segunda-feira, 11 de junho de 2012

Novidade na Biblioteca: Nó cego de Tomaz de Figueiredo

Nó cego de Tomaz de Figueiredo
Lisboa: Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 2002

Publicado pela primeira vez em 1950, serve de cenário a Nó Cego a buliçosa Coimbra dos anos 20 – a Coimbra da geração da presença, onde o autor estudou. Nesta obra está presente a capacidade romanceadora e o domínio da linguagem de Tomaz de Figueiredo, bem como a sua capacidade de apresentar várias variações para um mesmo tema. Nó cego, apesar de publicado 3 anos depois de A Toca do Lobo, é o primeiro romance do autor

“Neste romance conhecemos por dentro uma típica família burguesa, respeitável a olhos estranhos, mas que asfixia alguns dos seus membros, os menos astutos ou mais idealistas, como o pai e o filho, João Bravo, o protagonista. O qual, inadaptado à vida, a atravessa como um deserto. O pai, Adriano, é um ser amarfanhado, debatendo-se entre as aflições de dinheiro e a humilhação de depender de um cunhado de posses, Beto, que por isso, de tudo põe e dispõe. Não é ele que financia os estudos do sobrinho, primeiro no colégio e depois na universidade? A irmã, mulher de Adriano e mãe de João Bravo, é a quinta-essência da burguesa, muito ritualmente devota, mais atenta à palavra que ao espírito, toda puritana e com preconceitos de casta, e dogmática e sentenciosa com o mano Bento. Domina o marido, que não é ouvido e achado em nada, e de tanto querer proteger o filho, sempre debaixo da sua asa, o não deixa respirar nem ser ele mesmo. Assim, entre mãe e filho não se estabelece uma saudável relação afectiva, e é com o pai que ele se entende, numa cumplicidade sem palavras.

Eis as personagens, eis o quadro de uma família radiografada na sua intimidade. Sem irmãos, João não pode brincar com outros meninos, porque isso lhe é defeso pela mãe, por não serem da sua condição. Não lhe é permitido conviver na cozinha com as criadas, que acarinham o seu menino, porque de lá o expulsa a sua mãe, zelosa em preservar o estatuto do filho: cada qual no lugar que lhe compete. Refugia-se o menino no seu mundo, o sótão e o quintal, entregue ao seu sonho e à sua solidão. (…)

Contrariando essa tradição de toda uma literatura coimbrã que, mesmo que não se esgote na pitoresca evocação da boémia estudantil, e vá mais longe e mais fundo ao retratar uma juventude que procura e se procura, nas encruzilhadas da cultura da arte e do amor, Nó cego desce a um poço de agonias, poço tão cavado que sufoca qualquer grito. O drama de João Bravo é o de, no seu autismo, não soltar sequer um grito e recusar mãos que talvez se estendessem para o ajudar.”

Excerto da Introdução de João Bigotte Chorão

Mais informação sobre a obra:

Ferreira, António Manuel - Naufragar é preciso: os laços de nós cego

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