sexta-feira, 30 de março de 2012

Isabel Allende, narradora mágica

Autora de uma vasta obra literária que teve início em 1982 com a publicação do romance “A casa dos espíritos”, Isabel Allende, foi galardoada no passado dia 28 de Março, com o prémio Hans Christian Andersen de Literatura "pelas suas qualidades como narradora mágica e pelo seu talento para enfeitiçar o público".

Isabel Allende é mundialmente conhecida, e a sua qualidade enquanto escritora tem vindo a ser premiada numa base regular, contando já com mais de 50 distinções. Os seus livros estão traduzidos em mais de 30 línguas e as vendas superam já os 56 milhões de exemplares.

Nascida no Peru, em 1942, filha de pais chilenos, foi forçada ao exílio na Venezuela, depois do golpe militar de Augusto Pinochet, em 1973. Do exílio, para manter vivos os laços afectivos, Isabel começa a escrever uma longa carta ao seu avô, que ficara no Chile. Essa carta foi o ponto de partida da obra A Casa dos Espíritos e o início da sua carreira literária.

“Sou uma escritora porque fui abençoada com um ouvido para as histórias, uma infância infeliz e uma família esquisita. (Com familiares estranhos como os meus não há necessidade de inventar nada. Por si só eles fornecem todo o material para o realismo mágico). A literatura definiu-me. Palavra a palavra, página depois de página, inventei-me hiperbólica e extravagante.”
(tradução livre feita pela BMA)

Se quer descobrir mais sobre esta escritora consulte:

Na Biblioteca Municipal estão disponíveis para empréstimo os seguintes livros da autoria de Isabel Allende:

• A casa dos espíritos. Lisboa : Difel, 2005
• De amor e de sombra. Lisboa : Difel, imp. l987
• Eva Luna. Lisboa : Difel, imp. 1988
• Afrodite : Historias, Receitas e Outros Afrodisíacos. Lisboa : Circulo de Leitores, 1997
• O plano infinito. Lisboa : Difel, 1998
• A filha da fortuna. Algés : Difel, 1999
• A ilha debaixo do mar. Lisboa : Inapa, 2009
• Retrato a sépia. 3ª ed. Alges : Difel, 2001
• Paula. Algés : Difel, 2001
• O reino do dragão de ouro. Algés : Difel, 2003
• A cidade dos deuses selvagens. [Lisboa] : Círculo de Leitores, D.L. 2002

Leia a notícia da atribuição do prémio Hans Christian Andersen Literatura em:

terça-feira, 27 de março de 2012

Novidade na biblioteca: colecção nós e a ciência

Está já disponível na biblioteca a colecção Nós e a ciência, constituída por 20 volumes que se debruçam sobre 5 grandes temáticas: O nosso lugar no universo; Viver mais, viver melhor; Gestão sustentável do planeta; Novos materiais e A era digital.

"uma obra científica que aprofunda os grandes temas da ciência e da tecnologia, detendo-se em especial no mundo de hoje. Pensada para aproximar o grande público das temáticas mais interessantes da ciência, desde o início do Universo e da formação da terra até a manipulação genética.”
Fonte: Jornal Público

segunda-feira, 26 de março de 2012

O adeus a António Tabucchi (1943-2012)

Descrito por António Mega Ferreira como sendo “o mais português dos escritores europeus”, António Tabucchi nascido em Pisa em 1943, faleceu em Lisboa, aos 68 anos vítima de cancro.

António Tabucchi estudou línguas e filosofia e depois dos estudos viajou pela Europa. Em Paris teve o seu primeiro contacto com a obra de Fernando Pessoa, e foi aí que nasceram as raízes da sua ligação a Portugal.

Dedicado ao estudo da figura de Fernando Pessoa, produziu ensaios sobre este autor e traduziu obras suas. Paralelamente à sua actividade de pesquisa e crítica literária, tem criado uma notável obra como ficcionista. Os seus livros estão traduzidos em cerca de dezoito países.

Obteve o prémio francês "Médicis étranger" pelo seu romance Notturno Indiano, e o prémio Campiello por Afirma Pereira.

Leia mais sobre esta temática no público on-line ou na edição impressa de 26 de Março.

