segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Dia internacional das Bibliotecas Escolares. Da informação ao conhecimento

 
Da informação ao conhecimento
 
Vivemos no mundo da informação tecnológica. A Galáxia de Gutenberg consistentemente assente na escrita e no suporte papel, cede lugar a uma nova era, a era tecnológica, baseada na informação virtual que inunda totalmente o nosso quotidiano. A sua presença é de tal forma avassaladora que viver fora dela é uma forma de exclusão.

O acesso à informação que as novas tecnologias permitem está ao alcance das nossas crianças, dos nossos jovens, de todos nós em locais públicos e cada vez mais em casa de cada um, nas mais recônditas localidades. No entanto, aquilo a que acedemos é apenas informação. Como transformar essa informação em conhecimento?

Neste processo é fundamental dispor de ferramentas intelectuais que permitam fazer o “caldeamento” da informação recolhendo no “cadinho” da pesquisa e da investigação, o que essa informação acrescentou ao nosso conhecimento.

Na base de todo este processo estão as competências de leitura e de escrita. Sem saber manejar perfeitamente estas ferramentas, não será possível aceder ao mundo da informação com espírito crítico sabendo retirar desta amálgama o que de bom nos interessa para os nossos objectivos. Sem dominar perfeitamente a leitura e a escrita, todo o edifício intelectual fica sem alicerces e facilmente se desmorona.

Neste processo, onde entram as Bibliotecas? Jules Ferry, advogado e político, ministro francês da educação entre 1879 e 1881, que instituiu em França o ensino primário obrigatório, gratuito e laico, escreveu em documentos oficiais que “podemos fazer tudo pela escola, pelos liceus, se não tivermos bibliotecas ainda não fizemos nada”. Sem bibliotecas as nossas escolas ficam amputadas de um elemento essencial para que cumpram com eficácia as suas funções educativas.

A esta frase de Jules Ferry, eu acrescento: no entanto poderemos ter as melhores bibliotecas, com o melhor fundo documental, bem organizadas, dinâmicas e agradáveis. Se não desenvolvermos o hábito, o gosto e o prazer de ler nas nossas crianças, ainda não fizemos nada.

O insucesso e o abandono escolar são um problema com muitas vertentes de causa e efeito: causas económicas, sociais, do nível cognitivo, familiar. Contudo, é também um problema de falta de hábitos de leitura. A criança que termina o 1º ciclo do ensino básico sem dominar perfeitamente a mecânica da leitura e da escrita tem muita dificuldade em acompanhar a maior exigência e complexidade das matérias que vai encontrar no 2º ciclo e se, chegado aí, não conseguir recuperar essas competências então é um potencial candidato ao fracasso escolar.

A criança quando termina o 1º ciclo do ensino básico deve ter atingido níveis muito elevados de competência da leitura. É fundamental que ela esteja em condições de passar do estado de ledor para o estado de leitor. Segundo Edmir Perrotti em “Leitores, ledores e outros afins” (1999), os ledores são «sujeitos que se relacionam apenas mecanicamente com a linguagem, não se preocupando em actuar efectivamente sobre as significações e recriá-las. (…) Os leitores, ao contrário, são seres em permanente busca de sentidos e saberes». Quer dizer que se alcançou um nível muito elevado da mecânica da leitura e que também se adquiriu o hábito, o gosto e o prazer de ler.

Estas competências de leitura vão permitir passar do “como” ao “porquê”. O “como” é o estado bruto em que a informação se nos apresenta. Para que ela se transforme em novos conhecimentos é necessário passar ao “porquê”, estado em que o leitor se interroga sobre o significado da informação que analisa e ao mesmo tempo faz a ligação a outros textos que já leu. O leitor recorre à sua “biblioteca” interior onde tem armazenado o conhecimento adquirido anteriormente: palavras, significados, imagens. Esta intertextualidade, este recorrer à sua biblioteca interior, vai-lhe permitir fazer a ligação à informação que analisa e transformá-la em novos conhecimentos. Isto só acontece porque há já um suporte intelectual preparado para acolher novos conhecimentos.

Todo o processo de transformação da informação em conhecimento está dependente da capacidade de ler, interpretar, sintetizar.

Se não dominar a mecânica da leitura, se não lê habitualmente, terá mais dificuldade em dominar o texto escrito. Por outro lado se ao longo da sua vida não teve um contacto intenso com a leitura, principalmente a leitura literária, o seu vocabulário é muito reduzido. A pobreza vocabular e a falta de um percurso de leitura impede a organização objectiva das ideias e a capacidade de fazer a síntese, o que se traduz num empobrecimento do trabalho intelectual que pode ser determinante para a exclusão do indivíduo nesta sociedade de informação tecnológica.

Tudo isto a propósito do Dia Internacional das Bibliotecas Escolares. Parceiras fundamentais para as literacias devem ser, nas Escolas, o centro nevrálgico de todas as estratégias para o sucesso escolar.
22 de outubro de 2012 
Margarida Custódio Fróis
 

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