Lisboa: Portugália, [198-?] |
Não
és tu
Era
assim, tinha esse olhar,
A mesma
graça, o mesmo ar,
Corava
da mesma cor,
Aquela
visão que eu vi
Quando
eu sonhava de amor,
Quando
em sonhos me perdi.
Toda assim;
o porte altivo,
O semblante
pensativo,
E uma
suave tristeza
Que por
toda ela descia
Como um
véu que lhe envolvia,
Que lhe
adoçava a beleza.
Era assim;
o seu falar,
Ingénuo
e quase vulgar,
Tinha
o poder da razão
Que penetra,
não seduz;
Não era
fogo, era luz
Que mandava
ao coração.
Nos
olhos tinha esse lume,
No seio
o mesmo perfume,
Um cheiro
a rosas celestes,
Rosas
brancas, puras, finas,
Viçosas
como boninas,
Singelas
sem ser agrestes.
Mas
não és tu… ai! não és:
Toda a
ilusão se desfez.
Não és
aquela que eu vi,
Não és
a mesma visão,
Que essa
tinha coração,
Tinha,
que eu bem lho senti.
Almeida Garrett in Folhas caídas
Fonte: www.wook.pt
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