segunda-feira, 25 de julho de 2022

Tempo para a poesia XCII


Na ribeira deste rio

Na ribeira deste rio
Ou na ribeira daquele
Passam meus dias a fio.
Nada me impede, me impele,
Me dá calor ou dá frio.

Vou vendo o que o rio faz
Quando o rio não faz nada.
Vejo os rastros que ele traz,
Numa sequência arrastada,
Do que ficou para trás.

Vou vendo e vou meditando,
Não bem no rio que passa
Mas só no que estou pensando,
Porque o bem dele é que faça
Eu não ver que vai passando.

Vou na ribeira do rio
Que está aqui ou ali,
E do seu curso me fio,
Porque, se o vi ou não vi.
Ele passa e eu confio.

Poesias. Fernando Pessoa. Lisboa: Ática, 1942 (15ª ed. 1995).

Clique no link e descubra todas as obras de Fernando Pessoa disponíveis para empréstimo na Rede de Bibliotecas do Concelho de Arganil.

Leia, porque ler é um prazer!

Sem comentários:

Enviar um comentário

O seu comentário é bem vindo! Partilhe as suas ideias sobre livros e escritores, tente seduzir alguém para o prazer de ler!