segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Livro do mês: A paz enfurecida de Ascêncio de Freitas

Os velhos moçambicanos do futuro começarão assim esta história:
«Sabem quando foi?... Foi no tempo da paz enfurecida. No tempo da guerra e da fome, em que vestíamos ventos de medo e dormíamos no frio da terra dura e seca. O tempo da dor feita revolta, confusão e sacrifício. O tempo das mortes injustas e inúteis. Já sabem, portanto, quando foi. Tudo aconteceu quando a nossa pátria estava ainda nascendo e os generosos e grandes de espíritos deram o seu sangue para que hoje possamos viver felizes. Por isso, se eles nos deram o seu sangue, nós devemos retribui-lhes com a simples glória de os lembrar.»

Neste romance, Ascêncio de Freitas apresenta-nos um sentido e trágico contraponto entre a generosidade e o egoísmo, entre a alegria e a dor, entre o amor fraterno e a traição, entre o preconceito racista e o oportunismo, entre o fervor da esperança e a mais amarga desilusão, entre a mesquinha ambição e os mais elevados valores universais do homem - constante pano de fundo de «A Paz Enfurecida» que se viveu durante os anos da guerra civil em Moçambique.

Trata-se de um romance recheado de uma surpreendente riqueza de pormenores históricos, servido pela particular expressividade da narrativa oral africana, onde as constantes interrogações prendem o leitor a uma exigência absoluta de respostas para as mais cruciais dúvidas sobre a generosidade e a humanidade daquele que – pela desmedida da sua insensatez – dizem ter sido feito «à imagem de Deus».

Fonte: contra-capa do livro

Nota biográfica:

Ficcionista e jornalista português, Ascêncio Gomes de Freitas nasceu em 1926, em Gafanha de Nazaré, distrito de Aveiro, Portugal.
Aos 22 anos, partiu para Moçambique, onde viveu durante trinta anos. Em 1978, regressou a Portugal, estabelecendo-se em Setúbal. Colaborou em jornais e revistas, tais como A Voz de Moçambique, Paralelo 20 e África.
Publicou o seu primeiro livro, Cães da Mesma Ninhada, em 1960. Em 1999, foi bolseiro do Instituto Português do Livro e das Bibliotecas, o que lhe permitiu escrever o romance A Paz Enfurecida (2003). Recebeu o Prémio Vergílio Ferreira, em 1999, pela sua obra A Reconquista de Olivença (1999), o Prémio PEN Club Português, em 2000, pelo livro O Canto da Sangardata (2000), e o Prémio Literário Ferreira de Castro da Câmara Municipal de Sintra, em 2002, com a obra A Noite dos Caranguejos (2003). Com um pleno domínio da linguagem e com um grande sentido estrutural, as narrativas de Ascêncio de Freitas evocam, com um realismo arrebatador, as terras e o quotidiano africanos.


Nota: o livro apresentado encontra-se disponível para empréstimo na Biblioteca Municipal de Arganil.

Leia, porque ler é um prazer!

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