Livros do autor disponíveis na Biblioteca:
- Nocturno indiano. Lisboa : Quetzal, 1987. 112 p.
- Pessoana mínima: escritos sobre Fernando Pessoa. Lisboa : Imprensa Nacional-Casa da Moeda, D.L. 1984. 143, [10] p.
- Pequenos equívocos sem importância. Lisboa : Difel, 1988. 159 p.
- Mulher de Porto Pim e outras histórias . Lisboa : Difel, 1983. 103 p.
- O jogo do reverso. Lisboa : Vega, 1984. 130 p.
- Afirma Pereira. Porto : Público Comunicação Social SA, 2002. 158, [1] p. ISBN 84-8130-559-6

quarta-feira, 21 de março de 2012

21 de Março - Dia Mundial da Poesia

Poesia

a Fernando Pessoa

A Poesia está na alma do poeta
e na sua vida.
O Poeta é independente. Só ele sabe.
Sobre as suas ideias, sobre os seus sentimentos,
não podem pesar leis com séculos de existência.

Na força com que exprime uma ideia violenta,
na brandura que um sentimento muito calmo
            arrasta,
na pressa duma corrida,
no vagar duma música dolente,
- no que tem de exprimir, está o ritmo do poeta.

Não lhe venham dizer que um verso está errado
            e sem rima,
se a alma está para lá de todas as convenções.
Há sentimentos que cabem numa letra,
e um verso pode não caber em todos os livros do
            mundo.

A Poesia não está nos assuntos poéticos por eles,
nem nos versos bem medidos,
nem nas rimas que são paciência.
A poesia está no poeta.

O poeta devia ser o primeiro poeta em cada poema.

In: A Poesia de Alberto De Serpa

terça-feira, 20 de março de 2012

Primavera

Primavera

Na madrugada incerta
Uma fonte acordou.

Nas árvores desnudas
Os gomos estremecem.

De uma nuvem doirada
Duas lágrimas caíram.

Ergueu-se a cotovia,
Subiu no ar, cantou.

As rolas arrolaram
Num salgueiral distante.

O voo de uma andorinha
Riscou veloz o céu.

Tuas mãos esqueceram-se
Um instante nas minhas.

Cruzou-se o olhar surpreso
De dois adolescentes.

O cálix de uma rosa
Descerrou o corpete.

E um pastorinho, vendo
Abrir a flor, sorriu.

Américo Durão
In: Poesias Completas

Nota biográfica:

Américo de Oliveira Durão nasceu a 26 de Outubro de 1893 em Coruche.
Licenciado pela Faculdade de Direito de Lisboa, foi diplomata, professor, funcionário superior da Câmara Municipal de Guimarães e da de Lisboa.
Foi colaborador das revistas A Águia, Contemporânea e Seara Nova.
Foi dramaturgo e notabilizou-se como poeta, herdeiro das correntes decadentista e simbolista, como Florbela Espanca, de quem foi amigo.
Faleceu a 7 de Março de 1969, em Lisboa.

 Nota: A biblioteca tem disponível para empréstimo o livro poesias completas de Américo Durão.

quinta-feira, 15 de março de 2012

Reflectindo sobre a formação de leitores

“A leitura é um tipo de exercício espiritual,
que prepara não para a literatura, mas para a vida.”

Luciana Dadico, Universidade de S. Paulo (Brasil)

“Aprende-se, primeiro, o processo mecânico a partir do código de escrita,
 depois a sintaxe e numa terceira fase, a forma como as inscrições nesse código servem para conhecer,
de uma forma profunda, imaginativa e prática, a nossa identidade e o mundo que nos rodeia.
Essa terceira etapa é a mais difícil, a mais perigosa e a mais poderosa”

Alberto Manguel

A formação de leitores é um processo que infelizmente não se desenvolve com frequência no contexto escolar, mas à sua margem. De facto tendo em conta a experiência de escritores e leitores quando dão o seu testemunho sobre a sua iniciação na leitura e sobre a sua paixão pela mesma, constatamos que na realidade o primeiro impulso que receberam para a sua formação como leitores adveio de pessoas próximas (família, amigos) e do contacto com os livros desde tenra idade.

