terça-feira, 7 de abril de 2009

A Concubina Russa





A Concubina Russa
De Kate Furnivall
Porto Editora, 2008
ISBN: 978-972-0-04167-8




Lydia e sua mãe Valentina refugiam-se em Junchow (cidade imaginária), na China, após a prisão de Jens quando fugiam da Rússia Bolchevique.
Sozinhas sobrevivem num meio profundamente hostil, numa sociedade onde a cultura ocidental e oriental se chocam permanentemente. Valentina profundamente abalada com a prisão de seu marido vive entre o álcool e a sua paixão pela música.
A coragem e a inteligência de Lydia levam-na a recorrer às formas mais audazes como o roubo e a mentira a fim de proporcionar à mãe, filha de aristocratas russos despojados das suas riquezas com a revolução comunista, algum conforto e a própria sobrevivência.
A China vive momentos de extrema instabilidade nesta fase pré-comunista com numerosas tríades chinesas que semeiam o terror, entre tráfico de ópio e ferozes lutas internas.
Lydia conhece Chang, que é pró - comunista, numa situação extremamente perigosa em que ele a salva de cair nas mãos de um dos mais terríveis grupos de tríades. Mais tarde é ela que lhe salva a vida e um grande amor nasce entre eles.
É este amor que desafia todas as convenções, um amor proibido entre pessoas com marcas civilizacionais absolutamente diferentes, que preenche o enredo deste livro.
Violência, terror, traição, mas também amor e amizade fazem deste romance um livro que vale a pena ler.

“Ela afastou com os dedos uma das madeixas do seu cabelo rebelde que se tinha soltado do chapéu e reparou na ligeira inspiração do desconhecido e na suavização dos cantos da boca deste enquanto a observava. Ele levantou a mão e ela ficou convencida de que estava prestes a tocar-lhe com os dedos nas chamas dos cabelos, mas, em vez disso, apontou para o velho que tinha rastejado para a sombra de uma entrada. A um canto desta estava um pote de barro negro, com a boca larga tapada por uma rolha do tamanho de um punho. Dobrado sobre si mesmo com a dor, o homem agarrou no pote e, com um grito de raiva que lhe levou saliva aos lábios, atirou-o ao chão para a frente de Lydia e do seu salvador.
Lydia deu um salto para trás quando o pote se desfez em cem pedaços e, depois, as suas pernas fraquejaram de medo quando viu o que tinha saído lá de dentro.
Uma serpente, negra de azeviche e com mais de um metro de comprimento. Bastaram alguns segundos para a criatura se arrastar cautelosamente na direcção de Lydia, com a cabeça bifurcada a sentir o medo dela no ar. Mas, de repente, a sua cabeça descreveu um arco largo e desapareceu ao dirigir-se a uma das fendas na parede. Lydia quase sufocou de alívio. Jamais esqueceria aqueles instantes.
Voltou a olhar para o jovem e ficou espantada ao ver que o rosto dele tinha ficado pálido e rígido. O olhar dele não incidia, porém, sobre a serpente. Estava fixo no velho diabo agachado à entrada, que os fitava com malícia e algo parecido com triunfo no olhar.
Sem baixar os olhos, o jovem chinês disse, com uma voz rápida e urgente:
- Tens de fugir.
Lydia fugiu."

1 comentário:

  1. Já li este livro e achei-o bastante envolvente! Foi o meu primeiro contacto com a obra desta escritora, achei que possui uma forma de escrever muito "visual", o que acaba por levar-nos com mais facilidade para o "interior" da história!

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