sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Livro do mês: Fúria divina de José Rodrigues de Santos

Fúria Divina é o sétimo romance da autoria de José Rodrigues dos Santos onde história e ficção se misturam em duas histórias paralelas. Temos a história do professor Tomás de Noronha, historiador, professor universitário e criptanalista que é “convidado” pela NEST, uma unidade operacional da CIA criada para localizar, identificar e eliminar material nuclear, a decifrar uma estranha mensagem secreta da Al-Qaeda.
E em paralelo acompanhamos a história de Ahmed, um menino egípcio, que ao longo da vida vai descobrindo os ensinamentos de Alá. Começa por ser instruído pelo mullah Saad, que lhe transmite o carácter pacífico e benévolo do Islão, e mais tarde na madrassa é ensinado por um novo professor que interpreta as palavras do Alcorão à letra.
Como o próprio autor afirma para escrever este romance partiu de duas premissas centrais: “e se a Al-Qaeda tem a bomba atómica? E se o Islão dos fundamentalistas é o verdadeiro Islão?” José Rodrigues dos Santos ao longo das quase 600 páginas deste livro dá-nos uma perspectiva concreta sobre a ameaça nuclear, bem como uma perspectiva realista sobre o que é o fundamentalismo Islão.
Uma história que nos prende e sobretudo nos enriquece com muita informação. Como se pode ler na própria obra “todas as referências técnicas e históricas e todas as citações religiosas incluídas neste romance são verdadeiras”. Há ainda a particularidade do romance ter sido “revisto por um dos primeiros operacionais da Al-qaeda.”

Excerto:

“(…) “Mas também é verdade que a maior parte das guerras são provocadas pelas religiões! Quantas matanças não se fizeram em nome de Cristo?”
“Ordenadas por Cristo?”
“Não, claro que não. Mas em nome dele…”
“Não confunda as coisas”, rectificou Tomás. “Quando um cristão faz a guerra, é importante que perceba que ele está a desobedecer a Cristo. Não foi Jesus que disse que, quando nos batem numa face, devemos dar a outra? Ao recusar-se a dar a outra face e ao optar pela guerra, o cristão está a desobedecer ao seu Profeta, ou não está?”
“Claro que sim.”
“Pois essa é uma importante diferença entre o cristianismo e o islão. É que, no islão, quando um muçulmano faz a guerra e mata gente pode estar simplesmente a obedecer ao Profeta. Não se esqueça de que Maomé era um chefe militar! No islão pode acontecer que o muçulmano que se recuse a fazer a guerra seja precisamente aquele que desobedece ao seu Profeta!”
(…)
“Registe isto que eu lhe vou dizer”, acrescentou o historiador, quase a soletras as palavras. “A maior parte do Alcorão é constituída por versículos relacionados com a guerra.”
O rosto da americana manteve desenhada a incredulidade.
“Isso não pode ser!”, exclamou. “Sempre ouvi dizer que o islão é totalmente pacífico e tolerante.”
“E é, se formos todos muçulmanos. O islão impõe regras de paz e concórdia entre os crentes. O problema é se não formos muçulmanos. Está escrito no Alcorão, creio que no capítulo 48: «Muhammed é o Enviado de Deus. Os que estão com ele são duros com os incrédulos, compassivos entre si.»”

Nota biográfica sobre o autor:

José Rodrigues dos Santos nasceu em 1964 em Moçambique. Doutorado em Ciências da Comunicação, dá aulas na Universidade de Lisboa, é jornalista da RTP e é escritor.

Sem comentários:

Enviar um comentário

O seu comentário é bem vindo! Partilhe as suas ideias sobre livros e escritores, tente seduzir alguém para o prazer de ler!