Sabe-se actualmente que cada pessoa tem por natureza, uma maior ou menor inclinação para estreitar os vínculos com a linguagem e a leitura. Por isso há leitores que descobrem o gosto pela leitura “sozinhos”, sem estímulos ou condições especiais criados para o efeito. Outros há, que embora tendo tido as oportunidades e os estímulos para ser leitores não o são. Não obstante é preciso reconhecer que a estimulação ou a sua falta têm impacto substancial.

Quando falamos em Formação de leitores estamos a referir-nos a um processo muito específico, diferente do processo de alfabetização ou do desenrolar de um programa curricular relacionado com a linguagem ou a literatura. Claro que não se pretende desvalorizar a alfabetização e os programas curriculares desenvolvidos pela escola, a alfabetização é afinal o primeiro passo para chegar à palavra escrita, mas o leitor forma-se pelo desenvolvimento do prazer de ler. No entanto para gostar de ler é necessário saber ler bem e aí a escola tem um papel fundamental. Saber ler e gostar de ler são dois conceitos que andam sempre de mãos dadas.

Outro aspecto fundamental para a aquisição do gosto pela leitura é o acesso aos suportes de leitura. Ninguém gosta de ler se não tiver onde praticar a leitura e esse é outro conceito que não podemos esquecer: a prática da leitura.

Poderemos então dizer que gostar de ler é a soma de saber ler + praticar a leitura. No entanto há pessoas que sabendo ler e tendo acesso aos suportes de leitura, não gostam de ler. Nessa situação o papel dos mediadores da leitura é muito importante. É a eles que cabe o trabalho de formação de leitores.

O termo mediador deriva do latim mediatore, e significa aquele que medeia ou intervém. Quando se trata de leitura, podemos considerar que o mediador do acto de ler é o indivíduo que aproxima o leitor do texto e que facilita esta relação. Podemos considerar como mediadores de leitura os familiares, os professores, os bibliotecários, os editores, os críticos literários, os redatores, os livreiros e até os amigos que nos emprestam um livro. Os mediadores que mais se destacam são os familiares, os professores e os bibliotecários.

Aos mediadores cabe desenvolver estratégias que levem alguém a gostar de ler. A partir das premissas iniciais: saber ler e ter acesso aos suportes de leitura, o mediador transforma estas premissas em ferramentas de trabalho, criando o gosto e o prazer de ler.

Formar leitores é em simultâneo formar cidadãos com um grau de literacia que lhes permite responder às exigências de leitura da sociedade em todos os contextos.

Na maior parte das vezes vinculámos a formação de leitores à literatura, porém este processo pode também desenrolar-se a partir de textos não literários, textos informativos ou até banda desenhada. Mas, em geral, os textos literários são os ideais para o leitor iniciante, e especialmente para o desenvolvimento da leitura, por dois motivos: o primeiro está relacionado com as formas literárias, a riqueza do vocabulário e as possibilidades expressivas. O segundo motivo prende-se com a natureza lúdica-estética da literatura, se o leitor a “sentir” sentir-se-á certamente envolvido por ela.

Formar leitores recorrendo à literatura é de fulcral importância, pois permite enfatizar o valor e a riqueza da linguagem como provocadora de ideias, emoções e imagens mentais.

Os géneros mais usados para formar leitores são sem dúvida a narrativa e a poesia. Ambos satisfazem a necessidade do ser humano de se alimentar de histórias e de brincar com as palavras, os sons e as emoções. O êxito destes géneros junto às crianças prende-se sobretudo com a sua função lúdico-estética. Assim pode se concluir que a selecção de textos e o seu uso no processo de formação de leitores deve privilegiar o seu valor lúdico e estético, ou seja a sua qualidade artística e o seu poder de atracção.

Apesar de em contexto escolar se explorarem os textos literários de modo a extrair deles informação concreta (características linguísticas, valores morais, construção frásica, etc.), devemos ter em conta que os escritores escrevem para se expressar e provocar prazer literário. A função formativa e a informativa da leitura andam de mãos dadas com esse prazer. São um sub produto do mesmo. E deve ter-se cuidado em não aniquilar esse prazer ao instrumentalizar em demasia o texto literário.

