quarta-feira, 2 de maio de 2012

Sugestão de leitura: O anjo branco de José Rodrigues dos Santos

O Anjo Branco é um romance histórico da autoria do jornalista e escritor José Rodrigues dos Santos. Esta obra é inspirada em factos reais, embora livremente ficcionados, da história recente de Portugal.

Embora retrate episódios embaraçosos de Portugal com as colónias africanas, cuja descrição pode até se revelar chocante para os leitores mais sensíveis, este romance é sobretudo sobre os Portugueses em África.

Tem como personagens principais, entre outros, o médico José Branco e a esposa Mimicas, a irmã Lúcia, a enfermeira Sheila e o Furriel Diogo, sobrinho de José Branco.

José Branco fora viver para Moçambique na década de 1960. Após ter sido destacado para exercer funções em Lourenço Marques, integrado na administração ultramarina, foi transferido para Tete, quase como punição por ter amizades não convenientes ao regime.

Em Tete assume o cargo de director de Hospital e funda o Serviço Médico Aéreo. Empenhado em prestar assistência médica a todos aqueles que dela necessitam, José Branco permanece constantemente na mira da PIDE. Na sequência da sua visita a uma aldeia cuja população foi massacrada pela tropa a fim de prestar assistência médica, José Branco acaba por ser detido.

Mesmo detido José Branco consegue, através de Diogo que o visitou, enviar a sua confirmação da horrenda chacina aos padres espanhóis que já andavam na pista dos massacres.

Ao longo do romance José Branco reflecte repetidamente, recordando os ensinamentos do seu pai, sobre a vida e a morte, o bem e o mal, que conferem à narrativa uma grande riqueza e profundidade.

                “O que quero dizer é que a questão do bem e do mal sempre gerou mais perplexidades do que certezas.” José recostou-se na cadeira. “O que é o bem e o que é o mal? Todos nós intuímos estes conceitos, mas a sua definição precisa escapa-nos. Até hoje”. Apontou para a janela. “Tive a resposta a este enigma no momento em que vi o mal naquela aldeia. Vi-o impregnado nos corpos carbonizados que se espalhavam pelos escombros, vi-o quando me questionei sobre o que levaria os homens a fazerem uma coisa tão cruel. E depois deparei-me com uma criança que saiu viva e intacta de baixo do corpo queimado de uma desgraçada que os soldados quase haviam morto e percebi que há coisas que o mal, por mais que tente, não poderá conquistar. O amor daquela mãe foi mais poderoso do que o mal daqueles homens. Mas só agora, enquanto estava a ouvi-lo a falar, é que consegui transformar em palavras a ideia que desde então me andava a ruminar na mente.” Cravou de novo os olhos penetrantes no seu interlocutor. “Sabe o que na verdade é o mal?”
Sentindo se incomodado com a intensidade daquele olhar, Aniceto Silva abanou a cabeça.
“Ó Doutor, agora não”, disse. “Poupe-me a essa conversa.”
“É a incapacidade de nos pormos no lugar do outro. (…)”
Excerto do livro
Este é um livro que sem dúvida vale a pena ler.

Leia, porque ler é um prazer!

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