Depois de ter passado quinze anos na prisão, Luciano Mascalzone regressa a Montepuccio, uma pequena aldeia do sul de Itália onde as horas passam debaixo de um calor inclemente. Luciano vem à procura de Filomena Biscotti, uma mulher que desde a juventude deseja profundamente, mas ignora ainda que quem lhe abrirá a porta de casa e se deixará violar será Immacolata, a irmã mais nova de Filomena. Espancado pelos habitantes da aldeia, Luciano morre sem saber que Immacolata dará à luz um filho, o primeiro elo da linhagem dos Scorta…
Com uma imaginação que atingiu o seu esplendor e com a musicalidade de um estilo único, Laurent Gaudé conta-nos a existência dos Scorta de 1870 aos nossos dias, num fresco fabuloso que obteve em 2004 o mais importante prémio literário francês, o Goncourt.
"O amor, a morte, o exílio, o orgulho, toda a força de carácter das personagens fazem desta crónica uma obra-prima. Laurent Gaudé alcançou aqui o seu maior romance. A sua força de evocação é extraordinária. Inesquecível!"
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"Luciano penetrou em casa dos Biscotti. E isto ia custar-lhe a vida. Ele sabia-o. Sabia que, quando saísse daquela casa, as pessoas estariam de novo nas ruas, teria recomeçado a vida, com as suas leis e as suas lutas, e ele teria de pagar. Sabia que não o reconheceriam. E que o matariam. Voltar aqui, a esta aldeia, e entrar nesta casa, valia-lhe a morte. Pensara em tudo isto. Decidira chegar a esta hora esmagadora em que o sol até os gatos cega, porque sabia que, se as ruas não estivessem desertas, nem sequer teria podido alcançar a praça principal. Sabia tudo isso e a certeza da desgraça não lhe provocou nenhum estremecimento. Penetrou na casa.
Os seus olhos levaram tempo a habituar-se à penumbra. Ela voltara-lhe as costas. Ele seguiu-a por um corredor que lhe pareceu interminável. Depois, entraram num pequeno quarto. Não se ouvia nenhum barulho. A frescura das paredes pareceu-lhe uma carícia. Tomou-a nos braços. Ela nada disse. Despiu-a. Quando a viu nua, assim, à sua frente, não conseguiu reprimir um murmúrio: «Filomena…» Todo o corpo dela estremeceu. Ele nem prestou atenção. Sentia-se cumulado. Fazia o que jurara fazer. Vivia a cena mil vezes imaginada. Quinze anos de prisão a pensar unicamente naquilo. (…)"
Laurent Gaudé nasceu em Paris em 1972. Dramaturgo e romancista, obteve em 2004 o Prémio Goncourt com o romance O Sol dos Scorta. Publicado em 34 países, tem também traduzidos em Portugal os seus livros A Morte do Rei Tsongor (2002), Eldorado (2006) e Noite Dentro, Moçambique (2007), além de A Porta dos Infernos (2008), já publicado pela Porto Editora.
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