Sputnik, meu amor é um relato íntimo sobre o desejo humano e o destino.
As personagens que povoam este romance são três: K., um jovem professor primário, Sumire, uma jovem aspirante a escritora e Miu, uma mulher casada de meia-idade e aspecto requintado.
K. nutre por Sumire uma grande paixão, porém esta não é correspondida, não obstante são grandes amigos e confidentes um do outro.
“Eu estava apaixonado por Sumire. Sentira-me atraído por ela logo na primeira vez em que falámos e rapidamente ela passou a ser a coisa mais importante na minha vida. (…) Por mais de uma vez tentei confessar-lhe o que me ia na alma, mas, não sei bem por que razão, via-me e desejava-me para traduzir os meus sentimentos nas palavras adequadas.”
Sumire abandonara a universidade após dois anos infrutíferos e com o objectivo de se tornar uma verdadeira escritora, mas não consegue encontrar inspiração para escrever, muito menos depois de conhecer Miu, por quem se apaixona perdidamente.
“Na Primavera dos seus vinte e dois anos, Sumire apaixonou-se pela primeira vez na vida. Foi um amor intenso como um tornado (…) A pessoa por quem Sumire se apaixonou, além de ser casada, tinha mais dezassete anos do que ela. E, devo acrescentar, era uma mulher.”
Pouco depois de se conhecerem, Miu convida Sumire para ser sua assistente pessoal. Sumire começa a deixar influenciar-se por Miu, muda a sua forma de vestir e de estar e até as suas prioridades na vida.
“-Nesta fase da tua vida, e mesmo que dediques dia e noite ao teu romance, não creio que consigas escrever alguma coisa de jeito – disse Miu, num tom calmo mas firme. – É óbvio que tens talento e estou certa de que um dia serás uma escritora extraordinária (…) mas ainda não estás preparada. (…) anda trabalhar comigo. É o melhor que tens a fazer e, quando sentires que chegou a hora, não hesites: deixa ficar tudo para trás e escreve os romances que te ditar o coração.”
A trabalho Sumire acompanha Miu numa viagem até à Europa, visitam alguns lugares na Itália e na França, e acabam por ir parar a uma ilha grega, onde resolvem ficar durante alguns dias a desfrutar de umas merecidas férias.
“(…) Aqui estou eu, a fazer uma viagem pela Europa na companhia de Miu. Por motivos de trabalho, Miu tinha pensado ir sozinha durante quinze dias dar uma volta por terras de Itália e França, mas acabou por pedir que viesse com ela na qualidade de secretária particular.”
Mas depois de uma noite em que finalmente, Sumire ganha coragem para demonstrar a sua paixão por Miu, esta desaparece sem deixar rasto. Miu, resolve então contactar K. que se mete quase de imediato num avião e depois de várias ligações chega finalmente à ilha. Juntos encetam a procura por Sumire.
“Aquela mulher amava Sumire, mas não sentia por ela desejo sexual. Sumire amava aquela mulher e, mais, desejava-a. Eu amava Sumire e desejava-a. Sumire gostava de mim, mas não me amava nem tão pouco sentia desejo sexual por mim. (…) era tudo muito complicado. Mais parecia o enredo de uma peça de teatro existencialista. A história acabava ali, num impasse. Não havia alternativa possível e Sumire tinha abandonado o palco sozinha."
É assim que as três personagens acabam por se interligar numa teia de afectos desencontrados, envolvendo-nos nas suas vidas e pensamentos, oferecendo uma profunda reflexão sobre a solidão, os sonhos e as aspirações do indivíduo.
Um romance que cativa desde a primeira página e que frequentemente nos obriga a parar para pensar.
Murakami é um escritor soberbo e, sem dúvida, um dos melhores escritores japoneses da actualidade - provavelmente o melhor. Comparam-no a Kafka, mas há qualquer coisa nele de Kenzaburo Oe, daquela atmosfera suspensa que o Japão parece surtir.
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