Fróis

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