segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019

Tempo para a poesia XLVI

Lisboa: Portugália, [198-?]

Não és tu

Era assim, tinha esse olhar,
A mesma graça, o mesmo ar,
Corava da mesma cor,
Aquela visão que eu vi
Quando eu sonhava de amor,
Quando em sonhos me perdi.

Toda assim; o porte altivo,
O semblante pensativo,
E uma suave tristeza
Que por toda ela descia
Como um véu que lhe envolvia,
Que lhe adoçava a beleza.

Era assim; o seu falar,
Ingénuo e quase vulgar,
Tinha o poder da razão
Que penetra, não seduz;
Não era fogo, era luz
Que mandava ao coração.

Nos olhos tinha esse lume,
No seio o mesmo perfume,
Um cheiro a rosas celestes,
Rosas brancas, puras, finas,
Viçosas como boninas,
Singelas sem ser agrestes.

Mas não és tu… ai! não és:
Toda a ilusão se desfez.
Não és aquela que eu vi,
Não és a mesma visão,
Que essa tinha coração,
Tinha, que eu bem lho senti.

Almeida Garrett in Folhas caídas

Nota biográfica: Almeida Garrett nasceu no Porto, a 4 de Fevereiro de 1799, e faleceu em 1854, aos 55 anos de idade, em Lisboa, sendo considerado uma figura de incomparável talento na literatura portuguesa e um dos mais geniais escritores portugueses. Escritor com uma obra variada (poeta, dramaturgo, romancista), Garrett foi ainda um homem dedicado à política (diplomata, deputado, ministro), um orador exímio, soldado, juiz, cronista-mor do reino, perdido de amores e um verdadeiro dandy.

Fonte: www.wook.pt

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