Para formar leitores é necessário ter em conta, sobretudo no que às crianças diz respeito, que temos de proporcionar desafios, dificuldades, incertezas e questões de modo a testar a sua inteligência, sensibilidade, intuição e curiosidade. Não é submetendo a mesma a formulas, que conseguimos atingir o nosso objectivo: formar leitores.

Para formar leitores não devemos no entanto impor determinado género. Devemos deixar o leitor “livre” para experimentar as mais diversas formas de expressão e representação.

quinta-feira, 8 de março de 2012

Assinalando o Dia Internacional da Mulher

MULHER PRESENTE

Na canção que eu hoje trago
Direi tudo o que eu quiser
No passado deixo um cravo
Planto outra flor qualquer.

O meu jardim é ser enfim
Mulher.

Sofri
Fui escrava e fui mansa
Mas agora posso
Erguer a cabeça
E dar flor.

Pari
Um filho de esperança
Que é livre e é nosso
E nasce da seiva
Do amor.

Lutei
Com que armas não sei
Mesmo na desgraça
Ergui a cabeça
E lutei.

Senti
A força da raça
Dum povo que passa
Depois de ser escravo
A ser rei.

Na canção que eu hoje vivo
Cabe tudo o que eu disser
A palavra amante e amigo
A fúria de viver.

Cantando assim eu sou por fim
Mulher.
Poema da autoria de José Carlos Ary dos Santos. Musicado por Fernando Tordo e interpretado por Simone de Oliveira.

Nota: Está disponível para empréstimo na Biblioteca Municipal de Arganil o livro Obra poética de José Carlos Ary dos Santos

terça-feira, 6 de março de 2012

Sugestão de Leitura: És meu de Rita Ferro

És meu de Rita Ferro
Lisboa: Dom Quixote, 2003

És meu é um romance da autoria de Rita Ferro carregado de uma grande densidade psicológica. A protagonista da obra, Maria Inácia, através de uma carta, cujo destinatário apenas é revelado perto do fim, desnuda completamente a sua alma, dando nos conta de sentimentos tais como o ciúme, a obsessão, a paixão, o amor e a vingança. Sem rodeios e de uma forma quase crua Maria Inácia, não esconde as emoções e mostra nos como é ténue a linha entre a lucidez e a demência.

Escrito na primeira pessoa do singular e recorrendo a uma linguagem simples e directa, este é um livro que não se lê de ânimo leve, pois a sua carga psicológica é tão densa, que é quase impossível ficar indiferente.

“E, sem dar por isso, dei comigo a desafiar os deuses contemporâneos: de que nos serve tanto estudo se há em nós desígnios que nos transcendem, magmas de que não suspeitamos, marcas e depressões que, a ser verdade o que hoje nos dizem, são anteriores ao nascimento?
Na verdade, nunca conheci ninguém que tivesse escapado, pelo menos uma vez, à imposição da sua natureza, mesmo tendo dedicado uma vida inteira a contrariar os seus impulsos, lendo ou orando.
Há sempre um momento de saturação em que a vida nos finta, inesperadamente, e em que a nossa verdadeira natureza irrompe para rebentar de uma vez com todos os coletes de forças, lembrando-nos de que existe, dentro de nós, um sósia encarcerado, vendado e amordaçado que, mesmo anémico e agonizante, consegue um dia quebrar as grilhetas e escapar da prisão, derrubando-nos com um só soco.”

Leia, porque ler é um prazer!

