sexta-feira, 6 de novembro de 2015

À espera de Godot de Samuel Beckett

Encontramos dois velhos compagnons de route Estragon e Vladimir (afectuosamente Gogo e Didi), personagens desabrigadas que acreditam no início desta peça de teatro que quanto maior a espera maior a recompensa em alívio e assombro.

Entram em cena Pozzo, de chicote, que dá corpo á cruel natureza humana e Lucky, personagem que com o tempo se tornou servil, preso por uma corda, escravo desfigurado que nunca larga a carga e só obedece a Pozzo.

Existe uma reflexão sobre o género teatral. As personagens Vladimir e Estragon ‘vêm-se de fora’. Mais tarde há um jogo com a plateia quando Vladimir indica esta como ponto de fuga. Estragon recua horrorizado. Vladimir examinando o público responde “Compreendo o teu medo.” Adereços muitas vezes referidos são as botas e chapéus a lembrar Charlie Chaplin.

O 1º acto encerra com a entrada em cena de um enviado do Sr. Godot com a notícia do adiar da vinda.

O que une Gogo e Didi, eles que se encontram sitiados, é o companheirismo, a resiliência e a espera. Há um breve diálogo poético, um exemplo da cadência ritmada do texto. Há uma breve compreensão da condição humana e isso traz paz. Cito “E se passássemos a considerar-mo-nos felizes?” Mas logo se segue a pergunta que em cada época desde que esta peça estreou em 1953 tem as suas respostas. “De onde vêm todos estes cadáveres?”

No regresso de um Pozzo cego Vladimir pergunta “O que fazem quando caem?” ao que Pozzo responde “Esperamos até sermos capazes de nos levantar. Depois recomeçamos a caminhada.” Pozzo e Lucky, dois errantes em contraste com a imobilidade de Vladimir e Estragon.

À Espera de Godot, Godot com maiúscula, de raiz God, Deus em inglês. Á espera de um deus que lhes valha em súplica vaga. ... ou um portuguesíssimo D.Sebastião...

À espera de Godot que em sucessivas encenações toma também a forma de espera económica, política ou social. De quem á mercê das circunstâncias espera uma intervenção.




Nota biográfica:

Samuel Beckett (1906-1989) nasceu na Irlanda e foi na sua juventude secretário de James Joyce. Durante a Segunda Guerra Mundial viveu em Paris, tendo optado no pós-guerra pelo francês como língua de expressão literária. As suas obras expressam o absurdo da condição humana e o seu niilismo radical só será compensado pelo humor. Dos seus romances destacam-se Murphy, Molloy ou O Inominável; das obras de teatro, À espera de Godot, Fim de partida ou Dias felizes… obras despojadas dos elementos formais do teatro que tentam penetrar na circunstância elementar da pessoa.

Obras do autor disponíveis na rede de Bibliotecas do Concelho de Arganil:

Malone está a morrer. 1ª ed. Lisboa : Dom Quixote, 1993. 187 p. ISBN 972-20-1129-4

Dias felizes. 2ª ed. Lisboa : Estampa, D.L. 1989. 84, [1] p. ISBN 972-33-0833-9

À Espera de Godot ; Fim de Festa ; A Última Gravação. Lisboa : Arcádia, [19-?]. 233 p.

Fim de partida. [S.l.] : Bibliotex Editor, 2003. 94 p. ISBN 84-96180-19-0

Leia, porque ler é um prazer!

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