As melhores histórias de gatos é uma antologia, que reúne 22 contos, em que, como o título indica, os gatos são protagonistas.
- O paraíso dos gatos de Emile Zola
- Lillian de Damon Runyon
- A infância de miss Churt de F. R. Buckley
- A gata gorda de Q. Patrick
- A queda do Morning Glory Adolphus de Margaret Cambell
- De como uma gata fez de Robinson Crusoe de Charles G. D. Roberts
- A caça grossa de Ming de Patricia Highsmith
- Os gatos da Srª Bond de James Herriot
- O gato de Dick Baker de Mark Twain
- A gata da minha vida de Derek Tangye
- Kym de Joyce Stranger
- Um sítio óptimo para a gata de Margaret Bonham
- A bandeira azul de Kay Hill
- A história de Webster de P. G. Woodhouse
- Só complicações de Doreen Tovey
- Heathcliff de Lloyd Alexander
- O gato que andava sozinho de Rudyard Kippling
- Um barco carregadinho de graça de Eleanor Mordaunt
- Sobretudo gatos de Doris Lessing
- A dinastia preta e a dinastia branca de Théophile Gautier
- Aspirina, o gato de John Coleman Adams
- A melhor das camas de Sylvia Townsend Warner
Deixamos lhe aqui o convite à leitura com um excerto do conto "O gato que andava sozinho" de Rudyard Kipling.
"Isto passou-se e aconteceu e
deu-se e foi, ó minha Bem-Amada quando os animais domésticos ainda eram
selvagens. O Cão era selvagem, o Cavalo era selvagem e a Vaca era selvagem, a
Ovelha era selvagem e o Porco era selvagem – o mais selvagem possível – e todos
eles andavam nas húmidas florestas selvagens cada qual com os da sua espécie;
mas o mais selvagem de todos os animais selvagens era o Gato. O Gato andava
sozinho e todos os lugares eram iguais para ele.
Claro que o Homem também era
selvagem. Era terrivelmente selvagem. Só começou a ficar domesticado quando
encontrou a Mulher e porque esta não gostava da maneira selvagem como ele
vivia. A Mulher escolheu uma gruta seca e confortável em vez de um monte de
folhas molhadas para dormir e no fundo da gruta fez uma fogueira agradável e
pendurou à entrada uma pele seca de Cavalo Selvagem, com a cauda para baixo e
disse: “Limpa os pés quando entrares para termos a casa em ordem.”
Nessa noite, Bem-Amada, comeram
Carneiro Selvagem assado nas pedras quentes da lareira e temperado com alho e
pimenta brava e Pato Selvagem recheado de arroz bravio e funcho silvestre e
cominhos bravos e ossos de tutano de Boi Selvagem e cerejas bravas e groselhas
silvestres. Depois o Homem foi dormir todo contente junto do fogo mas a Mulher
ficou acordada, sentada, a matutar. Pegou no osso da omoplata do carneiro, o
grande osso chato e largo, ficou a contemplar as maravilhosas marcas que o osso
tinha, pôs mais lenha no fogo e fez uma magia. Fez a primeira Magia Cantante do
mundo.
Lá fora, nas húmidas florestas
selvagens, todos os animais selvagens se reuniram num ponto de onde conseguiam
ver a luz do fogo ao longe e perguntavam a si próprios o que poderia ser
aquilo.
Então o Cavalo Selvagem bateu com
a pata no chão e disse:
- Ó meus amigos e meus inimigos,
porque é que o Homem e a Mulher fizeram aquela grande luz naquela grande gruta
e que mal nos poderá aquilo trazer?
O Cão Selvagem ergueu o focinho e
farejou o cheiro da ovelha assada e disse:
- Vou erguer-me e caminhar, e ver
e ficar lá: porque penso que é bom. Gato, vem comigo.
- Nérias – disse o Gato. – Eu sou
o Gato que anda sozinho e todos os lugares são iguais para mim. Não vou.
- Então não voltaremos a ser
amigos – disse o Cão Selvagem e partiu a trote em direcção à gruta.
Mas passado um bocado o Gato
disse para com os seus botões:
- Todos os lugares são iguais
para mim. Porque não hei-de eu também pôr-me a caminho e ver e vir-me embora?
E assim rastejou em silêncio
atrás do Cão Selvagem e escondeu-se num sítio onde podia ouvir tudo.
Quando o Cão Selvagem chegou à
entrada da gruta soergueu com o focinho a pele de cavalo seca, farejou o
maravilhoso cheiro do carneiro assado e a Mulher ouviu-o, riu-se e disse:
- Aqui vem a primeira coisa
selvagem saída da floresta selvagem. Que queres tu?
O Cão Selvagem disse:
- Ó minha inimiga e mulher do meu
inimigo, que é isto que cheira tão bem na floresta selvagem?
Então a Mulher pegou num osso do
carneiro assado, atirou-o ao Cão Selvagem e disse:
- Coisa selvagem vinda da
floresta selvagem, prova e experimenta!
O Cão Selvagem roeu o osso e era
mais delicioso que qualquer outra coisa que ele comera na vida; disse:
- Ó minha inimiga e mulher do meu
inimigo, dá-me outro.
A Mulher disse:
- Coisa selvagem vinda da floresta
selvagem, ajuda o meu Homem a caçar durante o dia e guarda esta gruta durante a
noite e dou-te todos os ossos assados que quiseres.
- Ah! – disse o Gato que tinha
ouvido tudo – esta Mulher é muito sensata mas não é tão sensata como eu.
O Cão Selvagem rastejou para
dentro da gruta e pousou a cabeça no regaço da Mulher e disse:
- Ó minha amiga e mulher do meu
amigo, eu ajudarei o teu Homem a caçar durante o dia e guardarei a tua gruta
durante a noite.
- Ah! – disse o Gato que tinha
ouvido tudo. – Aqui temos um Cão bem tolo.
E foi-se embora através da húmida
floresta selvagem abanando o rabo, sozinho na sua independência selvagem. Mas
nunca contou nada a ninguém.
Quando o Homem acordou, disse:
- Que está o Cão Selvagem a fazer
aqui?
E a mulher disse:
- O nome dele já não é Cão
Selvagem mas sim Primeiro Amigo porque será nosso amigo para todo o sempre.
Leva-o contigo quando fores caçar. (…)
Leia, porque ler é um prazer!
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