sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

Rei

A palavra rei sugere, de imediato, autoridade, riqueza, domínio, palácios, contos infantis e nomes do passado e do presente que fazem parte da história da maioria dos países do mundo.

Uns ficaram na memória como déspotas, outros como justiceiros, guerreiros, magnânimos ou empreendedores. E existiram os idiotas cuja cabeça apenas serviu para ostentar a coroa.

Em criança, para além dos contos habituais, em minha casa, lia-se, com alguma frequência, a história do Rei Salomão, como exemplo de grande sabedoria e justiça.

Porém, os reis que fazem parte dos primeiros registos da minha memória são os três magos que os meus irmãos mais velhos colocavam no presépio.

De início estavam junto a um castelo. Depois alguém os deslocava, uns centímetros por dia, sobre um caminho feito de serradura, a contrastar com o verde do musgo. 

Só no dia de reis apareciam à entrada da cabana, habitada pela Sagrada Família, o burro e a vaca.

Ouvi variadas histórias sobre eles e imaginei muito para além do que me contavam.

Os meus sobrinhos quase todos se recordam das fantasias que fui criando sobre os três reis do presépio.

Na verdade, tinha tanto direito a inventar como todos os que, ao longo dos anos, urdiram os seus mitos acerca destas três personagens.

Como é sabido, houve muitas pessoas a escrever sobre o nascimento e a vida de Jesus Cristo.

Porém, apenas quatro evangelistas: Mateus, João, Marcos e Lucas foram considerados os mais autênticos e, por essa razão, de certo modo, oficializados.

Mateus escreveu os evangelhos noventa anos após a morte de Cristo. Baseou-se na informação oral. 

Quanto aos magos recolhe elementos nas profecias de Isaías, que viveu muitos anos antes de Cristo e anunciou grande parte do que iria acontecer.

Mateus é o único que escreve sobre o nascimento e a infância de Jesus. Os restantes ocupam-se, apenas, da vida adulta.

Mateus, no cap. 2 – Adoração dos Magos refere o seguinte: Tendo Jesus nascido em Belém da Judeia, no tempo do Rei Herodes, chegaram a Jerusalém uns magos vindos do oriente.

Onde está o Rei dos Judeus que acaba de nascer? perguntavam. Vimos a sua estrela no oriente e viemos adorá-lo.

Resumindo o texto bíblico: o Rei Herodes, perturbado com o nascimento de outro rei, pediu-lhes que partissem, de imediato, e o informassem, com toda a brevidade, do local onde se encontrava esse menino.

Os magos, entretanto, seguindo a estrela, chegaram a Jesus.

Foram, porém, avisados, em sonhos, para se afastarem do Rei Herodes e regressarem à sua terra por outro caminho.

Esta é a única informação escrita que chegou até nós.

Mateus fala em magos vindos do oriente, não reis.

Os estudiosos bíblicos presumem que seriam astrónomos. Daí a associação a um astro especial, que identificaram como um sinal do nascimento do messias, prometido e anunciado pelos profetas.

Há quem acredite que a estrela seria o cometa Halley que, segundo os astrónomos, poderá ter sido visível nessa época. 

Muito do que hoje aceitamos como verdade são invenções adaptadas a cada cultura.

O evangelista também não menciona o número de magos. O facto de aparecerem como sendo três: um branco, um preto e um amarelo, significa que a salvação veio para todos.

Epifania, ou seja a festa da igreja católica consagrada à comemoração da adoração dos reis magos a Jesus, significa manifestação. Deus manifestou-se a todos os povos.

Os nomes que lhe foram atribuídos: Belchior, Baltazar e Gaspar ainda não encontraram uma explicação plausível por parte dos estudiosos.

Havia a ideia de que a ciência e a sabedoria provinham da Ásia.

A primeira grande civilização foi a da Mesopotâmia. Israel terá sido fortemente influenciado por essa cultura.

Portanto, os magos, considerados sábios, viriam do oriente.

Quanto aos presentes oferecidos ao recém-nascido, encontrou-se um significado aceitável: o ouro símbolo do Rei, material utilizado na coroa; o incenso sinal do culto a Deus, ainda hoje se queima nas igrejas; a mirra representa o homem. Na antiguidade colocava-se esta substância nos cadáveres.

Magos, reis ou reis magos pouco importa. A verdade é que conquistaram o direito a entrar em muitas das nossas casas e fazem parte da grande festa do Natal. 

9 de janeiro de 2017 

Maria Leonarda Tavares

Nota: Texto lido pela autora no serão dos "Amigos de Ler" no dia 9 de Janeiro de 2017

“Amigos de Ler” é um clube de leitores livres e apaixonados pelas suas leituras. Reunimo-nos na segunda segunda-feira do mês, às 21:00 horas, na Biblioteca Municipal de Arganil | Miguel Torga, com os mais variados pretextos – uma ideia, um autor, uma cor, uma página... Memórias dos textos que temos lido. Com chá, licores e muitos livros em cima da nossa mesa.

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