Nota: Este livro está disponível para empréstimo na Biblioteca Municipal de Arganil

sábado, 3 de março de 2012

Novidade na Biblioteca: O cérebro que aprende de Sarah-Jayne Blakemore e Uta Frith

O cérebro que aprende: lições para a educação de Sarah-Jayne Blakemore e Uta Frith

Os desenvolvimentos recentes das neurociências permitem-nos conhecer com maior exactidão os mecanismos de aprendizagem. Ficámos a saber, por exemplo, que a plasticidade do cérebro permite que um adulto aprenda tão bem como uma criança, e que a difícil fase da adolescência se reflecte na aquisição de novos conhecimentos. Um livro que transpõe os conhecimentos teóricos para as suas implicações práticas.(…)
Escrito de forma acessível e apelativa, é interessante para curiosos na matéria, e, sobretudo, para educadores. Aliás, o subtítulo da obra é, precisamente, «Lições para a educação».
Fonte: www.wook.pt

sexta-feira, 2 de março de 2012

Novidade bibliográfica na Biblioteca: O cartoon e o início do séc. XXI de Osvaldo Macedo de Sousa

O cartoon e o início do séc. XXI de Osvaldo Macedo de Sousa

Amadora: Câmara Municipal, 2006

O campo de trabalho principal de Osvaldo Macedo de Sousa é a promoção e a divulgação do cartoon em Portugal.


“O cartoon é uma arte de estética gráfica, de comunicação jornalística e de filosofia sócio-política. Como seu aliado, ou como arma de diálogo com o público, usa a sátira, a ironia, o humor ou a comicidade.” Neste livro o autor apresenta uma perspectiva sobre o papel do Cartoon na Sociedade Contemporânea e leva-nos a reflectir sobre assuntos tão importantes como a liberdade de expressão através da caricatura.

quinta-feira, 1 de março de 2012

Livro do mês: passageiros em trânsito de José Eduardo Agualusa

Passageiros em Trânsito é um livro da autoria de José Eduardo Agualusa publicado em 2006, composto por um conjunto de 20 contos, quase todos publicados anteriormente na revista Pública, suplemento do Jornal Público.

As histórias narradas parecem quase improváveis, decorrem em cenários da África, Brasil e Peru, e as suas personagens “passageiros em trânsito” ao mesmo tempo que se revestem de simplicidade, têm sempre alguma peculiaridade insólita.

A procura incessante de quem somos é um ingrediente de todos estes contos. Escritos numa linguagem simples e acessível, mas sempre com um toque de exotismo, cada conto transporta em si uma mensagem simples que nos leva a viajar e a procurar novos horizontes.

Excertos:

“O meu pai dizia-me:
- A vida é uma corrida, meu filho. Quem olha para trás enquanto corre arrisca-se a tropeçar.
Eu não olho para trás. Avanço por vezes de olhos fechados e tropeço, como os outros, e eventualmente caio, mas não olho para trás. Nunca fui pessoa de cultivar saudades. Não colecciono álbuns de fotografias e jamais guardei pétalas secas entre as páginas de velhos livros. Sigo sempre em frente. Quando me perguntam para onde vou encolho os ombros. Rio-me:
- Adiante”

(Um Ciclista)

“Emanuel Sutil olhou-me com desdém. Não respondeu, Já no hall, enquanto escolhia um guarda-chuva discreto, conforme ao meu ofício, entre um denso molhe deles, ainda vi o brasileiro abrir caminho através do fumo espesso e desabar no sofá, junto às duas raparigas louras. Vi-o fechar os olhos. Cruzar os braços sobre o peito magro. Pareceu-me que sorria. Tenho conhecido gente um pouco estranha nestas festas. Existe de tudo. As ocupações mais bizarras. Eu sei, é claro, que isso depende sempre da perspectiva. Eu, por exemplo, vendo caixões. O meu pai vendia caixões. O meu avô vendia caixões. Cresci nisto. Acho até prosaico. Preferia, reconheço, dar aulas de levitação. Paciência. Consola-me saber que a morte é melhor negócio. Como o meu avô dizia – só uma coisa me aflige: a imortalidade.”

(Manual prático de levitação)

O autor

José Eduardo Agualusa, um dos mais importantes escritores africanos da última década, nasceu em Huambo – Angola, a 13 Dezembro 1960. Tem ascendência portuguesa, angolana e brasileira. É casado, pai de dois filhos e divide o seu tempo entre Luanda, Lisboa e Brasil.
Estudou Agronomia e Silvicultura no Instituto Superior de Agronomia em Lisboa, mas rapidamente orientou a sua carreira para a escrita. É romancista, contista, poeta e jornalista.


O livro apresentado encontra-se disponível para empréstimo na
Biblioteca Municipal de Arganil