terça-feira, 12 de outubro de 2010

Até onde se pode ir?

Até onde se pode ir/ David Lodge
Porto: Asa, 2006

David Lodge, escritor britânico, é considerado como um dos mais relevantes autores da moderna literatura inglesa. Autor de uma vasta obra, é conhecido pelo seu tom simultaneamente crítico e humorístico, de forma sagaz usa a sátira para analisar aspectos relevantes da vida.

“Até onde se pode ir” é um bom exemplo disso. É um romance em que o narrador nos dá a conhecer o percurso de um grupo de amigos desde os tempos da universidade até ao casamento e a meia-idade, e analisa o impacto que a doutrina católica teve na vida de cada um. São 9 estudantes que seguindo os ensinamentos da Igreja levam uma vida quase monástica, não por se reverem exactamente nessa forma de estar, mas sim com medo do pecado e das suas consequências.

A narrativa inicia-se na década de 50, altura em que a igreja condenava fortemente qualquer tipo de contracepção e apenas o método das temperaturas era tolerado. Na prática este método revelava-se complicado e era pouco eficaz. Os casais ou se sujeitavam a ter filhos não desejados/ planeados ou podiam optar por não respeitar os ensinamentos da igreja. Este dilema é o tema central do livro.

Na década de 60 e 70 as mentalidades tornam-se muito mais abertas, dá-se a invenção da pílula, e começa a ser cada vez mais visível o confronto entre uma sociedade cada vez mais permissiva e a tradicionalista Igreja Católica. Inicia-se nesta época para cada um dos outrora virtuosos jovens um jogo de desafios morais em que frequentemente surge a questão “Até onde se pode ir?”

Dennis, Michael, Ruth, Miles, e os restantes personagens que dão corpo a este romance, cada um à sua maneira vão encontrando ao longo do seu percurso a melhor forma de conseguirem estar em paz com as suas consciências.

Embora a temática possa já ser pouco actual, este é um livro que resume com perspicácia um grande dilema moral.

“Muitas coisas mudaram – as atitudes em relação à autoridade, ao sexo, ao culto, aos outros cristãos, a outras religiões. Mas talvez a mudança fundamental seja aquela de que a maioria dos católicos nem tem consciência. É o desvanecer da metafísica católica tradicional – essa síntese maravilhosamente complexa e inventiva da teologia, cosmologia e casuística, que situava as almas individuais numa espécie de Snakes and Ladders espiritual, as motivava com doses iguais de esperança e medo e lhes prometia, caso perseverassem no jogo, a recompensa eterna.”

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