O verdadeiro Natal
A época de Natal aproximava-se a passos largos. A azáfama já se fazia sentir em cada um dos habitantes daquela casa.
Fizeram a Árvore de Natal no inicio do mês de Novembro. Colocaram bolas das mais variadas cores, fitas reluzentes e luzes que piscavam incessantemente .
Tanto os pais, como os três filhos mais velhos, ninguém tinha, em si interiorizado o verdadeiro espírito e significado do NATAL.
Os fins-de-semana eram ansiosamente esperados para que a família fosse em correria louca enfiar-se dentro do Centro Comercial da cidade mais próxima, percorrendo tudo quanto é loja, alimentando o seu espírito altamente consumista e escolhendo quais as prendas que queriam receber.
A dada altura, era possível ouvi-los comentar entre si:
“ - já escolhi a minha prenda. Já tenho tudo aquilo que queria. Agora é só colocar os embrulhos junto da árvore e já está”.
Para um, era um tablete de última geração, para outro, eram uns ténis da marca mais em voga no momento, para outro era um telemóvel topo de gama…enfim , cada um era superior ao outro…
Mas, o mais novo nunca escolhia nada, dizia sempre que para ele o importante era a surpresa.
No último fim-de-semana, antes do Natal, andavam eles todos numa agitação indescritível quando alguém lhes bate à porta.
O mais novo da casa correu a ver quem era e ao deparar-se com uma figura masculina, de porte altivo e desconhecido, deu três passos atrás e gritou pela mãe.
Esta veio de imediato e ao ver o homem perguntou: - o que deseja da nossa casa?
Sem demoras o homem respondeu que apenas batera para saber como seria ali o Natal, pois andava a realizar um inquérito ao serviço do Ministério do Amor.
- Ministério do Amor! – exclamou a mãe. Nunca tal coisa ouvi falar!
- Pois, acredito que não! Hoje, pais e filhos, na sua grande maioria, só conhecem o Ministério do Comércio. Esse que lhes esgota os bolsos, as contas bancárias e que apenas dá como troco uma imensa torre de papéis de embrulho, fitas, laços e muitas vezes objetos que são responsáveis pela degradação da vida em família. – afirmou o homem.
A senhora, um pouco perplexa com aquela atitude do homem, mas ciente de que ele até tinha alguma razão naquilo que afirmava, chamou o marido e este convidou o visitante a entrar para que tranquilamente conversassem .
A conversa decorreu junto à lareira da casa onde crepitavam uns troncos de uma árvore que havia sido parcialmente destruída pelos incêndios do verão anterior.
O homem, olhava atentamente aquela mescla de cor emanada pelas chamas e simultaneamente procurava ver onde estava o Presépio da casa. Como não vislumbrasse Presépio algum, ousou perguntar:
- Na vossa casa só se faz a árvore e não se faz Presépio?
Apressadamente, os miúdos responderam em coro: “Para que queremos nós o Presépio? O Importante são os nossos presentes (que já sabemos quais são) e a árvore para os colocar lá debaixo”
Os pais não ousaram dizer palavra, eles sabiam que eram os grandes responsáveis pela atitude dos filhos.
Naquela casa fez-se um silêncio profundo que só foi quebrado pela intervenção do filho mais novo, que falou assim para o visitante:
- eu sou o mais novo e sou aquele que não escolho prenda. Sou o único que pergunto à mãe a razão de não termos um Presépio como o da casa dos avós, mas a resposta é sempre a mesma, “isso já não se usa, meu filho”.
O homem, olhando fixamente aquela criança, sentiu deslizar-lhe no rosto, uma lágrima que lhe parecia quente e fria em simultâneo. Fria, como o espírito de Natal daquela família e quente, como o coração daquele pequenino a quem não prestavam atenção. E ao mesmo tempo que a lágrima deslizava, ele sorrateiramente abandonava aquela casa .
Naquele instante, como que por magia, ouviu-se um barulho que parecia descer do teto para o chão… todos olharam em redor, e, eis senão quando bem junto à lareira o Mais Belo Presépio apareceu, ao pé dele seis pequenos embrulhos (sem laços, nem fitas, mas cheios de amor e carinho).
Os pais e os filhos mais velhos não sabiam o que dizer, mas o mais novo, não cabia em si de tanta felicidade e agarrando-se à mãe exclamou:
- Afinal, sempre se usa o verdadeiro Natal!
Graça Moniz (Natal de 2019)
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